Política Titulo Entrevista
Diadema sente saudade do PT, diz Reali

Ex-prefeito afirma que a população diademense dá sinais de arrependimento por ter escolhido Lauro Michels na eleição de 2012

Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
10/03/2014 | 06:39
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Celso Luiz/DGABC


Protagonista do fim da hegemonia petista e de seus aliados de três décadas à frente da Prefeitura de Diadema, o ex-prefeito Mário Reali (PT) afirma que a população diademense dá sinais de arrependimento ao ter escolhido Lauro Michels (PV) para governar a cidade por quatro anos. “O povo está começando a ficar com saudade do PT”, sentencia o ex-chefe do Executivo, que, após quase dois anos, rebateu a nota 3 dada à sua administração pelo então vereador e candidato ao Paço pelo PV. “Ele precisa trabalhar para chegar à nota 3”. Em entrevista exclusiva ao Diário, Reali confirma que concorrerá a uma cadeira de deputado federal em outubro, tentará liderar processo de recondução da legenda ao governo de Diadema e minimiza a derrota histórica de 2012. “Foi bem debatido. Foi algo terapêutico. Pode ter algo residual de alguém que ficou com alguma coisa mal resolvida. Meu diálogo com o travesseiro está muito tranquilo”. Atual presidente do diretório do PT no município, Reali acredita ter recall eleitoral de quando foi deputado estadual entre 2003 e 2008, aposta no histórico do padrinho político José de Filippi Júnior (PT) – ex-prefeito, ex-deputado federal e atual secretário de Saúde da Capital – e prevê disputa menos acirrada entre candidatos da cidade no pleito de outubro. “Acho que teremos menos nomes da cidade. Provavelmente muitos candidatos de fora”, cita, lembrando do deputado estadual Orlando Morando (PSDB-São Bernardo) e do ex-prefeito de Rio Grande da Serra Adler Kiko Teixeira (PSC), amigos de Lauro e que têm livre acesso na administração diademense. O ex-prefeito também rebate críticas do sucessor sobre contratos irregulares, garante que em sua gestão não houve esquema fraudulento entre médicos e critica índices de violência na cidade. “Fomos referência mundial, fomos várias vezes para outros países para falar sobre a experiência em Diadema e vejo que a política foi desmontada.”

DIÁRIO – O sr. definiu pela candidatura a deputado federal?

MÁRIO REALI – Está acertado isso. Na verdade, desde o ano passado tinha uma história sobre eu ser candidato. Sempre falei que mandato legislativo tem de ser a partir de uma representação de uma base. Queria ouvir, ter diálogo e interagir com esse diálogo. A experiência de Diadema nos pauta série de questões para ser colocar num mandato de algumas tarefas e missões em Brasília.

DIÁRIO – O sr. passou meses articulando uma candidatura à Assembleia. Por que decidiu agora pela disputa federal?

REALI – Tem lista de coisas. A primeira é questão mais pragmática, apesar do quociente para estadual ser menor do que o federal. Nessa área pragmática, você tem de ver o cenário eleitoral, como está composta região, onde há votos, quantos candidatos, disputas colocadas. São cenários do pragmatismo eleitoral.

DIÁRIO – O sr. acredita que os votos recebidos pelo Filippi em 2010 automaticamente se transferem para sua candidatura?

REALI – A condição hoje é muito diferente da de quando ele foi candidato. Éramos governo, tínhamos relação com a cidade de espaço e interlocução qualificados. Hoje o canal é distinto. Você ser oposição é outro cenário, a metodologia, é uma outra abordagem. Mas temos recall. Tive 105 mil votos (no primeiro turno da eleição de 2012), depois tive 95 mil (no segundo turno). Para deputado tive na última eleição perto de 100 mil votos. Temos nome e histórico. É referência, pessoas associam a alguma ação. É patrimônio. Não é meu, mas do PT.

DIÁRIO – O sr. foi protagonista do fim da hegemonia petista na cidade. Acredita que a eleição de 2012 ainda vai respingar?

REALI – O processo do PED (Processo de Eleição Direta, para presidência do partido) foi importante para dialogar com relação a isso. Porque tem muita mística. Temos responsabilidade individual, mas também coletiva. Outro ponto que tem de ser olhado é que vivemos numa democracia, graças a Deus. Poder não é eterno, por isso tem eleição a cada quatro anos. Povo precisa de referências e às vezes tem de experimentar coisas novas até para saber o que significa não ter as coisas. Às vezes a gente aprende sofrendo e apanhando. O filho, às vezes, precisa tomar uma chinelada, mesmo eu sendo contra bater. Caminho para consciência é doído.

DIÁRIO – Então o sr. avalia que a derrota de 2012 foi superada no PED?

REALI – Foi bem debatida. Foi algo terapêutico. Pode ter algo residual de alguém que ficou com alguma coisa mal resolvida. Meu diálogo com o travesseiro está muito tranquilo. Mas por outro lado acho que tenho dívida política, até por ter sido líder desse processo e ter perdido. Acho que tenho de retomar o mandato para, de certa maneira, conduzir o processo de retomada da Prefeitura. Independentemente de eu ser candidato (em 2016). O centro não é a candidatura. O centro é expectativa de ter mandato parlamentar e lutas em Brasília para a gente recuperar mais um governo petista.

DIÁRIO – Qual cenário eleitoral que o sr. vislumbra em Diadema para este ano?

REALI – Acho que teremos menos nomes da cidade. Provavelmente muitos candidatos de fora. Por exemplo, você vê candidatos do governo, tem a Regina (Gonçalves, deputada estadual pelo PV), mas o Orlando Morando (parlamentar estadual pelo PSDB de São Bernardo) tem presença enorme. Para federal, falam da Silvana (Guarnieri, vice-prefeita, PTB), mas o Kiko (ex-prefeito de Rio Grande da Serra, PSC) é o candidato do Lauro (Michels, PV). A eleição sempre é surpresa.

DIÁRIO – No PT há dobradas definidas há alguns meses. O sr. demorou para ter sua definição para a eleição? Isso pode prejudicá-lo até que ponto na tentativa eleitoral?

REALI – A campanha é processo que se estrutura por lideranças. Há lideranças que se amarraram. Mas a decisão do voto proporcional é a última a ser definida. Claro que se você estiver estruturado nas lideranças, há mais gente falando seu nome. Mas precisa ver qual repercussão desse nome. Ao mesmo tempo que somos parte da região do Grande ABC, cada município tem sua característica. Eu posso ter voto em Santo André, mas seguramente o (Vanderlei) Siraque (deputado federal pelo PT) terá muito mais voto que eu em Santo André. Eu moro em Diadema. Temos voto regional, mas há muito o voto da cidade. O voto da cidade ainda é muito forte para o proporcional.

DIÁRIO – Durante a campanha, o então candidato Lauro Michels lhe deu nota 3 em gestão. Qual nota o sr. dá ao agora prefeito Lauro Michels?

REALI – Ele precisa trabalhar para chegar à nota 3. Ele reclamou muito, mas deixamos R$ 200 milhões em contratos com recursos do governo federal. Quero ver os contratos novos. Entregar prédio que deixamos pronto é o que ele tem de fazer. Quero ver programas para concluir processo de urbanização, por exemplo. Neste ano ele não chegará na nota 3, não dá. O povo está começando a ficar com saudade do PT.

DIÁRIO – Qual marca da administração Lauro?

REALI – Só o portal do Paço, porque o Parque do Paço estava lá (o atual governo reformou o Parque do Paço e entregou a obra em dezembro). Ele fez o portal, mudou sinalização, trocou entrada. Ele não fez ainda o que tinha de ser feito. Tem problema de drenagem, porque o parque tem muito eucalipto. Só vi cosmético.

DIÁRIO – O prefeito disse que herdou contratos com problemas, projetos deficitários de sua gestão...

REALI – O que ele precisa é ter projeto. Pode ter visão de querer outro projeto. Ele pegou vários contratos com projetos definidos. Se ele quer mudar, tem de trocar o projeto. Mas vai mudar tudo, valor, tempo. O problema maior é na política. Perdeu quase 100 médicos e não repôs, é porque ele quer reduzir despesa do Orçamento para Saúde.

DIÁRIO – Durante o primeiro ano de governo, o PT criticou bastante a condução da Saúde na cidade. O prefeito chegou a afirmar que a saída de médicos decorria da política de José Augusto, atual secretário de Saúde, de acabar com o que ele denominou de esquemas. Havia esquemas na sua gestão?

REALI – Quadro médico sempre foi problema. Porém sempre tivemos gestão. O Zé anda falando que estava desleixado. Não havia esquema, tínhamos médico no plantão. Claro que tem o descanso médico e, dependendo da hora, o profissional está de folga. Isso acontece em todo lugar. O problema é autoritarismo e exigir, por exemplo, que o médico atenda em 14 minutos para produzir atendimentos. Essa visão fordista da Saúde é que afasta. É superado. Claro que tem de ter controle. Mas exigência de quase just-in time, ter linha de montagem, não dá.

DIÁRIO – Na Educação, o governo promoveu duas mudanças profundas: a primeira é adoção do Sistema Sesi na rede e retirada de crianças de 4 e 5 anos das creches, para diminuir a fila de espera. Como o sr. viu essas alterações?

REALI – A escola Sesi é boa, mas é diferente você ter uma escola e ter uma rede inteira, com peculiaridades da cidade. Mas, para mim, é pior ele (Lauro) falar que mãe com três filhos não precisa de creche, tem de pagar três impostos. Ele não reduziu fila nenhuma. Cortou as crianças de 4 e 5 anos das creches. O que ele aumentou de demanda? Qual creche ele entregou?

DIÁRIO – Sobre a violência na cidade, o prefeito recorrentemente pede aumento do efetivo da Polícia Militar em Diadema para diminuir a criminalidade. Como o sr. vê essa discussão?

REALI – Os índices de violência estão altos. A questão da Lei Seca está muito frouxa na cidade. O governo faz a política de corte de gastos. Fomos referência mundial, fomos várias vezes para outros países para falar sobre a experiência em Diadema e vejo que essa política para o setor foi desmontada.
 




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