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Irmã Dulce se torna primeira santa do País após canonização

Cerimônia que fez de religiosa baiana a protetora dos pobres contou com 10 mil brasileiros no Vaticano

14/10/2019 | 07:07
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Arquivo/Agência Brasil


 Às 10h34 de ontem no Vaticano (5h34 no horário de Brasília), o papa Francisco oficialmente fez de Irmã Dulce, a Santa Dulce dos Pobres, a 37ª personalidade do País canonizada pela Igreja Católica. Ela é a primeira mulher nascida no País a se tornar santa. A cerimônia, na Praça São Pedro, reuniu, segundo a guarda local, cerca de 50 mil pessoas – 10 mil brasileiros – e fez outros quatro santos: um teólogo inglês, uma freira italiana, uma freira indiana e uma catequista suíça.

“Em honra da Santíssima Trindade, pela exaltação da fé católica e para incremento da vida cristã, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, e Nossa, depois de refletir por muito tempo, ter invocado a ajuda divina e ouvido a opinião de irmãos bispos, declaramos e definimos santos os beatos John Henry Newman, Giuseppina Vannini, Maria Thresia Chiramel Mankidiyan, Dulce Lopes Pontes (Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes) e Marguerite Bays, e os inscrevemos no registro dos santos, estabelecendo que em toda a Igreja eles sejam devotamente honrados entre os santos”, afirmou o papa, no momento solene.

O público aplaudiu fervorosamente. Foi visível o número de brasileiros entre os fiéis. Bandeiras do País e trajes verde e amarelo podiam ser notados em todas as partes da praça.

EMOÇÃO

Em um dos momentos mais emocionantes da cerimônia, foi exibida uma relíquia de Irmã Dulce: um pedaço de osso de sua costela, impregnado em uma pedra de ametista.

O músico José Maurício, 51 anos, considerado curado milagrosamente por graça de Santa Dulce, estava presente. Foi a recuperação de sua cegueira o milagre decisivo para a canonização da santa brasileira. Na homilia, o papa destacou o fato de que dos cinco novos santos, três eram freiras. “Mostram-nos que a vida religiosa é um caminho de amor nas periferias existenciais do mundo.”

Já o primeiro milagre de Irmã Dulce ocorreu em 2001, quando a sergipana Claudia Santos, 50, enfrentava grave hemorragia após o parto do segundo filho e chegou a ficar em coma, com insuficiência renal. Após a equipe médica usar todos os recursos que poderia, a recomendação foi que se preparassem para a morte. “Não poderia deixar de vir. A emoção é muito grande de relembrar tudo aquilo que passou. Hoje a minha fé é muito maior”, afirmou.

O milagre foi oficializado pelo Vaticano em 2011, dez anos após a recuperação de Claudia. “Foi uma bênção de Deus, agradeço primeiramente a Deus e pela intercessão de Irmã Dulce. Ela é minha santinha.”

AUTORIDADES

A comitiva de autoridades brasileiras foi acomodada à esquerda do altar, em espaço reservado para convidados não religiosos. O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB); os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP); da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ); o governador da Bahia, Rui Costa (PT); e o prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM), estavam presentes.

Antes da missa, o padre brasileiro Antonio Maria, o sanfoneiro cearense Waldonys e a cantora baiana Margareth Menezes tocaram e cantaram a música oficial da canonização da freira brasileira.

Religiosa é exemplo de cidadã responsável, aponta o bispo

Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC

Segundo dom Pedro Carlos Cipollini, bispo da Diocese de Santo André, responsável pelo Grande ABC, a Santa Dulce dos Pobres ensina generosidade aos fiéis. “A Irmã Dulce foi uma cidadã responsável, que não ficou de braços cruzados e mostrou que cada um pode dar sua colaboração para acabar com a miséria no Brasil”, afirma.

O religioso destaca que todas as ações da santa foram por caridade e amor a Deus, sem intenções políticas. “O povo, principalmente os pobres, vê (na Santa Dulce) sinal de esperança de que nem tudo está perdido”, assinala. “No meio de tanta violência e ódio, a irmã nos mostra o que tem de melhor nos seres humanos, que é a capacidade de fazer o bem e de ser bom”, completou.

O padre Sidcley Alves Machado, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida localizada no Jardim Zaíra, em Mauá, aponta que a primeira santa brasileira é símbolo de caridade e amor ao próximo. “Ela foi uma mulher de origem simples, mas muito inteligente e que não tinha medo de enfrentar os obstáculos com base na obra de Deus”, observa. 

“Jesus disse: amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei. Isso significa que ele pediu que nós cuidemos uns dos outros e foi assim que a Irmã Dulce fez em vida, além do seu legado, como o hospital que construiu na Bahia”, exemplifica o sacerdote.

Vaticano ressalta dedicação da freira para com os necessitados

Na hagiografia de Irmã Dulce consolidada pelo Vaticano, ela passa a ser apresentada como alguém que “desde a infância, se destacou por uma grande sensibilidade para com os pobres e necessitados”.

“Sua caridade era maternal, carinhosa”, diz o texto, impresso no livreto da canonização. “A sua dedicação aos pobres tinha uma raiz sobrenatural e do Alto recebia forças e recursos para dar vida a uma maravilhosa atividade de serviços aos últimos.” O documento ainda afirma que, quando a freira morreu, já gozava de “grande fama de santidade”.

BIOGRAFIA

Nascida em 26 de maio de 1914 em Salvador, Irmã Dulce foi batizada Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes. Era filha do dentista e professor da Universidade Federal da Bahia, Augusto, e da dona de casa, Dulce. Perdeu a mãe aos 7 anos e, por isso, adotou seu nome na vida religiosa, aos 19 anos – quando ingressou na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus.

Aos 13 anos, começou a acolher doentes e moradores de rua em sua casa. Criou o movimento operário cristão e fundou a organização que existe até hoje. Em 1948, fundou o Cine Teatro Roma, palco de shows de grandes nomes da MPB.

Ainda em vida, recebeu o apelido de “o anjo bom da Bahia”. “Miséria é a falta de amor entre os homens”, dizia a freira, indicada ao Prêmio Nobel da Paz em 1988. Seus últimos 30 anos de vida foram difíceis por conta de enfisema pulmonar. Morreu em março de 1992.




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