Nos últimos meses, temos recebido notícias na mídia de muitos acidentes automobilísticos. A partir desses acidentes foram elaborados laudos que muitas vezes geram polêmica e apresentam resultados estranhos e, geralmente, com controvérsias entre peritos.

Os laudos são normalmente baseados em imagens de câmeras de prédios ou empresas que se tornam a principal fonte para a elaboração de cálculos sofisticados baseados na física.

Neste sentido, vamos fazer algumas analogias. Uma calculadora fornece resultados confiáveis quando a alimentamos com os dados corretos; caso um dos fatores inseridos esteja errado, o resultado também será. No caso das perícias, o caso é bem semelhante. De que adiantam softwares de última geração que possibilitem resultados maravilhosos se os dados inseridos podem ser reais ou não. Teremos, sem dúvida, resultados diferentes se os dados iniciais forem diferentes e, ainda pior, se forem tendenciosos.

Desta forma, utilizando um mesmo acidente e um mesmo programa de computador como embasamento, poderemos concluir que um determinado veículo percorreu um trajeto a 50 km/h ou 120 km/h. Tudo depende dos dados inseridos para cálculo e as tolerâncias admitidas no estudo.

Além disso, nem sempre só a velocidade é suficiente para determinar a possível causa de um acidente, a perícia deverá ser aprofundada analisando o estado geral do veículo e seus componentes, possíveis trajetórias que o veículo tenha percorrido, tecnologias embarcadas e os choques que recebeu ou receberam no caso de mais de um veículo envolvido.

Mais recentemente, um caso no qual um veículo marca Land Rover, blindado, capotou e atropelou uma pessoa gerou divergência entre laudos apresentados. A perícia do Instituto de Criminalística concluiu que o veículo estava a 57 km/h com possível tolerância da ordem 12,5 %, ou seja, entre 50 e 65 km/h, enquanto uma perícia particular, contratada pela família da vítima, alega que a velocidade era maior.

Sentindo-se penalizada, a família da motorista do veículo diz que irá contratar um perito, também particular, para provar que a velocidade era menor.

Polêmicas à parte, o importante é ressaltar que a perícia é um elemento de análise complexo e que muitos fatores devem ser verificados com todo o cuidado antes de se emitir um laudo final. Principalmente quando os elementos de análise não são presenciais, todo cuidado é pouco.

Nas perícias de engenharia automobilística que tratam de acidentes, então, as evidências deverão ser ainda melhor analisadas antes de se utilizar programas de computador ou fórmulas de física, pois os resultados poderão ser contestados com apresentação de laudos, nos quais constem valores adversos.

Além do mais, a tecnologia veicular muda continuamente, requerendo dos profissionais que atuam nessa área constante aperfeiçoamento. Utilizando o exemplo dado anteriormente, deve ficar claro que um veículo, ao ser blindado, sofre alterações significativas de peso e, consequentemente, no seu comportamento em manobras, que podem ou não contribuir para um desfecho diferente em um acidente.

Resumindo, além das ferramentas atualizadas para análise de acidentes e o detalhamento completo do ocorrido, o trabalho realizado em perícias ligadas à engenharia automobilística requer, além do conhecimento acadêmico, a especialização e a atualização constante do profissional habilitado.

Deixo claro que os laudos citados não foram analisados profundamente, portanto não posso afirmar que apresentam falhas. Elucido apenas as possíveis causas de divergências entre alguns deles.

Por último, ressalto que todo trabalho técnico não pode ser tendencioso e subjetivo, o que lhe tirará, com certeza, a credibilidade.