Cultura & Lazer Titulo Arte no Pedaço
Arte que complementa o aprendizado

Grupo teatral de colégio andreense participa de
intercâmbio com artistas; prática ajuda aluno a ir além

Por Karine Manchini
25/09/2017 | 07:00
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Divulgação


Quem nunca ouviu a expressão: ‘Nada acontece por acaso’? Algumas situações provam que faz todo o sentido. O grupo Brinquedo Torto é um exemplo. O acaso foi o principal motivo que fez o conjunto de teatro estudantil – fundado em 2008 na escola Central Casa Branca de Santo André, pelo professor Varlei Xavier, 37 anos – nascer.

Tudo começou após o professor e ator bater na porta da ‘escola errada’ em busca de divulgar projeto que surgiu em 1999. A porta felizmente não estava errada e as pessoas que o receberam gostaram de suas ideias. A diretoria, inclusive, cedeu espaço para que as aulas de teatro pudessem ser aplicadas como atividade extracurricular não-obrigatória. O local conta com capacidade para 60 pessoas e estrutura que abriga mini-teatro.

O programa surgiu quando Varlei era inspetor e recitava poemas para os estudantes. “Fui percebendo que aquela ação precisava de ferramentas teatrais. Comecei a estudar Artes Cênicas na época e isso mudou o professor que eu era. Naturalmente o grupo da poesia virou teatro”, conta. O termo Brinquedo Torto é referência à música de mesmo nome da cantora Pitty. Representa, segundo o educador, algo divertido e fora de ordem.

“O que fazemos é teatro de protagonismo, ou seja, os processos de criação e produção são compartilhados com os alunos. Isso desenvolve habilidades que qualquer profissional no mercado precisa: disciplina, organização, desenvoltura e até mesmo a capacidade de venda e divulgação”, explica o professor, que completa: “Estamos quase batendo a média de 150 alunos que passaram pelo grupo.”

O elenco, que conta com jovens de até 17 anos, está em temporada com o espetáculo Grande Altar ou Palco de Miseráveis Notáveis, até dia 8, no Ponto de Cultura Grupo Brinquedo Torto (Rua 11 de Junho, 521). Os ingressos custam R$ 10 e R$ 20 e podem ser comprados no site www.grupobrinquedotorto.com.br.

Além das aulas e apresentações, a turma também participa de outras atividades, como festivais regionais. O Projeto Potência – intercâmbio cultural entre grupos estudantis que acontecem na região ou em outras partes do Brasil – está na lista. “São 170 adolescentes fazendo teatro, sem competição. A plateia torce para quem está no palco e os atores esperam por isso. Nossa bilheteria é para custear a viagem.”

E tem mais: quem não faz parte da escola também pode participar. O valor da mensalidade é R$ 60 e o telefone para informações é 4990-2191.

INSPIRAÇÃO PARA LIVRO
Gabrielle de Souza Lima, 17, cursa o terceiro ano do Ensino Médio e pretende ser jornalista. A garota, que faz parte do Brinquedo Torto, participou da peça Menina Jinga, que contava a história de heroína negra. Ela era a protagonista. A força da personagem a ajudou a decidir que queria dar continuidade ao roteiro fora dos palcos, se baseando em experiências vividas por ela mesma em diversas situações, inclusive de preconceito racial. Foi quando teve a ideia de escrever um livro.

“Uma menina do grupo e o Varlei me incentivaram a produzir a obra. Fizemos parceria com o Clube dos Autores, imprimimos algumas cópias e vendemos no fim dos espetáculos. Usei a verba para ajudar no intercâmbio estudantil”, conta a aluna que, por causa da idade – após os 16 anos os estudantes ‘se aposentam’ do grupo –, não participa mais das peças como atriz, mas se tornou diretora-executiva do Brinquedo Torto. “É aprendizado incrível. Até então eu era conselheira, mas aconteceu reviravolta e peguei esse cargo. Estou meio que em um curso de Administração na prática. As pessoas acham que teatro é só atuar, mas definitivamente não é”, encerra.

Pedagoga defende teatro dentro das escolas
A arte pode ser transformadora em diversos aspectos, principalmente quando se tem contato com ela desde cedo, especialmente na escola. Segundo a pedagoga, psicopedagoga e gestora de Ensino Superior de São Bernardo, Telma Laes Mathias, 53 anos, a presença do teatro estudantil é fundamental para o desenvolvimento das crianças e jovens. Além disso, a vivência com a arte faz com que alunos aprendam a respeitar o espaço do próximo.

“Falar de teatro para mim, é falar do cotidiano. É assim com jogos e técnicas projetivas, que vão abrindo caminhos e oportunidades para que a criança possa se expressar ou verbalizar. Representar seus pensamentos, emoções, ideias reais e imaginárias”, explica.

Destacando os benefícios que o teatro traz para as pessoas, a pedagoga defende a técnica dentro da sala de aula. Por ser uma área que trata de diversos assuntos que outras disciplinas não conseguem, contribui para a melhora na autoestima e prepara o aluno para situações inevitáveis da vida cotidiana. Até mesmo para o mercado de trabalho. “Não é um curso para formar atores, embora já tenha vivenciado situações em que isso acabou acontecendo. Mas vi caso de uma adolescente que se sentia tão bem no teatro que quis se aperfeiçoar e foi participar dos doutores da alegria (grupo de palhaços que visita os hospitais)”, finaliza.

FRASES
“Entrei este ano e já gosto de tudo! Os exercícios do curso ajudam muito, principalmente com a timidez. Quero trazer algumas amigas para escola.”
Rafaela Tarsitani dos Reis, 13 anos

“Minha mãe já fez teatro e ela me incentivou. Sempre fui tímido, ainda sou, mas estou melhorando. O que mais gostei de fazer foi interpretar o emoji de sorriso.”
Victor Rodrigues Kawano, 12 anos

“Quero ser atriz ou médica. Gosto do fato de montar uma peça, pois facilita no desenvolvimento, no ato de ler textos em sala de aula. Faço teatro há quatro anos.”
Amanda Ribeiro Vieira, 14 anos




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