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Flauta no parque
Por Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
01/05/2006 | 10:28
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Ambiente tranqüilo, dia inesperado e a apresentação do melhor da música instrumental brasileira. Os freqüentadores do Parque Central, em Santo André, puderam desfrutar de tudo isso na manhã de domingo, durante o concerto do flautista Altamiro Carrilho, que dividiu o palco com a Orquestra Sinfônica de Santo André, sob regência do maestro Flávio Florence. Na platéia, muitas famílias, casais e pessoas de várias faixas etárias acompanharam a performance do virtuoso instrumentista, que, pela primeira vez, dividiu o palco com a Sinfônica.

Esbanjando vitalidade, Carrilho brincou com a platéia diversas vezes e, do alto de seus 81 anos de idade e 64 de atividade profissional, provou que sua habilidade técnica e entusiasmo continuam intactos. A todo momento, brincava com a idade e lembrava aos espectadores que, após o show, dois CDs produzidos pelo artista de forma independente, Simplesmente Música e Música, Graça de Deus, seriam postos à venda após o show. “Estamos fazendo uma promoção: pague três, leve dois. É um investimento, porque vocês sabem que eu já estou mais para lá do que para cá”, ironizou o flautista, com um sorriso maroto e jovial que, quase sempre, é acompanhado por um piscar de olhos.

Antes de tocar o clássico nordestino Asa Branca, de Luiz Gonzaga (1912-1989), que iniciou uma série de temas populares improvisados composta por canções como Carinhoso e Rosa, ambas de Pixinguinha (1897-1973), Carrilho descontraiu os concertistas. “Eu sei que o meus amigos da orquestra tocam sempre muito concentrados, com o olho na partitura, porque, se um errar pode atrapalhar o colega do lado, mas agora é a hora do recreio”. Na primeira parte do concerto, a Sinfônica executou peças de Mozart (1756-1791), entre elas a abertura da ópera Bodas de Figo e o minueto da serenata em sol maior K525. Interpretou, ainda, temas de Camargo Guarnieri (1907-1993) e Edmundo Villani-Côrtes.

Além de bem-humorado, Carrilho, que foi amigo de Pixinguinha, de quem recebeu conselhos no começo de sua carreira, surpreende o público pelo conhecimento enciclopédico que adquiriu sobre os bastidores da música popular brasileira. Ao anunciar um tema intitulado Zinha, polca contagiante escrita por Patápio Silva (1880-1907), o flautista é capaz de descrever com riqueza de detalhes própria dos mestres a vida do compositor, morto por envenamento aos 27 anos.

Mesmo após o concerto, o virtuose tirou fotos, deu autógrafos e atendeu pacientemente as dezenas de pessoas que se aglomeraram em um toldo próximo ao palco para comprar os CDs. Entre os fãs, o professor de flauta Marcos Luiz de Paula Viana, que levou dois discos de vinil gravados pelo artista, os álbuns Clássico em Choro 1 e 2, lançados no final dos anos 70. “Acompanho ele desde criança. Acho que a mídia deveria dar mais importância a esse tipo de música produzida pelo Altamiro”, afirmou o admirador.

Sobre a experiência de tocar com a Sinfônica, o mestre do choro, que deve voltar a Santo André no final de julho, para repetir a dobradinha com a Sinfônica, em uma apresentação no Festival de Inverno de Paranapiacaba, não escondeu a satisfação. “Senti uma alegria muito grande. O maestro e os músicos são muito competentes e tudo contribuiu para que eu fizesse uma apresentação bonita”, afirmou o flautista, que deve lançar em julho, pela gravadora Biscoito Fino, um DVD duplo sobre sua trajetória.




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