A pouco mais de dois meses para completar 100 anos, a artista plástica Tomie Ohtake veio a Ribeirão Pires conferir o andamento de sua obra, o Monumento ao Trabalhador, que será instalada no Paço de Santo André no dia 29.

A escultura de 12 metros e 15 toneladas é um presente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá à cidade. A obra começou a ser construída na SCA Caldeiraria desde o início de agosto, e agora resta somente a pintura vermelha para a finalização do trabalho.

Tomie ficou cerca de uma hora no espaço, que parou para acompanhar a visita da artista praticamente centenária. Ela chegou acompanhada por alguns profissionais de sua equipe e uma enfermeira.

Com o sotaque ainda carregado do Japão, apesar dos quase 80 anos no País, Tomie disse que não imaginava o tamanho que a escultura ficaria. “Não esperava algo tão grande assim, é maravilhoso. A diferença entre aquilo que projetei numa maquete e ela pronta é enorme. Fiquei até assustada.”

Pessoalmente ou por fotos, é costume da artista acompanhar as obras que desenha. “Durante todo o projeto, mandamos fotos, relatórios e Tomie quis ver o andamento pessoalmente. Não sabíamos mesmo se a visita iria acontecer por causa da saúde já frágil, mas ela se sentiu bem e ficamos honrados com a presença”, contou Paulo Gracindo Júnior, engenheiro e proprietário da SCA Caldeiraria.

Há 26 anos trabalhando com Tomie, o arquiteto Jorge Utsunomiya, um dos responsáveis pela execução do Monumento ao Trabalhador, acredita que este ano é o mais intenso da artista plástica quanto ao trabalho. “Durante todo esse tempo fazendo parte da equipe, nunca a vi trabalhando tanto. Seja na pintura, na escultura ou nas instalações que desenha. Agora, estamos trabalhando em 15 peças simultaneamente. Mas logicamente que 100 anos são 100 anos.”

Segundo o arquiteto, Tomie ainda surpreende a equipe quando pergunta se “dá para fazer” alguma obra. “Talvez ela não imagine a força que tem quando concebe uma peça e faz um modelo delicado. É como se carregasse todo o genoma de uma escultura enorme num desenho pequeno no papel.”

Jorge Utsunomiya, no entanto, não acredita que os “braços direitos” da artista plástica conseguem executar plenamente todas as ideias exatamente como foram concebidas por ela. “Sempre lemos, vamos atrás dos fundamentos por trás das obras e tentamos dar 100% em absolutamente todos os trabalhos. Mas acho que a gente chega a uns 80%.”

Por outro lado, Tomie Ohtake afirmou ficar sempre emocionada com os produtos finais. Na obra de Santo André, em especial, foram os 12 metros que impressionaram. “Acho que nunca fiz algo tão grande assim. E quando colocar na cidade vai parece maior ainda e se tornar significativa para Santo André.”

O monumento será instalado no Paço andreense, entre o espelho d’água e o prédio da Câmara dos Vereadores. A sapata de concreto que sustenta a peça ficará enterrada, dando a ilusão de que a escultura estará somente apoiada no chão.

O transporte da obra de 15 toneladas até a cidade será feito por uma carreta e está marcado para a noite do dia 25. Dois guindastes içarão a escultura. A intenção é que a peça permaneça coberta até o dia da inauguração, evento que marca também as comemorações dos 80 anos do Sindicato dos Metalúrgicos.

Um século de vida

Tomie Ohtake chegou ao Brasil em 1936, vinda de Kioto, no Japão. A descoberta da arte começou somente perto dos 40 anos. Hoje, a artista plástica – que completa 100 anos no dia 21 de novembro – domina as técnicas de pintura, gravura, desenho e escultura.

Entre as grandes obras de sua autoria que enfeitam São Paulo estão o Monumento à Imigração Japonesa, na Avenida 23 de Maio, os painéis da Estação Consolação do Metrô e uma tapeçaria no Auditório do Memorial da América Latina.