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'Lula é mito, não é mais normal', diz Marta Suplicy
Beto Silva
Do Diário do Grande ABC
21/06/2010 | 07:08
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Mesmo às vésperas das eleições, Marta Suplicy (PT) ainda está light, da mesma forma como se definiu em junho do ano passado. Mas agora acrescente-se "determinada".

Ela tentará vaga ao Senado Federal pela primeira vez. E ainda está buscando "a embocadura do discurso" para esse pleito "diferente". Será grande cabo eleitoral no Estado para a campanha presidencial de Dilma Rousseff, "que tem olhar diferente do Lula". Apesar de emitir críticas contundentes aos tucanos, reconhece que a base econômica "começou com Fernando Henrique Cardoso". Mas exalta Lula. "É mito, não é mais uma pessoa normal", salientou Marta Suplicy ao Diário, em jantar terça-feira na casa do vice-prefeito de São Bernardo, Frank Aguiar (PTB). Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

DIÁRIO - Em junho passado, a sra. disse ao Diário que estava light. Continua com esse estado de espírito às vésperas da eleição?

MARTA SUPLICY - Bem light e determinada, porque essa é uma campanha que tem de ser muito ampla e estou muito interessada em ter o voto de todos os paulistas. É como se tivesse a vida toda de muito preparo para ocupar esse espaço de luta pelos interesses do Brasil e do Estado.

DIÁRIO - A sra. disse que está buscando um discurso. O que não pode faltar e o que não terá de jeito nenhum?

MARTA - Não é que estou na busca. A embocadura de discurso para o Senado, para proposta, é plataforma muito diferente do que para prefeito, para deputada. Você representa o seu Estado, não um segmento específico ou uma região. Apesar de ser Estado rico, as carências são gigantescas. Podemos ter muita diferença se tivermos um Rodoanel mais rápido, recursos para o trem bala sair do papel antes da hora planejada, recursos para o aeroporto funcionar melhor... É basicamente buscar as verbas, trazer ideias novas e, principalmente, numa área que tenho afinidade especialmente que é a Educação. O pré-sal e os royalties, vão possibilitar o Brasil dar esse salto. Porque se for dividir os recursos do pré-sal numa miríade de municípios, vamos ter fonte colorida em alguns locais, alguns investimentos de custeio e poucos investimentos que mudam realmente o patamar brasileiro.

DIÁRIO - Mote feminino vai estar na campanha tanto da sra. como da Dilma. Como pretende efetivamente trabalhar isso?

MARTA - Tem uma coisa que acabei percebendo que a Dilma vai continuar os grandes projetos do Lula, mas ela não é o Lula. Ela tem olhar diferente do Lula. Mulher não é pior nem melhor que o homem: é diferente. Este olhar que é mais sensível ao idoso, à criança, ao doente. Têm mulheres que vencem na vida e perdem isso. Mas a Dilma mantém. Esse olhar diferenciado estará presente nesse novo governo. Mas ela também tem competência em áreas ditas masculinas, como energia, pré-sal, biodiesel, que normalmente mulher não adentra tanto.

DIÁRIO - O que espera da campanha, com esses casos negativos já aparecendo, como dossiês?

MARTA - Não creio que alguém vai fazer mais alguma coisa nesse sentido. Acho que não tem nenhum interesse, de nenhuma parte. Foi um jogo que tentou ser jogado e até agora não entendi. Acho que ninguém ganha pontos com isso. Isso interessa àqueles que não têm projeto. Nós temos. Temos o que mostrar, temos um governo do qual Dilma foi braço-direito. E o povo quer continuidade de algo que está indo bem. A garantia é com a Dilma. Não acho que a campanha da Dilma fez qualquer coisa, não tem nada a ver com isso.


DIÁRIO - O que faltou fazer nesses oito anos do governo Lula?

MARTA - Acho que o governo criou uma plataforma que a Dilma terá uma situação muito generosa para poder dar esse salto para o Brasil do século 21. A base começou com o Fernando Henrique Cardoso, depois tivemos o governo Lula, que se aproveitou do que estava sendo criado, deu rumo novo em muitas áreas, conseguiu diminuir a desigualdade e Dilma terá a chance de tirar todos os brasileiros da pobreza e levar para a classe média. Manter estabilidade econômica. Banda larga, investimento em pesquisa, Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) nas diferentes áreas do conhecimento, professores, melhorias em rodovias, portos, aeroportos... isso tudo está planejado já. Não queremos que seja interrompido, como o Serra fez na minha gestão e fez na do próprio companheiro dele, o Alckmin. Dilma tem competência para nos guiar. Seria bom isso acontecer para não ter interrupção no processo. Porque governo interrompido fica um ano tentando entender o que está acontecendo. E a população brasileira acabou percebendo isso mais rapidamente do que nós prevíamos. Esse empate (nas pesquisas) esperávamos que ocorreria em setembro. O campo opositor está perdido. E dá tiro para todo lado. E nada cola.

DIÁRIO - A base feita pelo Fernando Henrique foi mais na área econômica?

MARTA - Sim, porque na área de privatização ninguém pode concordar. O que aconteceu com a Petrobras, por exemplo: foi vendida uma parte. Por quanto foi vendido e quanto vale? A Vale do Rio Doce também. Disso nunca concordamos, mas na questão da economia, criação do Plano Real, não tem por que as pessoas e nós todos não ficarmos satisfeitos, porque o País teve mudança séria na política fiscal naquele momento. Mas tudo isso foi revisto, para continuar a estabilidade, ter distribuição de renda. Estamos trabalhando três coisas: inclusão social, característica do PT e não do PSDB, infraestrutura e soberania, pois o brasileiro nunca se sentiu tão orgulhoso de ser brasileiro. Isso é conquista do governo Lula. As pessoas percebem que o PT faz acontecer.

DIÁRIO - Os adversários podem reconhecer esses méritos, da mesma forma que a sra. reconhece alguns projetos tucanos agora?

MARTA - Não. A inclusão social reconhecem, porque precisam do voto do Bolsa Família, do ProUni, de tudo que eles não fizeram e não acreditam. De infraestrutura não, porque dizem que os PACs 1 e 2 não existem. Eles vão ter que conversar com os prefeitos do Brasil que têm verba para saneamento, estrada e tanta coisa que vi como ministra (do Turismo). E na soberania, chamar o vizinho de narcotraficante, dizer que o Mercosul não é importante, acho que há discordância da política externa. O FHC foi presidente oito anos e nunca pôs o pé na África. Se tivéssemos seguido a política externa de subserviência aos Estados Unidos e à Europa, quando veio a crise, para quem estaríamos exportando? É outro tipo de relação que não existiu no outro governo. Tanto que o presidente norte-americano chamou Lula de ‘o cara'.

DIÁRIO - O que o Lula será quando acabar o governo?

MARTA - É uma decisão difícil que terá de tomar. Porque é presidente extremamente amado pelo povo. É mito, não é mais uma pessoa normal. Que conquistou admiração também internacional. Uma vez ouvi ele dizer que ajudaria a unir os movimentos sociais e sindicais da América Latina. Porque essa reunião de cúpula só de presidente achava pouco. Mas são tantas a oportunidades, as ofertas, as tentativas de levá-lo a tantos postos no mundo, que acho que será decisão tomada com calma para avaliar onde será mais útil. Certamente ele não vai para Boa Viagem (no Pernambuco) tomar água de coco, como ele diz no discurso. Vai ficar um pouco em São Bernardo porque é o lugar do coração dele. Mas o mundo não vai deixá-lo ficar aqui. O mundo precisa dele. Que outro mandatário tem a capacidade de diálogo e respeito que ele tem? E sabe se comunicar como ninguém. É melhor do que o Silvio Santos em termos de comunicação, que seria o grande comunicador que podemos pensar.

DIÁRIO - Pode chegar a ganhar Prêmio Nobel?

MARTA - Isso é o de menos para ele. Ele já ganhou a admiração do planeta. Quando o Financial Times o coloca como a pessoa mais importante na política planetária, não tem prêmio melhor.




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