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Mural pedido por traficante preso ameaça policiais e incentiva tráfico
Por Luciano Cavenagui
Do Diário do Grande ABC
14/01/2006 | 08:13
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A Polícia Civil de Diadema descobriu quinta-feira à noite um verdadeiro mural dedicado ao crime num beco da favela do Morro do Samba. Segundo o autor, a obra de arte, pela qual recebeu R$ 400, foi encomendada por um traficante que está preso no interior do Estado. Num dos desenhos, bandidos metralhavam e assassinavam policiais militares. Na outra pintura, um traficante vendia drogas para uma fila de compradores. A favela é a mesma onde em 23 de junho do ano passado cinco pessoas foram mortas por policiais civis em um barraco. Segundo a polícia, as vítimas eram ligadas ao tráfico de drogas e resistiram à prisão. Por tempo indeterminado, serão feitas três rondas diárias no Morro do Samba pela Polícia Militar com o objetivo de combater o tráfico de drogas na área. O trabalho terá apoio da Polícia Civil.

A descoberta dos grafites ocorreu em meio aos ataques aplicados nesta semana a bases e viaturas da PM em São Paulo, que ocasionaram a morte de um policial e deixou outro gravemente ferido. Foram agentes do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos) de Diadema que localizaram as pinturas enquanto realizavam patrulhamento motivado por uma denúncia de tráfico de drogas.

Segundo investigações da Polícia Civil de Diadema, as pinturas no Morro do Samba foram feitas pouco antes do Réveillon e não possuem relação direta com os atentados sofridos pela PM nos últimos dias.

Policiais da Dise (Delegacia de Investigaçãoes Sobre Entorpecentes) conseguiram localizar o grafiteiro e o detiveram por apologia ao crime e incitação ao consumo de entorpecentes. Se condenado pelos dois delitos, o acusado pode pegar até 15 anos de cadeia. Seu nome não foi divulgado pela polícia para não dificultar a identificação de outras pessoas relacionadas com o caso.

Os grafites foram pintados num muro de aproximadamente três metros de altura e cerca de 20 metros de comprimento da travessa Jurupis. No desenho que ocupava a maior parte do muro, havia a ilustração de um ataque praticado por criminosos a policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). Uma parte do grafite mostrava uma viatura da Rota capotada e alguns PMs cobertos de sangue, sendo metralhados pelos marginais. Um dos criminosos usava um boné com a inscrição MDS (Morro do Samba).

Na mesma área do desenho, foi escrita a mensagem: "Cuidado vocês estão dentro da Okaida!!! (referência à Al Qaeda, grupo comandado pelo terrorista Osama Bin Laden) Morro do Samba com coligação direto (sic) com a periferia. Chega devagar que o barato é loco (sic)!!!!"

Em uma área menor do muro está o segundo desenho. A ilustração exibe um traficante vendendo drogas para uma fila de compradores, caracterizando o crime de incitação ao consumo de entorpecentes.

Segundo a polícia, os desenhos foram pintados a mando do traficante José Dilson, o Birosca, ligado à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Birosca está preso na Penitenciária de Mirandópolis (a 606 km da capital). Mesmo detido, ele ainda comandaria o tráfico de drogas no Morro do Samba e em outros pontos na Região Metropolitana.

O grafiteiro detido não mora no Morro do Samba e foi contratado por R$ 800 para fazer o serviço. Recebeu a metade antes do Réveillon e ganharia o restante esta semana, mas não foi pegar o dinheiro porque ficou com medo de ir à favela depois de fazer os grafites.

Na manhã desta sexta, PMs do 24º Batalhão, responsáveis pelo patrulhamento em Diadema, e policiais civis voltaram à favela para tentar identificar outras pessoas que participaram da confecção dos desenhos. Os PMs também fizeram a segurança no beco do muro para que funcionários da Frente de Trabalho da Prefeitura passassem tinta por cima dos desenhos.

"Essa ação não vai intimidar o trabalho dos PMs, como poderia pensar o autor desses desenhos. Vamos trabalhar ainda mais para combater a criminalidade e dar maior tranqüilidade à população", afirmou o coronel Paulo Roberto Cicerelli, comandante do 24º Batalhão. "Vamos identificar todas as pessoas que participaram dessa ação e mostrar para a população que a polícia não se intimida com esse tipo de ação", afirmou o delegado-assistente da Delegacia Seccional de Diadema, Mitiaki Yamamoto.



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