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Pacientes do Dell’Antonia consomem 153 quilos de alimentos por dia

Marmitas são preparadas no CHM e tratadas com cuidado para tentar animar os doentes que sentem falta do paladar

Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
05/02/2021 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Só de ouvir falar em comida de hospital o estômago já embrulha. A primeira coisa que vem à cabeça é aquele alimento sem sal e quase que sem gosto. Contra isso que trabalha a equipe do hospital de campanha montado no Complexo Esportivo Pedro Dell’Antonia, em Santo André, que tem ainda um desafio extra: boa parte das pessoas contaminadas pelo novo coronavírus perde o olfato, o paladar e, muitas vezes, o apetite. Até por isso, o cardápio é variado nas seis refeições diárias: desjejum, café da manhã, almoço, café da tarde, jantar e chá da noite. O refeitório serve, todos os dias, 153 quilos de alimentos.

A equipe de reportagem do Diário estava no covidário (espaço onde ficam as macas com as pessoas infectadas pelo novo coronavírus) quando chegou o almoço na terça-feira e pôde comprovar a ansiedade dos pacientes, algo raro em ambiente hospitalar. Um senhor brincou dizendo que estava comendo melhor internado do que em sua própria casa. E não é à toa. Arroz, feijão, frango com molho, salada, suco e sobremesa. Tudo estava na sua bandeja e exalando cheiro de comida boa.

Basta o carrinho chegar com as marmitas já montadas e embaladas que a fome começava a tomar conta dos pacientes só pelo odor – até os que estão mais debilitados começam a se levantar.

Um dos internados que elogiaram a alimentação foi Carlos Martins, 68 anos. “Estou comendo bem até demais. A refeição é uma delícia. Vocês deviam experimentar”, disse à equipe de reportagem.

Nutricionista responsável pelo hospital de campanha, Selma Ricoboni explicou que, para que o momento das refeições seja mais gostoso, quando o paciente dá entrada no hospital é submetido a uma espécie de entrevista para explicar seus hábitos alimentares, restrições, preferências e, assim, de acordo com a sua situação de saúde, o cardápio é montado.

“Mas existem diferenças também do que cada um consegue e pode ingerir. Por exemplo, o paciente mais grave, muitas vezes, está em estado de desnutrição e, nesse momento, entramos com suplementação nutricional imediatamente”, explicou Selma.

Além disso, há pacientes que, devido à complicação respiratória, sentem dificuldade na deglutição e, portanto, se alimentam com sopas. “Já os que estão entubados e não conseguem se alimentar via oral, sozinhos, usamos a dieta enteral (por sonda). É uma alimentação em forma líquida, que contém todos os minerais, vitaminas, carboidratos e proteínas necessários para nutrir o paciente”, contou Selma.

Pão, torrada, bolacha, café com leite, chá, frutas, legumes variados, proteínas e grãos. Mas nada é manipulado no hospital de campanha. Toda alimentação é preparada na cozinha do CHM (Centro Hospitalar Municipal) de Santo André, em ambiente esterilizado, e todas as refeições são embaladas para que o transporte seja feito com segurança.

“Tudo vem pronto direto do hospital para evitar qualquer risco de contaminação. Além disso os carrinhos são higienizados a cada refeição e nossas copeiras estão sempre protegidas para que não corram risco também”, afirmou a nutricionista, contando que o cardápio contempla pessoas que têm alergias e restrições alimentares, como intolerância a lactose e glúten.

PARA O TIME
Os profissionais que atuam no hospital de campanha também aproveitam as refeições. O cardápio é pensado de maneira que contemple todos os 400 funcionários, observando restrições alimentares e nutrientes que vão suprir a luta diária e exaustiva contra a pandemia. 

Equipe da limpeza garante que vírus seja eliminado

Se tem uma coisa que não para nem por um segundo no hospital de campanha é a limpeza. Auxiliares de higiene passam o dia preparados com produtos e equipamentos para fazer minuciosas desinfecções. Se não fosse esse exército, o ambiente hospitalar seria ainda mais perigoso, principalmente para os trabalhadores, que tentam a todo custo se proteger do vírus.

Chão, macas, mesas, banheiros, paredes. Tudo é limpo o tempo todo. Fora isso, os sacos de lixo são tirados com frequência. Os profissionais da limpeza garantem que o medo fica em segundo plano e o importante é deixar o espaço menos contagioso possível.

A auxiliar de higiene Luciana da Silva, 46 anos, atua no hospital de campanha desde a abertura, em 15 de abril. Até hoje a funcionária não foi contaminada pelo novo coronavírus, mas não se preocupa com isso. “Quero fazer o melhor que posso por esses pacientes, para que se sintam bem e em um lugar ao menos limpo”, afirmou. “Se a gente não limpar, fica um ambiente ruim para todos, até para os outro profissionais, que precisam desse auxílio”, pontuou.

Sua colega Sandra Regina, 50, é a novata do pedaço, mas, mesmo com apenas um mês de serviço, não teme pela doença e, sim, pela vida das pessoas que estão internadas. “Meu trabalho é limpar e é muito importante. Tendo mais higiene no espaço todos se sentem melhor. E faço disso um ato importante, já que quando uma pessoa sai de uma maca, outra vai entrar e precisa estar tudo bem higienizado”, confirmou.

A equipe de reportagem do Diário flagrou o momento em que a dupla fazia a limpeza de um leito que tinha acabado de ser desocupado. O trabalho em sincronia é rápido e tem de ser, já que elas têm cerca de 25 minutos para finalizar a área, limpando cada pedaço.

Enquanto uma limpa um lado da maca, a outra está no inverso. Gradil, colchão, pés de cama. Tudo é higienizado e verificado. Depois passam para o armário auxiliar, parede, acessos de ar e maquinário, finalizando pelo chão. Não há sequer um espaço esquecido e, pronto, o leito está apto para receber mais um paciente.

Com a circulação da equipe de faxineiros, até os pacientes se afeiçoam por eles. Agradecimentos são ouvidos a cada limpeza que terminam, e alguns internados até puxam conversa. “É um trabalho gratificante”, confirmou Sandra.

Todos os 35 profissionais de limpeza que atuam no Dell’Antonia fazem a faxina concorrente, que é a higienização diária e de manutenção, que ocorre o tempo todo. Também realizam a limpeza terminal, entre a saída e entrada de um paciente no leito. Do total, somente 15 foram contaminados pela Covid e, da equipe, ficam oito pela manhã, sete à noite e um encarregado em cada turno.

Para o serviço a equipe usa hipoclorito, sabão e detergente, todos sem cheiro para que não provoque mais problemas respiratórios aos pacientes. Os profissionais são municiados de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), trocados regradamente. Por dia, são 70 litros de produtos de limpeza.

Silmara Damico é enfermeira e supervisora local. Seu olhar clínico é uma mistura das duas profissões e, para ela, o trabalho da higiene é de “extrema importância”. “Ajudamos a minimizar o risco de transmissão, infecção, seja por outros patógenos ou até mesmo a contaminação cruzada e, além disso, melhoramos o ambiente em que o paciente está internado”, reforçou.




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