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Obra em Diadema invade área privada

Prefeitura abriu duas ruas dentro de terreno particular, não construiu muro e ainda derrubou árvores que faziam parte de culto religio

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
02/07/2020 | 00:01
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*Atualizada às 9h10

Durante obras de urbanização do Sítio Joaninha, em Diadema (leia mais abaixo), a Prefeitura construiu duas ruas que passam dentro do terreno da administradora Michele Ribeiro, 42 anos, e do eletricista Alexandre de Oliveira, 35. Segundo informações da Secretaria de Habitação, a intervenção foi necessária para construção da rede de esgoto. No entanto, os moradores alegam que não foram indenizados e que a administração municipal sequer construiu muro na parte do terreno onde fica a residência da família.

O terreno, uma grande área na Rua Rio Brilhante, foi dividido em três. O muro que havia em toda a extensão da parte que dá frente para a rua citada – os fundos e a lateral agora estão ao lado de vias que ainda não têm nome – foi derrubado e a parte que ficou ameaça cair. A Prefeitura cercou o local apenas com uma tela e agora os munícipes convivem com invasões constantes de seu imóvel.

“Já entraram e nos roubaram pelo menos duas vezes. Fora as vezes em que entram e saem sem levar nada”, reclamou Oliveira. A obra foi realizada em janeiro deste ano e desde então o casal vem tentando que a administração ao menos construa o muro. “Do jeito que está aqui, o fundo da minha casa pode ser atingido por um carro que desça essa nova rua”, argumentou Michele.

A família adquiriu o terreno em 1989. Na área também existe um terreiro de Candomblé, legalmente constituído, onde havia várias árvores consideradas sagradas, ervas diversas usadas nas cerimônias, além de um poço de água, que também era usado nos preceitos. “Quando fomos chamados para uma reunião sobre as obras, minha maior preocupação era com as árvores e ervas que usamos nos nossos preceitos. Disseram que eles tinham autonomia para tirar o que fosse preciso e que as árvores arrancadas seriam replantadas”, explicou Michele. Também havia árvores frutíferas no terreno. Todas foram arrancadas pela raiz e jogadas no terreno. 

“Um dia, em janeiro, estava trabalhando e eles entraram com as máquinas no terreno. Estava só a minha mãe, que já é idosa”, completou a moradora. “Alegaram que fazia parte do projeto”, completou.

Agora, o casal está acionando a Justiça para que a Prefeitura seja obrigada não só a construir o muro, como a indenizá-lo pelo uso de parte do seu terreno. “A gente tenta falar com eles (administração), mas nunca conseguimos”, completou. “Disseram que era para poder concluir a obra e a gente entende, mas não dá para fazer o bem para os outros e fazer o mal para a gente”, finalizou a administradora

Questionada, a Prefeitura de Diadema informou que a obra teve a concordância dos moradores e se fez absolutamente necessária para a construção da rede de esgoto e para garantir a funcionalidade da via. “O terreno era fechado apenas por uma cerca, que foi retirada para a execução das obras. Após a finalização, a Prefeitura instalou uma nova cerca no local”, relatou a administração, em nota. Os proprietários alegam que a autorização foi dada apenas para que a Prefeitura entrasse no terreno e medisse o perímetro. “Nossa religião é totalmente ligada à natureza, que era preservada aqui. Nós nunca íamos concordar com uma destruição dessas.” 

A equipe do Diário esteve ontem no local e constatou que não existe nenhuma cerca como assegura a Prefeitura, apenas uma tela de plástico em volta do terreno.

Sítio Joaninha tem 1ª fase de urbanização concluída

Oito anos após o início das obras, ainda na gestão do ex-prefeito Mário Reali (PT), a Prefeitura de Diadema entregou na manhã de ontem a primeira etapa das intervenções de urbanização no Sítio Joaninha. As melhorias incluíram asfalto, guias, sistema de abastecimento de água e coleta e tratamento de esgoto e beneficia cerca de 2.000 famílias. As obras foram concluídas no início do ano, mas por causa da pandemia de Covid-19, a cerimônia foi adiada.

As intervenções somam investimentos da ordem de R$ 9,394 milhões, com contrapartida municipal de R$ 3,794 milhões e o restante do governo federal. Somadas as obras de contenção e demolição, a área recebeu aportes de mais de R$ 11 milhões.

Além de realizar a entrega simbólica, o prefeito Lauro Michels (PV) também anunciou o início da segunda fase, com a canalização de 250 metros do Córrego Olaria (identificado na placa da obra como Córrego Nicola Imparato). A canalização seguirá até a ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) que foi construída pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) para atender à comunidade.

O prazo de conclusão da canalização está previsto para oito meses e o investimento será de R$1,8 milhão, sendo R$ 599 mil oriundos do Tesouro municipal e o restante são recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) Billings. A Prefeitura também anunciou que a partir de hoje a linha de ônibus que atende ao bairro vai ampliar o seu itinerário e chegar até as ruas mais altas, atendendo a abaixo-assinado feito pelos moradores. O Diário mostrou em dezembro do ano passado a reivindicação.

Morador do Sítio Joaninha há 25 anos, o vendedor aposentado Caetano do Carmo Ferrera, 61 anos, relembrou o tempo em que as ruas eram de lama e não havia iluminação nem água encanada. “Tudo o que a gente conseguiu aqui, cada etapa, foi com muita luta. Valeu a pena esperar e ver tudo isso, porque teve gente que lutou, morreu e não viu”, relatou. A sindicalista Maria Edneuma dos Santos, 52, uma das lideranças comunitárias, também celebrou a conclusão da primeira fase e lembrou que agora a comunidade sonha com equipamentos públicos, como creche, escola e área de lazer. “Para a gente tudo isso é uma grande vitória. Não temos nem palavras para agradecer”, pontuou. 




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