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O sofrimento do imigrante italiano

A abertura do 10º Seminário da Imigração Italiana em Minas Gerais, na semana passada e aqui noticiada graças ao jornalista Marcos Imbrizi, focalizou as relações bilaterais para o desenvolvimento dos italianos no Exterior. Há 100 anos as preocupações eram bem outras: a Itália sabia que seus filhos sofreriam, e muito, na aventura da imigração

Por Ademir Medici
Do Diário do Grande ABC
16/10/2020 | 00:01
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Em 1920 viviam-se os duros anos do pós-guerra e o novo mundo necessitava de mão de obra. O Brasil também precisava de mais trabalhadores, já que a libertação oficial da escravatura ia longe. 

Uma comissão italiana sabia que o sofrimento do seu povo vivido internamente numa Itália destroçada continuaria lá fora. Houve quem alertasse para isso. Mas não se impediu a vinda de levas e levas de irmãos para labutar na lavoura do Interior de São Paulo e outras plagas. 

No artigo que se segue, Giuseppe De Michelis, comissário geral da emigração na Itália, alertava para o drama a ser enfrentado pela italianidade no Brasil.

Sua fala, distribuída pelas agências noticiosas e publicada nos jornais brasileiros, traça um panorama de época. Era outubro de 1920.


Propagandistas mercenários

Depoimento: Giuseppe De Michelis*

O governo italiano não impede de maneira nenhuma a emigração individual para o Brasil, a qual é absolutamente livre de fiscalização oficial.

A intervenção do governo somente se faz sentir quando se trata de levas em massa dos imigrantes, oferecendo-se a estes, além de passagens gratuitas e de outras vantagens, a internação, por agrupamentos, nas fazendas.

O Brasil é o único País que usa esse sistema e que emprega vários meios para atrair imigrantes, seja pagando propagandistas, seja subvencionando companhias de navegação. Isso põe o governo italiano na condição de exercer severa fiscalização, a fim de evitar que os colonos sejam enganados por propagandistas mercenários.

Reconheço que o Brasil é um País dotado de imensas riquezas naturais, apenas começadas a explorar, e de grande futuro.

As zonas mais adaptáveis para a emigração italiana são as meridionais, inclusive os Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

São Paulo é que se preocupa atualmente de atrair os emigrantes para a cultura do café, tendo no seu orçamento uma verba para oferecer viagens gratuitas a 50 mil imigrantes.

Inquéritos foram realizados, verificando-se que as condições dos imigrantes eram muito variáveis, e geralmente não favoráveis.

O governo italiano deve pedir que sejam dadas garantias sérias sobre emigrantes, assegurando uma regular tutela, sobretudo no que concerne ao direito domiciliar efetivo, assistências médica e escolar, o auxílio de sociedade de trabalho, a melhoria da situação econômica, a fiscalização dos contratos com os patrões e a aquisição das terras e dos inspetores da imigração.

O governo italiano favorecerá as iniciativas e os empreendimentos em que ao trabalho esteja associado o capital, por meio de técnicos italianos.

O governo italiano favorecerá a saída dos emigrantes, no interesse dos dois países, com a condição de que seja estabelecido um leal entendimento de colaboração entre os dois governos, criando-se um contrato de trabalho que suprima os meios artificiais, inadmissível entre sociedades civilizadas. 

Nota da Memória – Basta ouvir um filho mais idoso dos imigrantes italianos pioneiros para saber que as preocupações do comissário no longínquo ano de 1920 não foram devidamente levadas em consideração.

Sofridos, o italiano e os demais imigrantes foram obrigados a criar soluções, exemplificadas nas sociedades particulares de mútuo socorro, várias das quais criadas no Grande ABC, e duas delas mantidas até hoje, com outros objetivos.

(*) O Estado de S. Paulo, 18-10-1920, p. 2

Diário há meio século

Sexta-feira, 16 de outubro de 1970 – ano 13, edição 1360

Manchete – Uma nova crise abala a Argentina

Diadema – Prefeito Evandro Esquivel inicia obras de revitalização e melhoramentos na Avenida Casa Grande, uma antiga aspiração dos moradores.

Futebol – Santo André (ainda FC) ressurge na Vila Pires (futuro Estádio Bruno Daniel), após longa inatividade. 

Realiza jogo treino com o time da Karmann-Ghia, de São Bernardo.


Em 16 de outubro de...

1920 – Vigorava o mandato da nova diretoria do Brasil FC, de Santo André, eleita em 22 de setembro.

Presidente, Oswaldo de Almeida; vice-presidente, Antonio Flaquer; primeiro secretário, Paulo Garcia; segundo secretário, Arthur Ferreira Pecke; primeiro tesoureiro, José Basilio de Lima; segundo tesoureiro, Manuel de Freitas Garcia; diretor esportivo, Antonio Palmieri; primeiro capitão, Eduardo Andreolli; segundo capitão, Edgard Flaquer; procuradores, José Brasil da Costa e Cassiano Rodrigues. 

Postais de futebolistas estavam à venda, a 200 réis cada um. Editor: J. Kuntz & Ramalho, “sempre novidades”.

30 – Revolução em marcha. 

Decretada a intervenção federal no Espírito Santo e em Pernambuco; suspenso campeonato de futebol da Acea (Associação Comercial de Esportes Atléticos). Motivo: vários jogadores foram convocados ou incorporados ao Exército.

Na região, prefeito Saladino promulga o ato nº 5, com uma nova tabela de preços dos gêneros alimentícios, idêntica à da Capital.

Hoje

- Dia da Ciência e da Tecnologia

- Dia Mundial da Alimentação

- Dia Mundial do Pão

- Dia do Engenheiro de Alimentos

- Dia do Anestesista

- Dia do Instrutor de Autoescola

Santos do dia

- Edwiges

- Geraldo Magella




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