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Histórias de fé movem romeiros do Grande ABC até Aparecida

Moradores da região partem hoje em caminhada de 190 quilômetros até o santuário nacional

Por Bianca Barbosa
Especial para o Diário
07/10/2018 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Fé e gratidão são os sentimentos que movem anualmente peregrinos do Grande ABC até o Vale do Paraíba, onde fica o Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. O caminho de aproximadamente 190 quilômetros é feito a pé, enfrentando cansaço e intempéries da natureza. Há quem acredite, entretanto, que não é por acaso que as celebrações de Nossa Senhora e do Dia das Crianças sejam na mesma data. Caso do personal trainer Rodrigo de Oliveira Cervan, 37 anos, e da mulher, a supervisora administrativa Katariny Cervan, 35.

Em 2016, ela ficou grávida e, pouco tempo depois, descobriu ter a síndrome de Help, complicação obstétrica que traz riscos tanto à mãe quanto ao bebê. O tratamento requer o parto, mesmo que a criança seja prematura. Aquele foi o primeiro ano de romaria que o personal participava, aproveitando para agradecer a gravidez da esposa. “No meio do caminho ela me ligou, disse que estava no hospital por causa da pressão, mas estava tudo bem. Depois de um tempo, meu cunhado ligou, disse para eu voltar, pois a bebê iria nascer. Entrei em pânico”, contou. A bebê nasceu enquanto o pai ainda estava na estrada, mas a recém-nascida aguentou apenas um dia de vida. “Ela morreu no dia de Nossa Senhora. A pior dor do ser humano é enterrar um filho”, considera.

O momento difícil não gerou revolta. Pelo contrário, fortaleceu as orações endereçadas à Nossa Senhora. “No ano seguinte, completei a romaria e, chegando aos pés da imagem, fiz um pedido”. Cervan inicia, hoje, jornada de agradecimento à padroeira pela chegada da filha, Elisa Maria. “Fiz um boné com os motivos da minha romaria com a minha família”, contou sobre o adereço que vai levar durante a viagem.

Cervan participa do grupo de romeiros coordenado pelo administrador de empresas Marcelo Teixeira Pinto, 41. “O Rodrigo tem uma história de fé marcante. Temos orgulho de tê-lo com a gente na caminhada”, destacou.

A romaria está no sexto ano de realização. “A gente vê muitos milagres acontecendo no percurso”, observou Pinto sobre vez em que um romeiro, prestes a desistir da caminhada, se questionou sobre o porquê de estar ali. “Ele sentou no asfalto. Ia pedir para a família buscá-lo. Do nada, um senhorzinho atravessou a pista, entregou um terço ao romeiro, e suplicou para que ele levasse o objeto aos pés da santa, pois não tinha condições de ir. O homem levantou, olhou na nossa cara e falou: ‘Vamos continuar’”, revelou.

O grupo espera contar com 450 a 480 pessoas. “Temos ônibus de apoio, no caso de alguém não aguentar. São cinco dias que vão machucar (o pé), só que você pega esse aprendizado e leva para o dia a dia”, afirmou Pinto.

Apesar das dificuldades, no auge dos 73 anos, Benedita Lázara Pereira Bueno fará o caminho inteiro. “É a terceira vez que vou. Faço só para agradecer pela minha saúde e pela dos meus filhos e netos”, falou. Ela descreve como maravilhoso o sentimento de chegar ao santuário a pé, após a caminhada. “Sempre tive muita fé, principalmente por Nossa Senhora de Aparecida.”  

Preparos físico e espiritual são indicados

Além dos romeiros que fazem o caminho durante o mês de comemoração da festa de Aparecida, há também quem opte por outras datas, como é o caso de julho. O professor universitário Luiz Silvério Silva, 67 anos, faz a peregrinação há cinco anos pelo Caminho da Fé, que começa na cidade Águas da Prata, no Interior paulista, e vai até o santuário nacional. “Frequento a igreja desde pequeno, através do ensinamento da minha mãe. Aprendi a gostar de novena e peguei amor forte por Nossa Senhora”, contou. Ele percorre total de 325 quilômetros em 11 dias. 


“O importante é o preparo espiritual. Na caminhada você tem momentos de silêncio. É você e Deus. Preparo psicológico e físico são importantes.” Silva aconselha todos a experimentar a fé. Ele diz que chegar ao santuário é indescritível. “Quem deseja ter essa experiência, faça. Vale a pena.” 



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