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No Grande ABC, Dilma é esquecida por líderes do PT

Expoentes do partido nas sete cidades evitam
defesa pública à presidente e críticas a Temer

Vitória Rocha
Especial para o Diário
22/05/2016 | 07:00
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Ricardo Trida/DGABC


Deputados estaduais, prefeitos e vereadores do PT do Grande ABC têm evitado sair em defesa explícita da presidente da República, Dilma Rousseff (PT), afastada do cargo por até 180 para continuação do processo de impeachment no Senado. Em meio a crises institucional e política, alguns tentam não comentar a situação da petista e são evasivos, outros são mais incisivos e afirmaram que não têm a obrigação argumentar em favor da governante acusada de crime de responsabilidade fiscal.

Perceptível, o cenário é de esconder a estrela. Prefeitos petistas como Carlos Grana (Santo André), Luiz Marinho (São Bernardo) e Donisete Braga (Mauá) buscam maquiar sua filiação partidária, inclusive em suas fanpages do Facebook. Estrelas, símbolos vermelhos e outros elementos que poderiam ligar os políticos à legenda quase não aparecem nos materiais.

Na semana passada, Marinho deu tom de como será a postura dos petistas da região sobre o tema. Durante atividade pública, não falou sobre o impeachment de Dilma nem criticou Temer. Questionado por jornalistas, alegou compromissos na Capital e não respondeu às perguntas. Nos bastidores, apontou-se que Marinho – político da região com maior proximidade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – quer dar o troco em Dilma, que pouco enviou recursos a São Bernardo desde 2014.

Nas redes sociais são raras as manifestações de apoio a Dilma ou críticas explícitas ao governo interino de Michel Temer (PMDB). Por outro lado, as páginas de deputados estaduais petistas da região, por exemplo, estão repletas de postagens sobre a CPI da Merenda para investigar irregularidades na distribuição de refeições a escolas do governo do Estado.

Coordenador regional do PT na região e pré-candidato à Prefeitura de Rio Grande da Serra, Claudinho da Geladeira explicou que o fato de os políticos do Grande ABC não estarem defendendo a presidente pode ser estratégia para o pleito de outubro. “O governo da Dilma é o governo da Dilma. Cada cidade tem uma reação ao processo eleitoral. Cada cidade vai fazer sua campanha de forma estratégica. O que está em jogo agora são as eleições municipais e é preciso que haja estratégia. É natural que se pense na eleição e na reeleição.”

Da mesma forma, apesar de admitir que a sigla cometeu falhas na administração, o deputado estadual Luiz Fernando Teixeira (PT) não falou em crise e se esquivou quando questionado sobre a falta de políticos tomando partido por Dilma. “Eu acho que é o momento que o PT vai ter de rever, analisar, onde errou e se organizar para ver como vai reagir. Eu não tenho procuração da presidente da República para defendê-la de algumas acusações que ela está sofrendo. Estamos defendendo a democracia. Tem políticos nossos que a defendem e tem alguns que não concordam. Eu, particularmente, vou defender a democracia, o direito de Dilma governar”, observou.

Irritado, Grana disse que está havendo série de manifestações contra o impeachment – no Grande ABC, desde o afastamento, nenhum ato foi organizado pela legenda em defesa de Dilma. “Fala para mim quem não está defendendo a Dilma? A Dilma está afastada. O que nos cabe agora é cobrar o governo interino a solução dos problemas do Brasil. Ela foi vítima desde o dia que ganhou a eleição. Não a deixaram governar”, alegou.

Donisete Braga (PT), prefeito de Mauá, questionou o fato de ter de argumentar a favor de Dilma. “Eu não sou deputado federal, como vou defendê-la? Não estou defendendo pouco. Estou na expectativa do que vai acontecer com nosso País agora. Não sou da teoria de quanto pior melhor”.

Apenas os deputados estaduais petistas Ana do Carmo e Teonilio Barba saíram em defesa explícita da presente – instados pela equipe do Diário, já que, em suas redes sociais e materiais políticos, o impeachment quase não é citado.

Para Barba, a saída para o partido neste momento é se reorganizar e tentar reverter o impeachment. “Primeiramente o PT tem de lutar contra o golpe dado, contra o Temer, o (Eduardo) Cunha (PMDB-RJ, presidente afastado da Câmara), o DEM, o PPS. Dilma pode ter seus erros, mas é uma mulher honesta. A defendo veementemente. Tem de se fazer a luta jurídica para que a presidenta volte. Tem de haver mobilizações. E a outra luta é que este é um ano de eleição de vereadores, de prefeito, o comando passa a ser focado nas regiões, nos locais, os vereadores, suas coligações, tem de disputar o poder local”, disse.

Já Ana do Carmo afirmou que, independentemente dos rumos do partido, apoiará Dilma até o fim. “Ela foi discriminada por ser mulher. Claro que ela não concedeu algumas coisas que ela deveria ter concedido, mas eu também não concederia. Presidente não tem de ceder para deputado. Se foi eleito, tem de fazer aquilo que é correto. Ela é uma mulher guerreira e honesta e foi discriminada por ser mulher. Espero que o PT continue na defesa dela. Por enquanto a gente tem de esperar um pouco mais para avaliar o governo, mas eu acredito que não será um governo voltado para aquilo que a gente defende. É um governo comprometido com aquilo que há de ruim.”

Apesar crise institucional, sigla mantém diretrizes

Mesmo diante do visível afastamento de movimentos sociais, da falta de apoio no Congresso Nacional e em outras esferas de governo e da rejeição de grande parte da população, lideranças do PT na região recusam-se a reconhecer crise institucional da sigla. Porém, reconhecem necessidade de utilização de diretrizes antigas do petismo, muitas vezes deixadas de lado durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da presidente afastada Dilma Rousseff (PT).

Apesar de alegar que o afastamento da presidente se deu pelo que caracterizaram como um golpe articulado pelos movimentos e partidos de centro-direita e pela coligação do vice-presidente Michel Temer (PMDB), o diretório nacional do PT informou na semana passada que não irá se opor a alianças com peemedebistas que “não apoiaram o impeachment publicamente”, como explicou o presidente da sigla, Rui Falcão, em entrevista ao jornal O Globo.

Prefeito de Santo André, Carlos Grana (PT) afirmou que não há crise nem afastamento da sociedade civil organizada. “Eu ouço essa frase há 35 anos e é um ponto de vista. O PT nunca abandonou as relações com os movimentos sociais. O PT é a organização social dos movimentos. Eu acho que estamos vivendo uma crise institucional no Brasil, não no PT. Estamos passando uma vergonha internacional. Isso por conta do modelo político do Brasil, que é falido”, disse.

Tanto o chefe do Executivo de Mauá, Donisete Braga (PT), como a deputada estadual Ana do Carmo (PT) corroboram com o pensamento de Grana. “Não houve afastamento, não. Os movimentos sociais existem para exigir, então se há conquistas eles são atendidos e não há o que exigir mais.”, afirmou Ana do Carmo.

Para o coordenador regional da sigla e pré-candidato à Prefeitura de Rio Grande da Serra, Claudinho da Geladeira, e para o deputado estadual Luiz Fernando Teixeira (PT), no entanto, a crise está posta e a saída é a reaproximação dos movimentos sociais. “O partido errou. Esqueceu de fazer o debate quando se tornou governo e se distanciou das suas bases, dos movimentos sociais, dos sindicatos. Ele se empenhou muito em governar, mas errou nos momentos de debater”, ponderou Luiz Fernando. 




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