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O semestre do faz-de-conta

Só que a sexta, como se sabe, faz parte do fim de semana do congressista - e a segunda também

Carlos Brickmann
30/07/2008 | 00:00
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O Congresso Nacional deveria voltar a funcionar na sexta-feira. Só que a sexta, como se sabe, faz parte do fim de semana do congressista - e a segunda também. Então, volta na terça, dia 5. Mas, como há eleições em outubro, o Congresso vai funcionar em fogo brando, em banho-maria, cozinhando o galo. Suas Excelências são candidatos ou têm candidatos, e só não se licenciam porque o salário do Congresso ajuda, e há também as passagens, não é mesmo?

Eleições, segundo turno, comemoração das vitórias, recomposição das forças após as derrotas, novos acordos, análise do quadro pós-eleitoral. Em seguida, as festas de fim de ano, seguidas pelas férias, que ninguém é de ferro. Até pode acontecer alguma coisa - aprovação de alguma lei, um escândalo que force uma CPI - mas, em princípio, teremos Câmara e Senado funcionando a pleno vapor, às quartas e quintas, só a partir do segundo mês de 2009.

Não espere, também, que as eleições movimentem o País. O volume de proibições é tamanho que todo o esclarecimento ao eleitorado ficou por conta do horário na TV. Não pode internet, não pode cartaz nas ruas, não pode showmício, não pode, não pode - hoje, numa campanha, os advogados são tão importantes quanto os candidatos. Numa campanha com tantos não-podes, ganham os candidatos mais conhecidos. Os outros dependem da TV (que terá menos tempo) para apresentar suas propostas. Aliás, "os outros" são apenas os candidatos a prefeito: candidato a vereador, esse só tem tempo de dizer que seu nome não é Enéas.

A PERGUNTA REAL
Essa história de que o prefeito paulistano Gilberto Kassab determinou aos subprefeitos que agissem no momento das entrevistas da pesquisa DataFolha tem um lado que não foi levantado: por que as empresas de pesquisa são legalmente obrigadas a informar publicamente onde e quando farão seu trabalho? Por que não credenciar as empresas no tribunal eleitoral e, depois da coleta de dados, mas antes da divulgação, informar onde a pesquisa foi feita e com quais critérios?

A PERGUNTA COM RESPOSTA
No caso Kassab x subprefeitos, alguém passou a informação e os e-mails à imprensa. Ninguém imaginará que Kassab tenha passado uma informação que é ruim para ele; nem que meia dúzia de subprefeitos, cada um por si, tenha pensado em trair o prefeito mandando o e-mail sobre as entrevistas do DataFolha ao mesmo repórter do mesmo jornal. É mais verossímil imaginar que quem comanda os subprefeitos tenha tido a idéia. O chefe é Andréa Matarazzo, secretário paulistano das subprefeituras, tucano que sempre se disse favorável a Kassab.

DÚVIDAS ELEITORAIS
Por que a regulamentação é diferente a cada eleição? Aliás, por que existe um tribunal eleitoral? Nas grandes democracias não há Justiça especializada em eleições e campanhas. Se a Justiça comum é lenta para julgar as ocorrências de campanha, a solução não é montar outra estrutura: é dar condições à Justiça comum para que possa julgar com a presteza possível todos os casos, até os eleitorais.

PERGUNTA ELEITORAL
A proibição de acesso a favelas e à propaganda de candidatos que não sejam da escolha de milicianos ou narcotraficantes - que chegaram a exigir que fotógrafos apagassem imagens de que não gostavam - não será suficiente para pedir a anulação das eleições no Rio? Imagine que um candidato a prefeito bem recebido pelos criminosos que dominam os morros ganhe com pequena vantagem de um adversário cuja entrada lá foi proibida. Imagine que um candidato a vereador vetado por bandidos tenha reduzido seu número habitual de votos. De qualquer modo, os candidatos podem (com razão) queixar-se de discriminação.

OLHA O TANQUE!
Atenção: está marcada para o dia 5 uma greve nacional de petroleiros, que deve afetar produção e refino. Pode haver acordo, pode não dar certo, mas vale a pena garantir-se: é conveniente manter o tanque cheio.




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