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Iniciativa privada ‘alimenta’ ETEs
Andrea Catão
Do Diário do Grande ABC
20/02/2006 | 07:50
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As ETEs (Escolas Técnicas Estaduais), do Centro Paula Souza, não manteriam o bom desempenho no ensino médio e profissionalizante se dependessem única e exclusivamente dos recursos provenientes do governo do Estado. As unidades do Grande ABC sobrevivem, principalmente, de doações da iniciativa privada e eventuais prêmios recebidos ao terem aprovados projetos mantidos por ONGs (Organizações Não-Governamentais). A autonomia que as unidades têm para obter verba de outras fontes possibilita às escolas montar laboratórios e deixá-los atualizados. Portanto, conseguem manter, a duras penas, a qualidade no ensino.

O desempenho dos alunos das ETEs no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2005 colocou as unidades do Grande ABC na frente de muitas particulares e com qualidade muito acima das que fazem parte da rede estadual de ensino. As ETEs são mantidas pelo Centro Paula Souza, autarquia da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, enquanto que todas as escolas estaduais com ensino médio regular são subordinadas à Secretaria de Educação.

Durante muito tempo, as ETEs não tiveram qualquer investimento do governo do Estado. Há pouco mais de um ano, esse quadro começou a mudar timidamente. Para as mais de 100 ETEs, foram liberados no ano passado R$ 42 milhões para reforma e compra de equipamentos. Mas as unidades não teriam sobrevivido até aqui se dependessem apenas da boa vontade do governo. Até o início desta década, a maioria estava completamente sucateada.

A maior escola da modalidade na região, a ETE Lauro Gomes, em São Bernardo, passou por reformas no ano passado. Além de melhorias na estrutura física, recebeu equipamentos para mais dois laboratórios de informática. “A maioria dos laboratórios (física, química, informática) foi equipada por empresas, que têm interesse no profissional que se forma na ETE. Esse tipo de parceria vai continuar a ser feita, pois é necessário manter atualizados nossos laboratórios para não perdermos em qualidade”, disse a diretora da unidade, Irene Scaranto Augusto Silva.

Na ETE Júlio de Mesquita, em Santo André, a reforma ainda continua. De acordo com a diretora, Suely de Campos França Magini, as obras terão terminarão em março. Os laboratórios de química e física passam por reforma, e foi pedida a construção de outros laboratórios, como os utilizados pelos cursos de Nutrição e Hotelaria, que não contavam com área específica para o aprendizado prático.

Diferente da Lauro Gomes, a ETE Júlio de Mesquita recebe poucas doações de empresas. “Recebemos alguns equipamentos, mas temos outras necessidades, dependendo do curso. No de Nutrição, por exemplo, é preciso comprar alimentos para as aulas práticas. Às vezes recebemos alguma doação, mas a maior parte é comprada com recursos que o governo do Estado envia, o qual temos de dividir para pagar outras despesas.”

A atualização dos professores é outro fator que garante a qualidade dos cursos oferecidos. No entanto, a maior parte não é custeada pelo governo. Sabrina Rodero Ferreira Gomes, diretora da ETE Jorge Street, em São Caetano, conta que a maioria dos cursos de atualização é oferecida por empresas e parceiros. “Quando recebemos alguma doação, a empresa se encarrega em fazer o treinamento dos professores. Quando temos outro tipo de curso, em geral, nem todos podem fazer porque são poucas as vagas. Os inscritos repassam o que aprenderam aos demais. E muitos professores fazem algum tipo de curso por conta própria.”

Diferenciado – A direção das ETEs na região avalia que a qualidade do ensino médio nas unidades é pelo fato de os professores serem os mesmos do ensino profissionalizante, além de ser aplicada a mesma metodologia. Todas afirmam que trabalham com projetos. “O professor tem o perfil de orientador. Os alunos desenvolvem um projeto específico durante o ano e o professor dá as coordenadas para a execução do trabalho. Foge um pouco da linha tradicional do aluno em sala de aula ouvindo sentado na carteira e o professor no quadro negro. Além de o aluno ficar mais crítico, fica mais envolvido com o ensino”, disse a diretora da Lauro Gomes, Irene Scaranto Augusto Silva.

A diretora da Jorge Street, Sabrina Rodero Ferreira Gomes, ressalta o uso dos laboratórios que servem ao ensino técnico pelos estudantes do médio. “Num curso regular, o aluno aprende química na sala de aula. Na escola técnica, as aulas também ocorrem no laboratório. Isso é um diferencial.”

Com a reforma do ensino, no fim da década de 1990, as ETEs passaram a oferecer o médio regular no período da manhã, quando a escola ficava ociosa. Antes disso, só mantinham cursos profissionalizantes. Em geral, o número de vagas no ensino médio é menor, quando comparado ao técnico. A concorrência, porém, é grande. A média é de pelo menos dez alunos concorrendo por uma vaga no médio. No profissionalizante, a proporção muda conforme o curso, mas vai de cinco alunos/vaga a 19 alunos/vaga.



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