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Meninas: as grandes esquecidas no drama das crianças-soldado
Por Da AFP
05/02/2007 | 17:48
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Combatentes, não raro escravas sexuais e rejeitadas por suas comunidades, as meninas têm sido as vítimas esquecidas no drama das crianças-soldado.

O assunto foi debatido nesta segunda-feira na Conferência de Paris que reuniu representantes de cerca de 60 países e ministros das Relações Exteriores comprometidos em tirar lições deste esquecimento.

A comunidade internacional preocupa-se há tempos com o problema das 250.000 crianças-soldado no mundo, mas não leva em consideração uma característica específica do drama das meninas: elas chegam a representar 40% de alguns exércitos de jovens combatentes.

Já que se trata de "um fenômeno diferente", é necessário tomar medidas diferentes para ajudar a reintegração das meninas, explicou à AFP Radhika Coomaraswamy, representante especial do secretário-geral da ONU para Crianças e Conflitos Armados. "É preciso que encontremos um mecanismo para reconduzir as meninas dentro do processo (de reinserção) e fazê-las entender que podem obter muitos benefícios com isso", acrescentou, ressaltando que a tarefa é mais árdua porque as meninas preferem se esconder depois de combaterem.

Liliane André, da Federação internacional da Terra dos Homens, lamentou: "Nós nunca pensamos nas meninas. São elas que são as mais mal-tratadas nos exércitos e são as mais difíceis de reinserir nas comunidades".

De volta às suas cidades, as meninas descobrem que suas próprias famílias não as consideram mais como suas filhas porque foram estupradas ou porque tiveram um filho de um comandante inimigo.

"Como fazer para aceitar filhos do inimigo? É tão difícil aceitar os bebês quanto suas mães. Elas vão embora para sempre", constata Kristin Barstad, do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. E por esta razão as meninas, muitas vezes, escolhem ficar com seus torturadores.

"Existe uma espécie de Síndrome de Estocolmo: as moças ficam finalmente ligadas aos pais de seus filhos porque elas não têm outra escolha", afirma o general Babacar Gaye, comandante das forças da Missão da ONU na República Democrática do Congo.

Os participantes da Conferência de Paris insistiram na necessidade do trabalho de "reconexão" social das meninas com suas comunidades de origem e sobre a importância dos Estados também compreenderem que a reinserção das meninas é fundamental.

"A maioria dos países africanos entende que um esforço particular deve ser feito", afirmou Coomaraswamy.

Dez anos depois dos "princípios do Cap", os participantes devem manifestar na terça-feira seu apoio ao "princípio de Paris", segundo o qual um lugar importante será consagrado à discussão da situação das meninas.

As meninas "não pertencem à mesma categoria dos meninos que também são crianças-soldado", explica o projeto de texto dos princípios de Paris, ressaltando que isso é "um ponto essencial a ser examinado no quadro das negociações" entre as partes do conflito.




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