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Fotógrafa registra agressoes na delegacia
Do Diário do Grande ABC
03/01/2000 | 09:29
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Pela segunda vez em 11 anos de profissao, a fotógrafa Sheila Chagas precisou entrar em uma delegacia para registrar agressoes físicas cometidas pela Polícia do Exército (PE). Na tarde deste domingo, acompanhada da advogada Denice Jardim, Sheila relatou ao delegado da 13ªDP (Posto 6), em Copacabana, Wilson Raimundo de Melo, a violência de que foi vítima nas dependências do Forte de Copacabana durante o Réveillon. Após o depoimento, Sheila destacou que a pior agressao partiu do presidente Fernando Henrique Cardoso. ``Após contar a ele que me bateram e me chamaram de vagabunda, ouvi do presidente as seguintes frases: `Estas coisas menores a gente passa por cima. Afinal nós estamos em uma festa'. O que posso esperar depois de ouvir isso?', desabafou a fotógrafa.

Nervosa e ainda sentindo dores pelo corpo, Sheila mostrou um hematoma na cintura, resultado dos pontapés que recebeu dos policiais do Exército. Segundo ela, os soldados a pegaram depois que viram que ela havia registrado com sua câmera o fotógrafo do JB Fernando Bizerra sendo arrastado para uma escada no interior do Forte. ``Ele apanhava muito e foi arrastado pelas escadas levando socos. Quando virei as costas, fui agarrada. Fomos levados para um alojamento e continuamos apanhando', contou.

A truculência dos militares relembrou outro episódio vivido pela fotógrafa em 1994. Sheila Chagas cobria, pelo jornal O Fluminense, a prisao de dois soldados do Exército que haviam desviado armamento de um quartel e prestavam depoimento na 74ªDP (Alcântara), em Sao Gonçalo. Ao fotografar os acusados saindo da delegacia, ela foi agredida pelos militares que escoltavam os soldados.

``Bateram tanto no meu rosto que perdi um dente, tive o nariz quebrado e fiquei com os olhos roxos', lembrou. Na época, com apoio da comissao de Direitos Humanos da OAB de Niterói, Sheila chegou a prestar depoimento num processo na Justiça Militar. Mas até hoje o processo nao teve resultado. ``Acho que acabou arquivado. Só resolvi registrar esta nova agressao em respeito aos meus colegas de profissao', destacou.

Para Sheila, o momento mais difícil, no Forte de Copacabana, foi quando ela se recusou a entregar o filme aos soldados. ``Desesperado, o Bizerra se arrastou até onde eu estava e gritou: `Entrega logo, por favor, senao eles vao matar a gente de tanta porrada.' Foi o Bizerra que abriu minha máquina, chorando, e entregou o filme', contou Sheila.




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