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Público se identifica com Madame Gioconda
Por Gabriela Germano
Da TV Press
25/11/2007 | 07:00
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Marília Pêra é abordada nas ruas por pessoas que acham sua personagem Gioconda, em Duas Caras, engraçadíssima. Por mais que na novela de Aguinaldo Silva ela esteja envolvida em uma discussão séria: a do preconceito racial. De acordo com a atriz, muita gente se identifica com a madame que ela encarna no folhetim das nove. “As mulheres se aproximam e dizem que são iguais à Gioconda. A personagem sabe que é racista, mas se recrimina”, resume Marília, com um sorriso discreto.

Este ano a atriz completa 60 anos de carreira. Pisou pela primeira nos palcos ao lado de seus pais, que eram atores de teatro, quando tinha quatro anos. Apesar de já ter vivido figuras inesquecíveis na TV, como a Serafina Rosa Petrone, em Uma Rosa Com Amor, de 1972, e Rafaela, de Brega e Chique, em 1987, Duas Caras é a primeira novela das nove que Marília faz. E ela está feliz com a estréia no horário nobre.

Confira os principais trechos da entrevista:

Em Duas Caras, Gioconda está diretamente envolvida com a questão do preconceito racial. Como é, para você, defender uma figura com esse perfil?

MARÍLIA PÊRA – É obrigação da TV aberta ter uma função educativa. E Duas Caras levanta discussões sensibilíssimas com muita graça. A minha personagem e a do Stênio Garcia dizem barbaridades. Ela se recrimina porque sabe que é racista, mas gostaria de não ser.

Você está completando 60 anos de carreira. O fato de Duas Caras ser a sua primeira novela das nove não é curioso?

MARÍLIA – Sim. Mesmo a maneira como fiquei sabendo que faria Duas Caras foi curiosa. Vi várias notas em jornais dizendo que o Aguinaldo Silva tinha me visto quatro vezes no teatro, mas não tinha tido coragem de vir me chamar. Depois, quando conversamos, cheguei a relutar porque achei que havia muitas atrizes com a mesma idade que a minha na novela e poderia ser complicado. Mas ele está dosando a história de cada uma muito bem e estou achando ótimo fazer esse trabalho.

Além de atuar, você dirige um espetáculo infantil no Rio e ensaia peças para o ano que vem. Trabalhar sem parar é a melhor maneira de comemorar 60 anos de carreira?

MARÍLIA – Só penso nessa comemoração quando alguém me lembra disso. Mas é muito bom, depois de tantos anos, ainda ter paixão e desejo de fazer. O espetáculo infantil, Um Lobo Nada Mau, montei com os meus próprios recursos. Ao mesmo tempo, ensaio aulas de dança e de canto com o Reynaldo Gianecchini e a Camila Morgado, que farão minha peça Doce Deleite, em 2008.

Você poderia viver exclusivamente de teatro. Por que ainda faz televisão?

MARÍLIA – Minha formação de berço é o teatro. Vi minha família inteira apaixonada pelos palcos, mas muito pobre. Então cresci com o ímpeto de vencer nos palcos. Por causa dele, fiz cinema e televisão. Neste momento, tenho um contrato de longo prazo com a Globo, mas sempre assinei por obra.

 

Quando você viveu a vilã Custódia, em Meu Bem Querer, ficou descontente com os rumos que a personagem tomou por influência do público e do Ibope. E em relação à Gioconda, você teme o que poderá acontecer com ela em Duas Caras?

MARÍLIA – Na época de Meu Bem Querer, fiquei preocupada com o fato de a personagem mandar matar duas criancinhas. Achei que não era adequado para uma novela das sete. Mesmo assim, não pude impedir que isso acontecesse. Na televisão, o negócio é o Ibope. Você não pode querer exercer o papel de artista em sua plenitude quando está nesse veículo. Para isso, existe o teatro. Quando sou obrigada a obedecer as opiniões de um grupo de discussão na TV – o que é bem recente – às vezes fico triste. Mas não brigo com essa realidade. Faço a personagem e fico torcendo para que ela caia no gosto do público porque assim eu vou gostar de interpretá-la.



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