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GTC alavancou carreiras e é referência na região
Carla Navarrete
Do Diário OnLine
12/04/2009 | 07:14
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Criado em 1968, o GTC (Grupo de Teatro da Cidade) é considerado o primeiro grupo de teatro profissional do Grande ABC. Até hoje, a companhia é lembrada por seus espetáculos memoráveis, que lançaram para além da região nomes como Sônia Guedes, Antônio Petrin e Analy Alvarez.

Antes do GTC, o Grande ABC contava apenas com companhias amadoras, entre elas, o Regina Pacis, em São Bernardo, a Scasa (Sociedade de Cultura Artística de Santo André), e o Doces e Salgados, de Mauá. "O GTC deslanchou principalmente porque era financiado pela prefeitura andreense, que dava dinheiro para as montagens", diz a historiadora Priscila Perazzo, coordenadora do Núcleo de Pesquisadores de Memórias do ABC, da USCS (Universal Municipal de São Caetano do Sul).

Sônia Guedes e seu marido, Aníbal Guedes, foram fundamentais para a criação do grupo. "Quando fomos para a EAD (Escola de Artes Dramática) pensamos em terminar o curso e fazer um grupo de teatro em Santo André", conta a atriz. Segundo ela, o projeto tomou mais forma quando conheceu Petrin, Analy e outros, que ainda estavam no teatro amador. "Conversamos com eles, falamos sobre fundar a companhia e os convencemos a fazer EAD também."

A ideia era formar um grupo de teatro profissional que não ficasse em São Paulo. Com a ajuda da professora da EAD Heleny Guariba, o GTC foi para a frente. "A Heleny falava muito para a gente sobre o Teatro de La Cité, que era de Lyon, uma cidade mais afastada de Paris. Aquilo tinha a mesma conexão para nós que Santo André com São Paulo. Então, só traduzimos o nome", lembra Sônia.

O primeiro espetáculo encenado foi Jorge Dandin (1968), de Moliére, com direção de Heleny. "Infelizmente só fizemos um trabalho com ela. A Heleny entrou na luta armada e acabou morrendo. Foi uma perda, porque ela era um gênio teatral", completa Sônia. Também foi a última peça exibida no Teatro de Alumínio, que ficava na avenida Perimetral e foi demolido em seguida.

Ao todo, o GTC encenou 14 espetáculos, até 1978. Também participaram de peças da companhia atores que já eram conhecidos do grande público, como Antônio Fagundes e Cláudio Corrêia e Castro. Um dos pontos áureos ocorreu em 1971, quando o Teatro Municipal de Santo André foi inaugurado com A Guerra do Cansa Cavalo.

Ditadura - Outras montagens, como O Evangelho Segundo Zebedeu (1973), ajudaram a tornar os atores conhecidos na capital paulista. "O GTC foi fundamental para minha carreira. Nós tivemos a oportunidade de exercitar nosso trabalho e nos colocar no mercado", diz Antonio Petrin.

Assim como o seu nascimento, influenciado pelo momento histórico que o País vivia em meio à ditadura, o fim do grupo também foi natural. "Depois de dez anos, cada um foi para seu lado", afirma Petrin.

A última peça foi Os Amores de Dom Pirlimplim com Belisa em seu Jardim. "Assim como acontece com todos os grupos que crescem muito, o principal motivo do fim foi a ida da maioria dos atores para São Paulo. Essas coisas têm um tempo certo", completa Sônia.

Para a historiadora Priscila Perazzo, o GTC foi o grupo de teatro da região que mais ganhou destaque, por três razões. "A primeira é que vários de seus atores foram para a TV e para o teatro, como o Petrin", diz.

Além disso, segundo Priscila, o GTC adotou um sistema de divulgação que ainda não existia no Grande ABC. "Eles faziam propaganda das peças nas escolas e nas ruas. Isso só acontecia em São Paulo até então."

Por último, seus integrantes foram os primeiros na região a sobreviver do teatro. "As outras companhias eram amadoras, ninguém trabalhava exclusivamente com isso", finaliza.

Ecos - Mesmo extinto, o GTC gerou outros grupos, como a Proa (Produções Artísticas do ABC), que existe até hoje e é tocada por Petrin e Sônia. "Eu e o Petrin estávamos trabalhando tanto que decidimos formar nosso próprio grupo, porque o GTC não tinha fins lucrativos", conta Sônia. Atualmente, os dois se intercalam na montagem de espetáculos com a companhia que, no entanto, já não tem mais nada a ver com a região.

Além da carreira no teatro, Petrin e Sônia também se tornaram conhecidos na TV. Atualmente, ele está no ar em Revelação, do SBT. Já Analy Alvarez atuou durante um longo período, mas atualmente se dedica a escrever para a televisão. Também é vice-presidente da Apetesp (Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo) .

Em 1990, Santo André ganhou a ELT (Escola Livre de Teatro), cuja inspiração veio do GTC. "Eles foram a primeira frente de trabalho teatral, mais experimental e política, que ficava fora de São Paulo. O GTC mostrou que era possível implantar um trabalho desse tipo fora da capital", diz Maria Thaís Lima Santos, ex-coordenadora do ELT.




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