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Cuba em ritmo musical pré-Fidel
Do Diário do Grande ABC
12/11/2004 | 12:14
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A Cuba que surge nos minutos iniciais de Dirty Dancing – Noites de Havana é festiva, pintada a partir de uma palheta de cores que aceita tudo, menos o verde oliva das fardas militares. A "terra do romance", conforme anuncia um letreiro. E é a Cuba pré-revolução o personagem cenográfico deste musical, a partir desta sexta no Extra Anchieta (São Bernardo). Não se trata de refilmagem nem seqüência do clássico kitsch do "dois pra lá, dois pra cá", e que, em 1987, pôs Patrick Swayze e Jennifer Grey para dançar ao som de She's Like the Wind.

O novo filme, de Guy Ferland, usa Dirty Dancing como uma etiqueta e Swayze numa ponta, como instrutor de dança. Situa-se em Havana semanas antes do fatídico 1º de janeiro de 1959 que instalaria Fidel Castro no poder. Katie (Romola Garai) é filha de um executivo da Ford, de mudança para a ilha. Chega a um ambiente neocolonialista, um recife social que distingue os norte-americanos que detêm o poder financeiro e os nativos que os servem.

Javier (Diego Luna) é um desses serviçais. O modo como Ferland apresenta o personagem, em três instâncias, revela algo sobre o real propósito de Noites de Havana: primeiro, sua condição de satélite social, empregado como garçom de hotel; segundo, seu talento nato, a aptidão para a dança; terceiro, sua posição no xadrez político, pois seu pai, simpatizante da revolução, foi morto pelo regime de Fulgêncio Batista.

Decerto, Noites de Havana não entrará para a história como um novo Tangos – O Exílio de Gardel (1985), de Solanas. É evidente que, para Fernand, interessa mais usar a dança de salão como mediadora do amor, confiar que a sensualidade é artifício (coreografia, premeditação) e o desejo é natureza (instinto, impulso). Por isso mesmo, não é à toa que o primeiro beijo do casal se dá depois de cumprida a obrigação de ensaiar para um concurso de dança. É evidente também a vulgaridade de metáforas como as ondas para representar o suingue da dança e nós de cabelo embaraçado para um amor complicado. Mas também é evidente o seu esforço mínimo em fazer do romance de Javier (cubano) e Katie (norte-americana) uma representação figurativa da insurreição à velha ordem (Batista, pai e mãe) e também das atuais relações entre os países de Castro e de Bush.




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