Política Titulo
Serra vira 'alvo comum' no último debate
Por Fernão Silveira
Do Diário OnLine
04/10/2002 | 02:25
Compartilhar notícia


Representante do governo e mais cotado para fazer o segundo turno com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o tucano José Serra (PSDB) se transformou no alvo mais exposto a críticas durante o último debate entre os quatro principais presidenciáveis, nesta quinta-feira, na Rede Globo de Televisão. As maiores estocadas partiram dos rivais mais imediatos de Serra: Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS), aspirantes à mesma vaga contra Lula no 2º turno. Mas o 'Lulinha paz e amor' também não foi poupado, sofrendo críticas de todas as frentes e sendo vítima de uma 'pegadinha' de Garotinho.

O maior alvo de todos, entretanto, foi o modelo vigente nos oito anos do atual governo. Nem Serra poupou o mentor Fernando Henrique Cardoso, insistindo ter sido crítico do modelo de paridade cambial quando foi ministro do Planejamento e afirmando que "o Brasil está cheio de problemas". O slogan de campanha "mudança segura" também não foi esquecido por Serra. Promoção do desenvolvimento das regiões Norte e Nordeste, mudanças na Previdência Social, crise na área energética e ausência de reforma política, por exemplo, foram pontos atacados de forma unânime entre os quatro.

Ciro, Garotinho e Lula chegaram inclusive a fazer 'tabelinha' em seus confrontos diretos para estocar Serra e FHC. Ciro e Lula, ao comentarem a Saúde no atual governo, fizeram questão de reconhecer os avanços do Brasil no programa de prevenção à Aids, mas ressaltaram que "muita coisa piorou". Os dois foram unânimes ao dizer que o governo, do ministro Serra, não investiu em saneamento básico. Eles ainda tacharam de fraco o programa preventivo dos tucanos. Ciro ressaltou o aumento no número de mortes por malária, febre amarela e dengue.

"Eu lamento que você, mais uma vez, não tenha feito nenhuma pergunta sobre Saúde para mim, Lula. Espero que no 2º turno a gente possa debater esse assunto", reclamou Serra, quando o petista fez uma pergunta sobre crise energética e privatizações.

A 'confiança' de Serra em um 2º turno com Lula irritou Ciro Gomes. "Ao ver a arrogância do candidato do governo, eu pergunto a você, Garotinho, se esta eleição já está resolvida mesmo ou o debate vai ajudar?", levantou a bola. "O candidato do governo fala que está na frente. Mas, na verdade, ele sabe que não está", contra-atacou Anthony Garotinho.

Garotinho, por sua vez, manteve a linha de 'único candidato da oposição' e desferiu seus golpes contra todos os rivais, na tentativa de minar votos alheios para chegar ao 2º turno. "Um se aliou ao Collor (Ciro, vinculado, à revelia, à imagem do ex-presidente Fernando Collor de Mello), outro se juntou ao Sarney (Lula, apoiado pelo ex-presidente José Sarney) e outro não quer o Fernando Henrique (Serra). Desde o início, eu fui o único que só teve uma face", discursou o socialista.

E partiu de Garotinho a estocada mais doída contra Lula. O socialista perguntou o que o petista faria com a Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (CIDE), imposto que incide desde janeiro sobre os combustíveis. Lula tergiversou e deixou transparecer que não tinha domínio sobre o assunto abordado. "É normal o candidato Lula não saber, são muitas siglas", cutucou Garotinho pouco mais tarde. Até mesmo Ciro comentou com ironia a "pegadinha das siglas" promovida por Garotinho.

O candidato do PSB também partiu para uma investida de peso contra José Serra. Garotinho questionou Ciro sobre confisco de poupanças e investimentos, caso do 'corralito' argentino. Ao ouvir de Ciro a garantia de respeito às economias do povo, Garotinho evocou a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 175, de 1995, assinada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o então ministro do Planejamento, Serra. Na visão do socialista, a PEC previa o confisco. "A tradução disso aí é simples: foi aquilo que o Collor fez com a caderneta de poupança", confirmou Ciro. "Não tem nada a ver com corralito, poupança. É algo que se faz sobre combustível, preços muito elevados", defendeu-se Serra.

O tucano teve seu troco. O ex-governador do Rio foi vítima de uma das ironias mais marcantes do debate. Ao questionar a postura de Serra sobre o fim das agências de desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e Nordeste (Sudene), ambas corroídas pela corrupção, Garotinho foi alvo de Serra. "Você acertou a emissora, mas errou o programa. Nós não estamos no Casseta e Planeta", disse o ex-ministro, se esquivando ao ser confrontado com uma suposta mudança de opinião sobre a medida correta a ser adotada com os problemas das duas agências. Beneficiado com direito de resposta, Garotinho exigiu "respeito" e disse que a ocasião não era para "brincadeiras".

Serra usou a Prefeitura de São Paulo, administrada pela petista Marta Suplicy, para atacar Lula em duas ocasiões do debate. Logo no começo do 2º bloco, o tucano questionou por que a capital paulista tem "uma das tarifas de ônibus mais caras do país". Lula fez uma defesa veemente da gestão de Marta e reconheceu não saber o preço da tarifa - "moro em São Bernardo", alegou. Ao dizer que a prefeita herdou uma cidade "falida" após oito anos de Paulo Maluf (PPB) e Celso Pitta (PSL), o petista alegou que Serra não era autoridade para criticar os transportes paulistanos. "Eu fiz campanha em São Paulo todos os dias e nunca ninguém veio se queixar dos ônibus para mim. E você, que não anda de ônibus, vem reclamar?"

A segunda estocada ao PT paulistano foi na habitação. Serra questionou sobre medidas para combater o déficit habitacional e ouviu Lula afirmar que o programa do PT "foi o mais elogiado do Brasil, inclusive entre o PSDB". O tucano saiu-se com nova alfinetada contra Marta Suplicy. "Então ela deveria ler o programa."




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;