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Estudantes vão encerrar o ano letivo sem uniforme escolar
Por Vanessa Fajardo
Do Diário do Grande ABC
13/11/2009 | 07:01
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A pouco mais de um mês do término do ano letivo, os alunos das escolas municipais de São Bernardo, Santo André e Mauá não receberam os uniformes. As crianças mesclam peças de anos anteriores com roupas comuns para ir às aulas. Os pais, indignados com as promessas não cumpridas, não têm mais esperança de receber os kits neste ano.

"É muita falta de responsabilidade porque as crianças ficaram ansiosas esperando os conjuntos", conta a dona de casa Zilda Botelho Gaseta, 45 anos, mãe de um aluno de 11, da Escola Municipal Homero Thon, de Santo André.

Para a cozinheira Maria do Socorro da Silva Holanda, 39, faltou respeito com a população. "No mês de junho viemos até a escola para tirar as medidas das crianças, perdemos tempo e dia de serviço, prometeram que a entrega seria em agosto. Mas de que ano?", questiona. Maria do Socorro tem três filhos matriculados na Homero Thon, de 3, 5 e 8 anos, e conta que somente o de 5 anos vai ao colégio uniformizado porque ganhou um kit de presente da madrinha, que comprou o conjunto de uma costureira.

A Prefeitura de Santo André respondeu que o edital para elaboração da compra dos conjuntos, em elaboração desde março, ainda não foi concluído, e será publicado "assim que resolvidos os entraves jurídicos." A administração alega que é a primeira vez que haverá a compra dos uniformes e que a aquisição exige detalhamento de todos os itens.

Matriculada na Escola Municipal José Rezende da Silva, do Parque São Vicente, em Mauá, uma menina de 6 anos está com a calça oficial curta. "Tive de aproveitar as peças dos anos anteriores. Ela estuda aqui há três anos", justifica a mãe Maria Elizabete Souza Montanini, 40. A Prefeitura de Mauá não se pronunciou.

Em São Bernardo, o problema se repete. "Fiz um remendo nos joelhos da calça, mas sempre cai, aí ele fica com a roupa rasgada", diz a professora Claudia Cristina Cilla, 42, mãe de um garoto de 8 anos, matriculado na Escola Municipal Nádia Aparecida Issa Pina, do bairro Nova Petrópolis.

A Prefeitura de São Bernardo informou que foi "obrigada" a optar por não entregar os uniformes escolares neste ano, já que "o orçamento deixado pela administração anterior não previa recursos para este fim."


Para mães, uniforme garante segurança


O uso dos uniformes além de ser prático e facilitar a rotina das famílias, é apontado pelas mães dos alunos, como um item que contribui para a segurança das crianças enquanto elas estão sob a responsabilidade das escolas.

A dona de casa Marina Novaes Luz, 42 anos, contou que apesar de a Escola Municipal Nádia Aparecida Issa Pina, de São Bernardo, exigir que os alunos estejam uniformizados nos passeios externos, nem todos cumprem a recomendação. "É uma questão de segurança, mas sabemos que a maioria não usa, até porque as peças que foram distribuídas no ano passado já vieram pequenas."

Mãe de um garoto de 6 anos que estuda na Escola Municipal José Rezende da Silva, em Mauá, Edna da Silva Barbosa, 29, também vê nas roupas do colégio uma forma de identificar facilmente a criança caso haja um problema e mantê-la mais segura. "Mas as roupas que recebemos no ano passado não servem mais. Criança cresce muito rápido e a gente acaba usando as roupas normais. É muito ruim porque elas acabam rápido."

PARA CRIANÇAS
As roupas escolares segregaram os estudantes matriculados na Escola Municipal Homero Thon, em Santo André. Lá, segundo Edvandra Alves de Almeida, 43, mãe de alunos de 8 e 12, somente as crianças menores vão para as aulas uniformizadas. Na casa dela há algumas peças de kits distribuídos em anos anteriores, mas seus filhos se recusam a utilizar.

"Quando alguém maiorzinho aparece de uniforme, os colegas tiram sarro dizendo que tal pessoa é do prezinho, que precisa usar as roupas da escola para não se perder." Edvandra lembra das promessas da Prefeitura de Santo André e diz que se elas tivessem sido cumpridas, os filhos estariam, obrigatoriamente, usando os uniformes. "Disseram que iriam distribuir até calçados, viemos tirar as medidas das roupas das crianças, mas foi tudo ilusão."

A filha de 9 anos da dona de casa Marilza Benedeti, 40 anos, também não quer usar a camiseta do último ano que ainda poderia ser aproveitada. A garota conta que além de o uniforme ser "feio" nenhuma criança da sala é adepta ao traje. A mãe Marilza questiona a qualidade, bem como a numeração das roupas distribuídas no ano passado. "A numeração estava errada, no kit da minha filha veio uma calça que servia em mim e não consegui trocar pelo tamanho correto." Marilza reclama da falta de compromisso da administração. "Pago imposto para quê?", questiona-se.

DEMAIS CIDADES
Ribeirão Pires, Diadema e São Caetano distribuíram os kits escolares no decorrer do ano letivo. Em Diadema, a entrega ocorreu entre abril e maio. Em São Caetano os kits chegaram aos alunos da rede municipal no final do primeiro semestre do ano. A Prefeitura de Ribeirão Pires fez a distribuição em agosto. Rio Grande da Serra não disponibiliza uniformes aos estudantes. (Vanessa Fajardo)

Alguns pais optaram por comprar peças no início do ano

Sem respaldo do poder público, muitos pais optaram por comprar os uniformes logo no começo do ano para não comprometer o guarda-roupas das crianças. Algumas escolas, como a Homero Thon, de Santo André,por exemplo, chegam a indicar profissionais que vendem os conjuntos por preços que variam de R$ 50 a R$ 90, dependendo do tamanho. O conjunto geralmente inclui cinco peças: duas camisetas (curta e longa), bermuda (para meninos) ou shorts saia (meninas), calça e jaqueta.

Uma costureira de Santo André informou que vendeu 50 kits para alunos da Emei Elizabete Leonardi. Ela também fornece para outras escolas municipais e particulares da cidade.

"Comprei duas calças e duas camisetas no começo do ano. É melhor do que estragar as roupas do dia a dia. Mas acho um absurdo a Prefeitura não ter distribuído os uniformes. É uma falta de consideração com os impostos que pagamos, que são altíssimos", desabafa a comerciante Maria do Socorro de França, 47, mãe de uma aluna da 4ª série, da escola Nádia Aparecida Issa Pina, de São Bernardo.




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