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Romance com o dedo na ferida

Jornalista da região, Eduardo Reina coloca
nas prateleiras o livro ‘Depois da Rua Tutoia’

Vinícius Castelli
08/03/2016 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


 Um bebê roubado, um pai assassinado e uma mãe presa. Uma história baseada em fatos reais e romanceada pelo escritor e jornalista de São Bernardo Eduardo Reina. O livro Depois da Rua Tutoia (11 Editora, 240 páginas, R$ 53,90, em média, e com pré-venda no site www.11editora.com.br) ganha vida e conta a história de Verônica, que é tirada dos pais, militantes de esquerda, por agentes da ditadura militar.

Ao longo das páginas, personagens fictícios se unem a personagens reais para dar vida ao romance. “A história começa com o aparelho estatal repressor na cidade de Mauá, com casal que trabalhava em fábrica de cerâmica”, conta o autor, que ao longo da pesquisa feita para escrever a obra se deparou com diversas histórias curiosas, de luta, de vida e de tristeza.

A criança foi levada para Belém e criada por outra família. “Escrevi como se fosse uma grande reportagem, só não é porque não tenho todos os documentos para provar tudo”, explica ele, que diz que quando o assunto é ditadura o acesso às informações é mais difícil. Reina conta que no Brasil há apenas um único caso registrado oficialmente de criança roubada dos pais nos ‘anos de chumbo’, o de uma empresária que hoje tem 41 anos. “Ela é filha de um ex-guerrilheiro do Araguaia – movimento de luta armada que aconteceu nos anos de 1971 e 1975 na divisa entre Tocantins e Pará.”

O autor conta que, se levar à risca, 90% dos personagens do livro são reais, “mas mudei alguns nomes”, explica. Já a protagonista, Verônica, segundo o autor, representa diversas pessoas. “No Brasil não tem mais casos – registrados – de bebês roubados durante a ditadura militar. Na Argentina, foram 500 crianças e 149 já foram identificadas. Daí, procurando na Justiça, vi que tem outros oito que podem ser de bebês roubados de militantes na ditadura”, explica o jornalista.

Reina conta que, mesmo quando encontra pessoas que sofreram com a repressão no Brasil, muitas não conseguem tocar no tema, tamanha brutalidade sofrida. “Um ex-professor meu de Jornalismo, quando tentamos falar a respeito disso, ele abaixa a cabeça e não consegue”, diz.

Apesar de ser um assunto sério, Reina lembra que se trata de romance e garante um fim inusitado na trama. Lembra também da importância de todos, inclusive os jovens, saberem da trajetória de seu País. “O pessoal de 18, 20 anos desconhece essa parte da história. E até os de 30, eles não conseguem entender o que foi a ditadura militar e a brutalidade pela qual as pessoas passaram”, explica ele, que tem 52 anos e viveu um pouco do período. “Naquele tempo já tinha gente que não sabia o que acontecia ali. Tem de saber o que se passa para entender que País é este”, afirma.

Além de contar a história da mãe de Verônica, como viveu depois do roubo da filha e como foram as interrogações e dificuldades da criança,Depois da Rua Tutoia – local onde funcionava o DOI-Codi de São Paulo (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna) – serve para questionar diversos pontos. “O livro mostra o que a mulher sofreu na ditadura militar e os empresários que financiaram isso. Qual é a responsabilidade de um cara que passou o chapéu na época e que hoje continua ganhando dinheiro?”.




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