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O show do perdão
Carlos Brickmann
09/11/2014 | 07:00
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Em reunião dos dirigentes do PT e PSDB, ficou combinado assim: os grandes acusados, mais os políticos acusados de botar a mão em dinheiro grosso, mais os envolvidos de peso no caso do Petrolão, saíram livres da Comissão Parlamentar de Inquérito. Nem ouvidos serão. Não importa que sejam do governo ou da oposição. Se o suspeito tiver dinheiro ou poder, punição só virá depois do Petrolão nas páginas do dicionário. Já empresas menores, funcionários de baixo escalão, contínuos e as moças que servem café enfrentarão o rigor implacável da lei.

Fora da reunião, no plenário do Senado, o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, fez duro discurso rejeitando o diálogo proposto pelo governo e chamando o Petrolão de ‘maior escândalo de corrupção na história deste País’. Dentro de uma sala fechada, em que o som do plenário era inaudível, o diálogo acontecia numa boa. O tema da conversa era algo como ‘protejam seus bandidos que nós protegemos os nossos’. Ou ‘mexeu no meu bandido, mexeu comigo’.

São reveladoras as frases de duas das excelências que comandaram o acordo de, digamos, proteção mútua. Do deputado Marcos Maia, PT, relator da CPI: “Foi um acordo político, feito por todos os presentes, em que se resolveu, em função da falta de densidade das denúncias, não produzir nenhum tipo de oitiva”. Do deputado Carlos Sampaio, líder do PSDB na Câmara Federal: “Decidimos excluir os agentes políticos e os citados nas delações premiadas. Todo mundo concordou.” Repetindo: “Foi um acordo político”. “Todo mundo concordou”.

O da boca pra fora
Pegou mal, especialmente para o PSDB, que até ser citado (na delação premiada de Leonardo Meirelles) exigia investigações profundas, para chegar à verdade e restabelecer a moralidade. Por isso, no dia seguinte, Aécio Neves e outros dirigentes tucanos – inclusive Carlos Sampaio – negaram o acordo com o qual ‘todo mundo concordou’. Mas o acordo existe, sim. Os grandes acusados escaparam até dos pedidos de quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico.
O que mais irrita Aécio é que, com esse tipo de manobra, fica difícil desmentir a ideia de que são todos farinha do mesmo saco. E, na verdade, não são: farinha, para ser considerada farinha, não pode conter tantas impurezas assim.

Um País em movimento
Quem se queixava de que o País estava parado desde o início do ano já pode ficar contente: seus desejos foram atendidos. A partir da reeleição de Dilma, no domingo, José Dirceu foi solto, os juros cresceram, a gasolina subiu, a eletricidade aumentou, o governo anunciou o maior rombo já ocorrido nas contas do País, as autoridades da área de energia acham que não vai haver racionamento, mas por pouco. São Paulo resolve reutilizar o esgoto para não ficar sem água, e Guido Mantega, o demitido adiado, continua sem substituto.
Quando os deuses querem destruir um homem, atendem a seus pedidos.

Hermanos bolivarianos
Deve-se ao repórter Cláudio Tognolli, do Yahoo, a descoberta dos documentos mais impressionantes dos últimos meses: as provas de que o governo venezuelano do hermano Nicolás Maduro assinou acordos de cooperação, sem conhecimento das autoridades brasileiras, com o MST, Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, liderado por João Pedro Stedile. Os acordos incluem treinamento dos brasileiros por venezuelanos, seja lá que tipo de treinamento for. O vice-presidente do Desenvolvimento do Socialismo da Venezuela e ministro das Comunas, Elías Jaua, viajou ao Brasil a serviço da causa, sem comunicação ao governo brasileiro. Veio armado; e, para disfarçar, enviou a arma com a babá de seu filho, em outro avião. Não deu certo. Ela foi presa no aeroporto, por porte ilegal, e aguarda julgamento. Jaua agiu com tanta desenvoltura que o Brasil decidiu reagir: o chanceler Luiz Alberto Figueiredo chamou o encarregado de Negócios da Venezuela, Reinaldo Segovia, para protestar contra a interferência do ministro em assuntos internos brasileiros. E pensar que houve época em que os Estados Unidos interferiam na política brasileira. Hoje, até a Venezuela se mete por aqui.

Ahn? Soberania?
Agora, a não novidade: o PSDB, partido que diz liderar a oposição ao governo petista de Dilma, não se manifestou sobre a ação do ministro venezuelano. Quem protestou foi o DEM. O senador Ronaldo Caiado pediu a convocação do chanceler brasileiro pelo Senado para que explique o que pretende fazer para evitar que o MST seja treinado ilegalmente por militares estrangeiros.

Reação tucana
E o que faz o PSDB, que não protesta contra a violação da soberania nacional? Coisa nenhuma, claro. O partido saiu de uma dura campanha eleitoral, muito cansativa, e é hora de descansar, que há hora para tudo e ninguém é de ferro. Em compensação discute longamente o que fazer com o tal diálogo proposto pela presidente Dilma – aquele segundo o qual ‘não pode haver muros’ entre governo e oposição. A sugestão da presidente parece ter sido formulada com precisão cirúrgica só para irritar o PSDB: se não houver muros entre o governo e a oposição, em cima de onde é que os tucanos de bico longo e voo curto vão pousar? 




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