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Guerra vira diversão rentável
Por Luís Felipe Soares
Do Diário do Grande ABC
17/01/2010 | 07:01
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O mais recente fenômeno do entretenimento não se trata de um filme, um novo CD ou um recente programa da televisão. O que tem chamado a atenção no mundo da cultura pop é o jogo Call of Duty: Modern Warfare 2 (R$ 249), novo capítulo da respeitada e popular série de guerra Call of Duty. Lançado no fim do ano passado para as plataformas Xbox 360 e PlayStation3, vendeu em seu primeiro dia nas lojas 4,7 milhões de unidades - isso somando apenas o mercado dos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá.

Foram as melhores 24 horas de qualquer produto lançado pelos diferentes meios de entretenimento, com a produtora norte-americana Activision embolsando do dia para a noite receita de US$ 310 milhões. Nos primeiros cinco dias os números chegaram a US$ 550 milhões. Hoje, a marca atingida passa do US$ 1 bilhão.

Mas o que torna o game tão chamativo? "Call of Duty é uma série de prestígio desde quando nasceu, em 2003. O grande atrativo é o fato de tomar a pele de um soldado em meio à uma guerra fictícia que é, ao mesmo tempo, muito ligada à realidade", explica Flávio Croffi, jornalista especializado em games. "O fenômeno se deu muito pelo seu marketing, juntamente com o sucesso que o título anterior da série obteve".

No game em primeira pessoa, o jogador comanda personagens que viajam pelo mundo por paisagens como Rússia, Estados Unidos, Afeganistão e Cazaquistão, além de visita à Estação Espacial Internacional, em combates de guerra.

O jogo demorou dois anos para ser elaborado e custou mais de US$ 50 milhões para ser produzido. Ele contou com a participação de uma equipe com cerca de 100 pessoas. Esse número refere-se apenas aos envolvidos na parte eletrônica, sem levar em conta, por exemplo, integrantes do projeto relacionados a dublagem dos personagens e o compositor alemão Hans Zimmer, ganhador do Oscar de melhor trilha sonora por diversas vezes, que desenvolveu composições exclusivas para o projeto .

"É um jogo de guerra como qualquer outro, mas com uma atenção e verba excepcionalmente grandes dedicadas a roteiro, dublagens e design, entre outros elementos", diz Fabio Bracht, editor do blog Continue, destinado ao mundo dos games.

O grande investimento na sua produção se reflete na forma como o universo dos games é visto nos dias de hoje. O setor ganhou respeito e move bilhões de dólares anualmente.

A chegada da recente geração de videogames foi fundamental para o bom momento do mercado e, em especial, do jogo em questão. "Essa é a geração de mais sucesso, mais marketing e mais dinheiro rolando. Ela conta com técnicas fantásticas de gráficos e de reprodução de um enredo jamais vistas", comenta o jornalista.

GUERRA NO BRASIL
Além de todo o fenômeno envolvendo Modern Warfare 2, chama a atenção o fato de que uma das fases se passe no Rio de Janeiro. O objetivo é subir determinada favela carioca em busca de terroristas estrangeiros escondidos no local.

A participação do cenário nacional tem causado diferentes reações. Segundo Croffi, os fãs não ligam para esse tipo de ‘homenagem' e estão mais preocupados em se divertir em qualquer campo de batalha.

Já Bracht vê com bons olhos a iniciativa. "O brasileiro se sente excluído do mundo dos games. É sempre uma boa sensação quando um jogo, principalmente um desse porte, traz a imagem do Cristo Redentor ao fundo e alguns personagens falando em português." Resta saber se os cariocas gostaram ou não de sua participação.

 ‘Você se sente acuado o tempo todo'

O fenômeno criado em torno do lançamento de Call of Duty: Modern Warfare 2 se deve muito ao apreço dos fãs. Um deles é o analista de sistemas Rafael Nicolau, de Santo André, que não demorou muito para comprar seu exemplar para o Xbox 360 do jogo.

"Sempre gostei de jogos de guerra e o estilo first person shooter (tiro em primeira pessoa) inovou o mercado. É um gênero muito envolvente", comenta o rapaz, que busca manter uma média de ficar com o controle nas mãos cerca de duas vezes por semana, duas horas ao dia.

O avanço do sistema de inteligência artificial promovido pelo game foi uma das características que lhe chamaram a atenção. Segundo Rafael, o desafio do game é impressionante. "No decorrer do jogo você consegue pegar as manhas dos personagens e prever suas ações, mas a cada vez que eu jogo os inimigos parecem encontrar um novo meio de me cercar", diz.

Além de brincar com milhões de jogadores em todo o mundo pelo sistema on-line da plataforma, ele conta com a companhia do pai, Carlos Alberto Nicolau, para concluir as diversas missões antiterroristas. Fã de games desde a adolescência, ele utiliza o filho para se manter informado em relação aos últimos lançamentos do mercado: "Essa paixão vem desde a infância. Comecei com 15 anos e hoje, com 45, ainda jogo bastante".

O fato de o Brasil fazer parte da ação torna a experiência mais atrativa para o veterano jogador. "Deixa mais interessante, pois nas favelas há detalhes bem legais, como o Cristo Redentor e o Corcovado. Apesar do sotaque dos brasileiros ser meio espanhol, essa fase é muito bem elaborada", diz Carlos Alberto.

Rafael faz questão de ressaltar que não há nada de mais nessa participação carioca no jogo norte-americano. Ele vê a situação apenas como fictícia. Mas a movimentação dos inimigos na tela traz à tona questões da vida real. "Você se sente completamente acuado o tempo todo. Isso nos dá uma ideia de como os policiais tem dificuldade para trabalhar nesses lugares", comenta.




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