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Falso dentista é preso durante consulta
Por Luciano Cavenagui
Do Diário do Grande ABC
29/03/2006 | 08:25
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Zerivaldo Marcolino de Sena, 38 anos, foi preso terça-feira no Jardim Telma, em São Bernardo, acusado de atuar como dentista irregularmente, sem ter curso superior e registro no CRO (Conselho Regional de Odontologia). Segundo a polícia, Sena utilizava um registro falso e atendeu, durante três anos, aproximadamente 500 pacientes.

O consultório do falso dentista funcionava na rua Modesto Selera. Por meio de uma denúncia anônima enviada pelo Disque-Denúncia, policiais do 3º DP de São Bernardo tomaram conhecimento da acusação e passaram a investigar Sena, duas semanas atrás. Segundo a polícia, Sena clonou o registro do CRO – de número 13.853 –, que pertence a uma profissional que trabalha no bairro Indianópolis, na zona Sul de São Paulo, e utilizava o número em carimbos.

Para prender o acusado em flagrante, terça-feira pela manhã um investigador se passou por cliente e foi atendido por Sena. O falso dentista analisou os dentes do policial e entregou um orçamento de R$ 1,6 mil, para curar diversas cáries. Após Sena passar o orçamento ao novo cliente, outros policiais entraram no consultório e detiveram o acusado.

“Esse falsário foi preso por exercício ilegal da Medicina Dentária ou Farmacêutica, conforme o artigo 282 do código penal. A pena prevista é de seis meses a dois anos de prisão. Fizemos um trabalho de investigação e, felizmente, conseguimos detê-lo em flagrante”, afirmou o delegado-titular do 3º DP, Kazuyoshi Kawamoto.

“Eu só fazia próteses, não realizava trabalho de dentista como extração e canal, por exemplo”, defendeu-se Sena. Entretanto, diversos pacientes e até mesmo sua mulher, que trabalhava como atendente no consultório, confirmaram que Sena executava todos os procedimentos de um dentista profissional regulamentado.

“Cheguei a realizar um tratamento de canal com ele por causa da colocação de próteses em quatro dentes. A primeira consulta foi em dezembro do ano passado. As próteses ficaram péssimas e eu preciso fazer ajustes. Meus dentes não fecham direito”, conta o administrador Givaldo Palmeira, 35 anos. “Trabalho perto do consultório e resolvi aceitar um orçamento dele, principalmente por causa do preço – R$ 2,8 mil. Os outros dentistas me cobravam o dobro. Mesmo assim, não desconfiei que pudesse ser um charlatão. O que era barato saiu caro”, completa.

“Hoje (terça-feira) eu iria fazer a segunda consulta. Na semana passada, eu estava com um dente infeccionado e esse dentista fez a limpeza. Só que meu dente começou a doer de novo e esperava que ele desse um jeito. Fiquei surpreso ao saber da prisão”, relata o vigia Luís Andrade de Oliveira, 47 anos. “Meu marido fazia de tudo – extração, obturação e prótese. Quando o conheci, há três anos, ele tinha me falado que era formado em Odontologia. No final deste ano, ia se formar também como protético”, contou Lúcia Maria do Nascimento Ramirez, 60, que trabalhava como atendente no consultório.

Seqüelas – O CRO afirmou que vai entrar em contato com todos os pacientes que foram tratados por Sena e examiná-los, com o objetivo de checar se eles não sofreram nenhuma seqüela. “Esse caso é gravíssimo, pois a saúde das pessoas atendidas pode correr risco”, afirma o fiscal do conselho, Roberto Augusto Ribeiro. Ele diz que, em 2004, o CRO chegou a fiscalizar Zerivaldo Marcolino de Sena por denúncias de distribuição de panfletos com preços, o que é proibido pelo órgão. “O número de registro dele não batia. Voltei diversas vezes ao consultório, mas não o encontrava. Outro dentista, devidamente registrado, havia afirmado que tinha comprado o consultório de Sena”, conta.

Segundo a polícia, esse outro dentista é Renato Vergili, que dividiria o consultório com Sena, mesmo sabendo que o acusado não poderia exercer a profissão. Vergili ainda não foi localizado pela polícia. “A Comissão de Ética do conselho irá analisar o comportamento de Vergili e ele poderá sofrer punições, principalmente a cassação de seu registro, o que o impossibilitará de exercer a profissão”, afirma Ribeiro, o representante do CRO.



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