A forma de desenvolvimento do filhote canguru é diferente. Nos humanos, por exemplo, a formação dos bebês acontece na placenta (órgão que parece uma bolsa gelatinosa), no interior do corpo da mãe. Já o animal pertence ao grupo dos marsupiais, que não têm placenta.

O embrião (primeiro estágio de vida) permanece no útero da fêmea entre 30 e 39 dias. Nasce prematuro, sem que muitas partes estejam formadas. Por isso, tem de escalar sozinho e sem nenhuma ajuda a pelagem da mãe até chegar às mamas, onde vai se alimentar e completar seu desenvolvimento. Algumas espécies possuem dobra de pele que recobre a região e protege os filhotes. Essa é justamente a bolsa, cujo nome correto é marsúpio.

O filhote permanece no local de quatro a 11 meses. Durante esse tempo, a quantidade e a qualidade do leite mudam para atender às necessidades do canguru em crescimento. Nos seis primeiros meses, o alimento é composto principalmente por carboidratos (substâncias que garantem bastante energia ao organismo). Depois, por cerca de nove meses, os lipídeos (gordura) tornam-se o principal componente.

Apesar do peso que carrega, a mãe não para de pular e fazer tudo o que está acostumada. E o filhote não deixa o marsúpio de repente; começa a sair aos pouquinhos até abandoná-lo completamente.

Tem no Brasil

O canguru é originário da Austrália. Entretanto, os marsupiais não existem apenas lá. Também são encontrados na Nova Guiné (ilha próxima ao território australiano), Américas do Sul e Central, além de regiões da América do Norte.

No Brasil, há 55 espécies, como o gambá (gênero Didelphis) e a cuíca-cinza-de-quatro-olhos (Philander frenatus). Mais de um filhote pode ficar dentro do marsúpio desses animais. Pesquisadores do Laboratório de Ecologia e Conservação de Populações da Universidade Federal do Rio de Janeiro já encontraram gambás-fêmeas (Didelphis aurita) com até nove crias na bolsa.

A maioria dos marsupiais brasileiros não corre risco de extinção, com exceção da cuíca-de-colete (Caluromysiops irrupta) presente na lista nacional de animais ameaçados. No Rio Grande do Sul, a cuíca-lanosa (Caluromys lanatus) e a cuíca-d'água (Chironectes minimus) são consideradas vulneráveis.

Marsupiais surgiram há milhares de anos

Os marsupiais surgiram há um tempão. O fóssil mais antigo encontrado pelo homem tem cerca de 100 milhões de anos. Entretanto, nem todos os estudiosos concordam que seja realmente o fóssil de um marsupial. O registro que não gera dúvidas possui 80 milhões de anos. O animal pertencia à família Stagodontidae, que já foi extinta.

Assim como todos os bichos, os marsupiais são fundamentais para a natureza. No Brasil, eles são onívoros, ou seja, comem quase tudo: insetos, folhas, ovos e pequenos vertebrados. Os frutos também fazem parte da alimentação; por isso, tornam-se importantes dispersores de sementes (eles as espalham por meio das fezes), contribuindo com a recuperação natural de ambientes degradados.

DIFERENTES - Os filhotes mamíferos podem se desenvolver de outras duas formas, além dos marsupiais. Os placentários - homem, cão, gato, entre outros - têm placenta; a gestação ocorre totalmente no interior do útero da fêmea. Há ainda os monotremados, que botam ovos. É o caso do ornitorrinco e quatro espécies de équidna. Vivem na Austrália, Tasmânia e Nova Guiné.

Consultoria de Leandro de Macedo Silva Reis, pesquisador do Laboratório de Ecologia e Conservação de Populações da UFRJ

Mariana Aparecida Zacharias, 11 anos, de Santo André, acredita que o filhote de canguru já nasce na bolsa da mãe e permanece lá até se tornar adulto. "É importante para proteger o bebê." Segundo a menina, os machos também deveriam tê-la. "Precisam ajudar as fêmeas."