Política Titulo No governo do PT
MP apura uso de ‘laranja’ em firma contratada por Grana

Denúncia indica que Arlindo, ex-secretário em Sto.André, é real dono de prestadora de serviço na Craisa

Por Raphael Rocha
Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
20/01/2019 | 07:00
Compartilhar notícia
Nario Barbosa/DGABC


O Ministério Público e a Polícia Civil investigam se o secretário de Governo na gestão de Carlos Grana (PT, 2013-2016), Arlindo José de Lima (PT), utilizou ‘laranja’ para ocultar ser real proprietário de uma empresa que tinha contrato na Prefeitura de Santo André e se recorreu à sua influência no núcleo duro do Paço para beneficiar firmas com que tinha relação. O petista nega qualquer irregularidade nos casos.

O Diário confirmou com fontes relacionadas ao episódio que inquérito policial instaurado em 2018 apura a ligação de Arlindo com a DB Estacionamentos, que firmou, em 2013, acordo com a Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André), autarquia andreense, para gerir o controle de acesso de veículos ao local. A firma está em nome de Carlos Eduardo Catalane.

Um dos elos sob suspeita é o fato de o petista abrir empresa – após deixar o cargo de alto escalão – em endereço que foi da DB, no Centro da cidade. Parte da denúncia trata da Caboclo Ball, de propriedade do ex-secretário andreense – com início da atividade em dezembro de 2017 –, apontando que a empresa esteve cadastrada na Junta Comercial no mesmo endereço de uma das filiais da DB Estacionamento, na Rua Gertrudes de Lima, 281. Conforme informações registradas na ficha cadastral, a Caboclo utilizou o espaço durante oito meses até mudança de local.

Depois deste período, a Caboclo mudou-se para imóvel na mesma rua, mas no número 356, onde também anteriormente foi filial de outra empresa de Catalane. Lá funcionava praça de estacionamento. Esse terreno era pertencente à Prefeitura, só que entrou em negociação pelo governo Grana e foi cedido, em parcela da troca pela área do hospital municipal, à Casa da Esperança, que aluga o espaço. A denúncia defende que Arlindo teria assumido cotas da DB.

O documento em posse de promotores e policiais relembra que Arlindo ficava à frente das adjudicações de contratos públicos durante o governo e relata a influência do petista no Paço. Menciona que algumas empresas com endereço vizinho ao local, na região central, saíram vencedoras de certame em Santo André e outras tiveram contratos prorrogados ou estendidos de forma emergencial, listando série de companhias, como Roax Estacionamentos, Montagens Phoenix, Taxco Locadora de Bens e PCS Tecnologia e Locação.

“O fato de a empresa de Arlindo estar registrada no mesmo endereço da DB Estacionamento, local físico aonde permanecem estacionados os carros de propriedade da Taxco, empresa cujos proprietários são os mesmos das empresas Prisma e PCS (...), faz-se presumir que o ex-secretário a eles seja associado, denotando que esses contratos foram firmados por meio de procedimentos licitatórios dirigidos”, descreve trecho da denúncia. A PCS ganhou, por exemplo, licitação em 2015 para restauro da Vila de Paranapiacaba, no valor de R$ 29,9 milhões.

O texto acrescenta indícios de que proprietários das empresas citadas, associados ao petista, em tese, “teriam se associado, mediante prévio ajuste, para obterem contratos, obtendo do então secretário o seu patrocínio e informações privilegiadas, bem como o livre trânsito no gabinete” de Arlindo.

DB aparece em suposta planilha de Mensalinho na gestão petista 

A DB Estacionamentos foi citada em lista atribuída ao ex-secretário de Governo de Santo André Arlindo José de Lima, em denúncia apresentada pela Rádio CBN na semana passada sobre existência de suposto Mensalinho pago aos vereadores durante o governo de Carlos Grana (PT) – o caso é investigado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) ABC, braço do Ministério Público.

Em uma planilha apresentada pela rádio, o nome de ‘Carlinhos Estac.’ aparece em um documento de computador que seria de Arlindo. A alcunha ‘DB’ é riscada em cima, à mão. Carlinhos seria Carlos Eduardo Catalane, proprietário da DB. Nomes de outras firmas são apresentados nos papéis e, supostamente, integravam esquema para abastecer financeiramente vereadores, secretários e até jornalistas.

A DB possui contrato com a Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) para gerenciar o estacionamento do local até 2023. Esse acordo, inclusive, foi alvo de denúncia do Diário, em 2017, que mostrou que sistema adotado pela empresa abria brecha para fraudar o pagamento dos valores devidos.

A Craisa negou qualquer irregularidade. A autarquia é comandada atualmente por Reinaldo Messias, indicação direta do deputado federal Alex Manente (PPS). Messias declarou que auditoria foi realizada no contrato e no sistema e que nenhuma irregularidade foi constatada.

Ex-secretário e empresário rechaçam elo e acusam delegada

Arlindo José de Lima e o empresário Carlos Eduardo Catalane, proprietário da DB, rechaçaram vínculo e acusam delegada da Polícia Civil, que se envolveu em acidente no estacionamento da empresa, no Centro, de criar situação por vingança e perseguição. Segundo ambos, a delegada Maria Corsato, de São Paulo, é a única pessoa que entrou com pedidos de averiguação “sem fundamento” em diversas frentes, tendo motivação apenas pessoal. “Não tem cabimento”, disse Arlindo. 

Catalane afirmou ter prestado depoimento na corregedoria da polícia, citando até extorsão da delegada, à época. “Depois do episódio em que ela envolveu-se em um acidente com outra cliente (em um pátio da DB), subiu em cima do carro, ofendeu de racismo um funcionário e o caso veio à tona. Ela fala que vai destruir a minha vida. Não se conforma em ter aparecido daquela forma na TV”, pontuou, ao alegar que conheceu Arlindo, pessoalmente, somente depois deste caso, “em meados de 2015”.

Sobre a questão de a Caboclo aparecer por período em endereço da DB, Catalane descartou ilegalidade. “Desconheço qualquer problema neste sentido.” Arlindo frisou que permaneceu por “pouco tempo” no local da empresa, provisoriamente, enquanto aguardava regularização do cadastro fiscal do imóvel na Rua Gertrudes de Lima, 356. “Era problema da própria Prefeitura. Então, num primeiro momento, iniciei onde era a DB, mas logo que regularizou fui no contador e já legalizei. Denúncia é maldosa.”




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;