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Fotografia vai além de um clique

Marcio Scavone coloca em seu novo livro algumas reflexões sobre a arte de registrar imagens

Miriam Gimenes
12/08/2018 | 07:00
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Marcio Scavone/Divulgação


 Em tempos em que com apenas um smarthphone em punho é possível fazer inúmeras imagens, a questão é: o que diferencia um simples registro fotográfico da arte? É a fim de responder essa e outras questões que o fotógrafo Marcio Scavone – que teve fotografias premiadas com o Leão de Ouro em Cannes e o Grand Clio em Nova York – acaba de lançar seu 11º livro Copo de Luz – Ensaios sobre Fotografia como Arte e Memória (Alice Publishing Editora, 281 páginas, R$ 70, em média).  

Na obra, que de certa forma contribuiu para seu reconhecimento como um intelectual garantindo a cadeira de numero 9 na Academia Paulista de Letras recentemente – o primeiro artista visual a conseguir tal feito –, ele aborda desde os primórdios da história da fotografia até a revolução digital. Também leva o leitor a conhecer os movimentos estéticos do século 20, os grandes mestres que Scavone chama de ‘velhos piratas’ e faz uma reflexão do impacto na vida do ser humano. “Sempre escrevi sobre a fotografia e esse livro, além de ser um ajuste de contas com a palavra escrita, fala das minhas referências, das minhas paixões dentro e fora da fotografia”. explica.

O nome do livro é uma referência à fotografia que ilustra a capa da publicação. Nela está  Marcio ainda criança, olhando para o fundo de um copo. “Sentei na mureta em frente à nossa casa no Ibirapuera. O ano era 1958. Meu pai me pediu para segurar um copo d’água em contraluz e posar para ele. Não entendi e fiquei olhando para o fundo do objeto. Procurava um sentido em tudo aquilo, algo que explicasse toda a empolgação de um adulto sobre aquela cena tão banal. Acho que lá no fundo do copo enxerguei uma vida. Nesse dia meu pai tinha me dado uma profissão”, conta, no início da publicação.

E foi por intermédio do pai, o escritor e fotógrafo modernista Rubens Teixeira Scavone (1925-2007), que ele tomou gosto pelo ofício. Foi Rubens quem o levou aos 16 anos para ser assistente do catalão Marcel Giró (1913-2011), um dos pioneiros na fotografia publicitária no Brasil.  Outra influência importante foi sua avó,  a romancista Maria de Lourdes Teixeira,  a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia de Letras no Brasil.

A IMAGEM
Marcio, que já fez retratos de personalidades como Oscar Niemeyer, Fernanda Montenegro, Jô Soares, Pelé, entre centenas de outras, tem carreira abrangente e eclética. “Mas minha paixão são os retratos, sou obcecado ‘nessa’ de se fazer a síntese visual de uma pessoa. É um desafio e talvez a área mais nobre da fotografia porque é, afinal de contas, sobre a humanidade.” E, por isso, explica com propriedade o que representa a fotografia quando atinge o nível de obra de arte, na sua visão: “É aquela que te emociona antes de você entender.”

Para analisar uma imagem ele usa dois critérios: a emoção que ela provoca, e quem é o autor, sua trajetória e possível consistência. Em suas palavras: “em fotografia não me interesso pelos 100 metros rasos – todo mundo vai fazer boa fotografia no celular na sua vida, a julgar pela quantidade de fotos. O difícil é terminar a maratona entregando boas imagens por 30, 40 ou 50 anos.”

E o que acha dessa avalanche de fotos atualmente? “Essa selfie que se faz hoje é o mesmo que uma pessoa olhando no espelho, é mais uma manifestação narcisista do que um autorretrato. Porque o autorretrato é um pouco mais sério; é como ir ao médico, fazer exame, sondar a alma e ver como você está”, finaliza.




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