Diarinho Titulo Outra forma de olhar
Mais do que os olhos veem

Crianças cegas e com baixa visão tentam driblar dificuldades com otimismo no dia a dia

Tauana Marin
Diário do Grande ABC
13/12/2020 | 07:00
Compartilhar notícia
DGABC


A forma de enxergar o mundo e as pessoas não é igual para todos. E em meio a tanta diversidade há um universo à parte para aqueles que não enxergam ou que apresentam baixa visão.
Atualmente, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), estima-se que a cegueira afete cerca de 39 milhões de indivíduos em todo o mundo e que 246 milhões sofram de perda moderada ou severa da visão. É considerado deficiente visual aquele que apresenta desde ausência total de visão até alguma percepção de luz, sendo possuidores de baixa visão aqueles que têm comprometimento de 30% ou menos de visão no melhor olho após todos os procedimentos cirúrgicos e uso de óculos.
 

Devido a um glaucoma congênito, Victor Faustino Belarmino da Silva, 11 anos, perdeu a visão aos 6. O problema que o menino teve afeta desde recém-nascidos até crianças devido ao aumento da pressão ocular pelo acúmulo de líquido no local, podendo levar à cegueira irreversível. Ele utiliza bengala guia para se locomover, mas a deficiência não o impede de se divertir, já que adora andar de bicicleta e brincar com bola. “Quero ser jogador de futebol ou cientista”, conta.
 

Para Victor, é muito importante que pessoas como ele sejam respeitadas e que possam contar com boas condições para viver bem, como disponibilização de ruas asfaltadas e devidamente sinalizadas, transporte público adaptado e educação de qualidade, por exemplo.

Victor frequenta a rede de educação municipal de São Caetano, onde caminha pelo seu desenvolvimento. “No começo, quando perdi a visão, foi difícil, chato. Depois fui me acostumando e hoje está tudo bem legal. Meus pais me ajudam na rua e na escola tem os cuidadores. Gosto muito de frequentar.” O estudante tem autonomia para tomar banho sozinho, escolhe as próprias roupas, lava louças e ajuda a mãe nas atividades.
 

Iago Silva Muniz, 8 anos, nasceu com baixa visão, nistagmo (quando os olhos se movem de forma involuntária e rapidamente, o que pode borrar ligeiramente a visão) e estrabismo (quando os olhos apontam para direções diferentes). Além dos problemas com a visão, ele é albino (anomalia genética que causa deficiência na produção da melanina, responsável pela pigmentação da pele) e encontra dificuldade de enxergar em lugares muito iluminados.
 

A deficiência visual atrasou seu processo de aprendizagem, por isso ainda não sabe ler. Apesar das adversidades, Iago encontra muitas formas de se divertir, como brincando de carrinhos e ouvindo atentamente histórias e filmes com carros. Para viver de forma melhor, faz uso de lentes corretivas.
 

“Adoro ir à escola e sinto falta agora em casa (devido à pandemia do novo coronavírus), por causa das brincadeiras e dos meus amigos. Me sinto bem com eles. Mas fora da escola ainda falta muito respeito a todos os deficientes.”
Esta reportagem do Diarinho não conseguirá ser lida por Victor e Igor. Eles têm a ajuda da família e amigos para ficar ‘por dentro’ das informações e em relação a todas as notícias escritas.

Inclusão na escola é essencial para todos

A educação para deficientes visuais deve ser baseada nos princípios da inclusão com todos os alunos que frequentam o ensino regular, já que toda pessoa é capaz de aprender. Em alguns municípios, como São Caetano, esses alunos também frequentam a chamada sala de recursos, cujo objetivo central é suplementar ou complementar as atividades que se aplica em sala de aula.
 

No caso específico de alunos cegos ou com baixa visão, são ensinados códigos em Braille. Com esse sistema, a pessoa lê e escreve sentindo as ‘gravuras’ por meio do tato das mãos, já que estão em relevo por meio de diversos pontinhos. É possível ver esses códigos em livros específicos, elevadores e teclados especiais, por exemplo. Alunos com cegueira recebem o material em Braille que são produzidos por uma professora especialista. Os estudantes com baixa visão necessitam de itens ampliados, mas que mantenham o conteúdo programático para cada ano do ensino fundamental.
 

Atividades ao ar livre também fazem parte do cotidiano. Geralmente, o espaço é apresentado previamente para que o aluno tenha noção do ambiente. Nas aulas de educação física, são usadas bolas com guizo e atividades adaptadas.
São Caetano é sede da Fundação Municipal Anne Sullivan, conhecida como Fumas, há 43 anos. Ela lida com casos de deficiências (surdocegueira, surdez, transtorno do espectro do autismo, paralisia cerebral e outras síndromes) e atende pessoas matriculadas na rede municipal. A equipe realiza desde a triagem das avaliações até encaminhamentos médicos. O apoio de entidades especialistas é essencial para que todos possam ter oportunidade de uma vida mais completa possível.

Consultoria de Shirley Monteiro Maciel, professora especialista em deficiência visual da rede de ensino de São Caetano.

Nas HQs e nos desenhos, Dorinha faz parte da Turma da Mônica. Ela aproveita as conversas com os amigos para falar sobre o processo de inclusão;

Moradores de Mauá, Silvia e Nickollas Grecco costumam ir aos estádios para acompanhar o time do Palmeiras. A mãe narra as partidas para o filho, que é deficiente visual e autista, descrevendo lance a lance dos confrontos. No ano passado, a história da dupla venceu o Fan Awards, premiação da Fifa que celebra os casos mais bonitos e apaixonantes de torcedores em relação ao futebol espalhados pelo mundo.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;