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Discussão sem sentido

Comecemos pelo óbvio: nem o mais radical adversário do presidente Lula será capaz de negar sua inteligência, sua capacidade

Por Carlos Brickmann
13/01/2010 | 00:00
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Comecemos pelo óbvio: nem o mais radical adversário do presidente Lula será capaz de negar sua inteligência, sua capacidade de comunicação e seu senso político. Segundo fato óbvio: no governo Lula acontece de tudo, menos o que Lula não quer. Então, por que há confusão no caso dos Direitos Humanos? O fato é que, para saber exatamente o que aconteceu durante o regime militar, não é preciso nomear comissão nenhuma: basta abrir os arquivos do governo que os pesquisadores universitários descobrirão fato por fato. Por que, então, misturar-se a questão da busca da verdade histórica com a possibilidade de revisão da Lei de Anistia, da legalização do aborto, da regulamentação do casamento homossexual, da acusação de que o agronegócio vai contra os direitos humanos, da maior dificuldade na reintegração de posse de áreas invadidas, nas ameaças às empresas geradoras de tecnologia, só faltando o debate sobre o sexo dos anjos? Cada uma dessas questões tem prós e contras, cada uma dessas questões merece discussão - uma discussão que não pode ocorrer quando todos os temas são misturados, picados e enfiados no liquidificador. Ninguém melhor do que o presidente Lula sabe disso: quando não se quer discutir um tema, nada mais eficiente do que juntá-lo a outros, gerando tal confusão que a coisa fica adiada. É provável, portanto, que o governo tenha gerado este debate inviável exatamente por saber que é inviável; que seu objetivo tenha sido adiar alguma discussão que, esta sim, poderia gerar uma grande crise. Como a abertura dos arquivos.

O QUE É SECRETO...
Desmentir a tese é simples: basta abrir os arquivos do período da ditadura (aliás, seria interessante abrir todos os arquivos antigos. Manter em segredo os papéis da Guerra do Paraguai é ridículo). Mas talvez haja alguns problemas. Deve haver personagens acima de qualquer suspeita, de ambos os lados, que não apreciariam a divulgação de suas atividades antigas. Deve haver gente que mudou de lado - ou seria o Cabo Anselmo o único vira-casaca do País? E infiltrados, será que só o Cabo Anselmo fez isso?

...É SEGURO
Há muitas perguntas sem resposta e a liberação dos documentos oficiais ajudaria a respondê-las. A distribuição dos dólares contidos no cofre retirado da casa da antiga amante do governador Adhemar de Barros, por exemplo; as contribuições de países estrangeiros à guerrilha brasileira; o destino dos objetos de valor pertencentes às pessoas aprisionadas pelos órgãos de segurança. Há mais: como se montaram as ligações entre o pessoal da repressão e o crime organizado? Será verdade que os presos políticos ajudaram os presos comuns a se organizar, ganhando eficiência? Pode-se imaginar que muita gente não queira saber as respostas. É por isso que o segredo, entra governo sai governo, se mantém: por conveniência.

RAFALE NA CABEÇA
A informação divulgada por esta coluna após o 7 de setembro, quando o governo determinou que a Aeronáutica concluísse os estudos sobre os três caças supersônicos em disputa, continua válida: deu Rafale. O francês custa mais, tem a hora de voo mais cara, não foi vendido para nenhum outro país, mas integra a parceria estratégica com a França, junto com o submarino nuclear, os submarinos comuns, o estaleiro para novos submarinos. É provável que a negociação seja concluída ainda neste primeiro trimestre.

BRINCANDO DE COMBUSTÍVEL
Houve época em que praticamente todos os automóveis fabricados no Brasil eram a álcool. Terminou por dois motivos: primeiro, a abertura às importações de veículos; segundo, a falta de segurança no abastecimento de álcool, que quase foi abandonado, mas ressurgiu com a violentíssima alta do petróleo e a tecnologia flex, que dá aos proprietários a segurança de abastecimento, mesmo que falte álcool. O petróleo já caiu de preço; o governo passou a dar muito mais atenção ao pré-sal do que ao álcool; e temos novamente crise de abastecimento, que faz com que o quilômetro rodado com álcool custe mais do que quando se usa gasolina. Os usineiros, como na crise anterior, preferem fazer açúcar, cujo preço deu boa subida. Moral da história: usineiro não perde oportunidade de ampliar os ganhos presentes, mesmo à custa do mercado futuro.




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