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Nanicos buscam seu lugar
Por Mark Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
30/08/2010 | 07:32
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Quatro dos nove candidatos ao governo de São Paulo não aparecem nas pesquisas de intenção de votos. E atribuem a condição ao sistema eleitoral antidemocrático brasileiro, que, segundo eles, privilegia as candidaturas financiadas pelo setor privado e os impedem de sonhar com a vitória em 3 de outubro.

Apesar de terem de conviver com esta realidade, os chamados nanicos querem se fazer ouvir. Se chegar ao Palácio dos Bandeirantes parece algo inalcançável, aproveitam a pouca exposição que têm na mídia para tentar mobilizar a sociedade a lutar por seus direitos e oferecer resistência ao governo.

Os quatro candidatos são de esquerda, e, não à toa, possuem discursos e propostas semelhantes. Anaí Caproni (PCO), Igor Grabois (PCB), Luiz Carlos Prates, o Mancha (PSTU) e Paulo Bufalo (Psol) defendem o aumento do salário-mínimo paulista; a reestatização de empresas privatizadas; o calote na dívida pública; e a redução da jornada de trabalho sem redução de salário.

Dos programas de governo do quarteto o mais consistente é o de Paulo Bufalo, único nanico que conseguiu se infiltrar nos debates televisivos com os grandes.

O documento é dividido em dez tópicos. Sobre a suspensão do pagamento da dívida, é enfático. "Calote já foi dado na sociedade, com a venda do patrimônio do Estado a preço de banana."

Talvez por não ostentar esperança de vitória, Anaí Caproni não soube explicar com clareza como pretende implantar suas propostas como governadora. "Esta campanha antidemocrática impede a expectativa de que sejamos vitoriosos. Não existe eleição, mas sim um referendo entre PT e PSDB, que utilizam a máquina para captar financiamento privado para suas campanhas."

Igor Grabois segue a linha de pensamento revolucionário de Ivan Pinheiro, candidato do PCB à Presidência: reconhece as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) como organização política e se diz solidário ao governo cubano. O que isso tem a ver com São Paulo? Segundo o candidato, tudo. "Nós (comunistas) defendemos a criação de frente política além do período eleitoral. Somos internacionalistas."

Mancha acredita que como governador possa intervir efetivamente para a redução da jornada de trabalho sem redução de salário. "Vamos fazer as empresas cumprirem suas obrigações, sem isenção de impostos, e, através da mobilização dos sindicatos, conquistar a redução da jornada de trabalho."

Pelos movimentos dos sem-gravatas

Os discursos quase que uníssonos dos esquerdistas são recheados por verbetes pró-socialismo e comunismo. Mas, na corrida ao governo de São Paulo, termos como antiimperialismo, antiburguês, anticapitalismo, neoliberal e antidemocrático ganharam um reforço: a gravata (ou a falta dela).

Curiosamente o acessório passou a ter destaque na campanha através de um ataque de Geraldo Alckmin (PSDB) a Aloizio Mercadante (PT) e Celso Russomanno (PP), que, segundo o tucano, se uniram para atacá-lo no debate da Rede Bandeirantes. "Vemos aqui a aliança entre o PT e o malufismo. Até as gravatas (vermelhas) são iguais."

Único representante da bancada dos desgravatados, Paulo Bufalo aproveitou para lembrar sua opção por não vestir o acessório. De acordo com o socialista, deixar o pescoço livre tem um propósito simbólico. "A gravata amarra as candidaturas financiadas pelo setor privado", considera.

Neste raciocínio, Bufalo ganha a solidariedade nanica. "Nosso tempo de televisão é mínimo comparado ao das campanhas financiadas pelas grandes empresas. Por isso nossa meta é criar movimento social que leve as propostas adiante. Queremos resgatar o socialismo", traduz Mancha.

Igor Grabois deixa claro que seu programa de governo foi elaborado para beneficiar os sem-gravatas. "Defendemos a construção do poder popular, com a participação ativa dos movimentos sociais nas decisões de governo", ressalta o comunista, que apoia o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).

Anaí Caproni faz coro ao adversário. "A filosofia do partido é que um eventual mandato não conseguirá alterar a questão social. As mudanças necessárias só serão conquistadas quando nossas propostas tiverem o apelo popular. Queremos o fim do monopólio".




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