Cultura & Lazer Titulo
Saga de um brasileiro
Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
16/05/2008 | 07:07
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O documentarista carioca Eduardo Escorel conheceu o agricultor alagoano Genivaldo Vieira da Silva em 1996, quando era um dos diretores responsáveis pela série de comerciais Gente que Faz, do extinto Banco Bamerindus. Começou ali a história de encontros e desencontros que desembocou no mais recente documentário de Escorel, O Tempo e o Lugar, que estréia nesta sexta-feira apenas na Capital.

À época, Geno, como é conhecido na pequena cidade de Inhapi, região semi-árida de Alagoas, liderou a criação de cooperativa que impulsionava a agricultura da região. Escorel se impressionou primeiro com uma história que o agricultor contou. "Ele me disse que anos antes apareceu um andarilho na cidade que se dizia ‘adivinhador de água' e ofereceu seu serviço para encontrarem um local para escavar um poço. A população fez um contrato de risco com ele: se ele não encontrasse água, não o pagariam. Pois o homem encontrou, recebeu o dinheiro e partiu. Fiquei muito impressionado", relata Escorel.

Na ocasião, o cineasta gravou um depoimento de Geno em áudio, em que ele contava sua trajetória como membro do Movimento Sem Terra e na Pastoral da Terra na Igreja Católica. "Creio que fiz entre 20 e 30 vídeos publicitários para aquela série. O Genivaldo, supercarismático, foi o único que me motivou a isso."

Nove anos mais tarde, sem nunca mais ter falado com o agricultor, Escorel resolveu retomar contato e gravou novos depoimentos. "Minha vontade era escrever um roteiro de ficção inspirado na trajetória dele. O projeto se perdeu, mas vi que essa história precisava ser conhecida além da região onde ele mora", relembra o diretor. Com dinheiro para produção, voltou a Inhapi pela terceira vez, com a intenção clara de produzir o documentário. A equipe acompanhou Geno, um homem de carisma inegável e grande desenvolvimento intelectual, apesar de só ter estudado por quatro anos, por três semanas em 2007.

O documentário, um dos mais assistidos durante o Festival É Tudo Verdade, remonta os antigos depoimentos do agricultor que hoje leva sua militância o mais distante possível de partidos (foi expulso do PT depois de se candidatar a prefeito em 2000), religião e movimentos (aprendeu táticas de guerrilha quando fez parte do MST), aos da mulher, Lia e dos seis filhos. Além da luta por reforma agrária, a família também é motivo de orgulho: Geno admite que foi a mulher, Lia, que criou praticamente sozinha os seis filhos. Os quatro homens e as duas mulheres têm ensino médio completo (alguns são técnicos agrícolas, sendo que um está na faculdade de Engenharia) e nenhum deles trabalhou para latifundiários.

Geno viu o filme finalizado e, apesar das críticas - que faz ao MST e que recebe do filho Claudemir, filiado ao PT e considerado ‘radical' pelos irmãos - não quis mudar nada. Mesmo assim, se emocionou muito na estréia.

A saga militante da família Vieira da Silva continua. O filho radical deve se candidatar a vereador este ano e concorrerá com o irmão Clobes, que deve sair pelo PSB. Escorel gostaria de cobrir as convenções em julho, a campanha e as eleições, mas acha que não conseguirá patrocínio até lá.




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