Setecidades Titulo Cirurgias malsucedidas
Médico de mutirão será indiciado

Inquérito policial sobre cirurgias malsucedidas em S.Bernardo responsabilizará equipe por lesões corporais culposas

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
20/05/2016 | 07:00
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André Henriques/DGABC


O inquérito policial instaurado na Delegacia de Proteção ao Idoso de São Bernardo para apurar as falhas do mutirão da catarata, que deixou 18 idosos cegos e um morto, indiciará o médico responsável pelos procedimentos, Paulo Barição, e sua equipe por lesão corporal culposa – quando não há intenção. Conforme sindicância interna da Secretaria de Saúde da cidade, a infecção por bactéria em 22 dos 27 submetidos à cirurgia foi causada pelo uso de materiais não esterilizados e ausência de procedimentos de desinfecção durante as operações.

A previsão do delegado responsável, Gilberto Peranovich, é que o processo seja concluído dentro de, no máximo, 15 dias. “O médico e a equipe responsável serão chamados para comparecer à delegacia e serão indiciados formalmente com base no artigo 129 do Código Penal. Estou com 20 laudos do IML (Instituto Médico-Legal) que apontam lesão grave nos pacientes”, explica. Conforme a lei, a pena pode variar de dois meses a um ano de reclusão e é cumulativa em relação à quantidade de vítimas – uma delas não se apresentou à delegacia.

Depois disso, o processo será apresentado ao MP (Ministério Público) do município, que dará prosseguimento ao caso. “Ainda vai faltar concluir a questão do óbito, porque é precipitado falar em homicídio culposo, tendo em vista que o paciente já tinha algumas doenças preexistentes. Estou na dependência de ouvir os médicos do Hospital das Clínicas do Estado”, complementa o delegado.

A vítima fatal é o aposentado Pelegrino Focher Riatto, 74 anos, que sofreu complicações após o procedimento: AVC (Acidente Vascular Cerebral), trombose (coagulação do sangue no interior das veias) e não resistiu. A família acredita que a morte é consequência da infecção ocular adquirida na cirurgia de catarata.

Entre os 18 cegos, dez pacientes submetidos às cirurgias realizadas no Hospital de Clínicas da cidade, no dia 30 de janeiro, precisaram remover o globo ocular devido à infecção pela bactéria Pseudomonas aeruginosa. Um deles é a aposentada Maria da Glória Batista Almeida, 72. Além do olho esquerdo, a moradora de São Bernardo perdeu também a autonomia. “Ela morava sozinha, ia à igreja e ao mercado. Agora, ela vive com a minha irmã. Perdeu a alegria. Ficou com uma tremedeira como sequela que a impede até de segurar um copo”, destaca a filha, a vendedora Evani dos Santos Almeida, 35.

Assim como as demais vítimas, a família entrou com ação na Justiça que pede indenização pelos danos sofridos e espera punição aos responsáveis. “Sabemos que não vai trazer a saúde dela de volta, mas é o mínimo que ela merece”, considera Evani.

O caso ainda é alvo de inquérito civil, instaurado pelo MP de São Bernardo e conduzido pelo promotor de Saúde Pública Marcelo Sciorilli. O órgão informou que aguarda informações complementares da Prefeitura, além da conclusão do inquérito policial, para dar prosseguimento. Desde o início do processo de investigação, o contrato entre a Prefeitura e o Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista, terceirizada contratada para realizar os serviços oftalmológicos, está suspenso. A equipe do Diário não teve sucesso nas tentativas de contato com o médico Paulo Barição.




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