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Famílias ignoram perigo e retornam ao Jd.Kennedy

Dez meses após deslizamento matar uma criança no local, área de risco volta abrigar barracos

Por Daniel Macário
Do Diário do Grande ABC
02/11/2018 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


 Motivadas, segundo a maioria, pela falta de moradia e desemprego, famílias voltaram a invadir, de forma ilegal, área de risco situada no Jardim Kennedy, na periferia de Mauá. Sem qualquer controle ou fiscalização por parte da Prefeitura, ao menos quatro barracos já foram erguidos em trecho onde, em janeiro deste ano, ocorreu deslizamento de terra que culminou na morte de uma criança de 10 anos.

O local, que chegou a ser interditado pela Defesa Civil do município, teve, em fevereiro, 11 moradias demolidas por funcionários da cidade por conta do alto risco de desmoronamento de terra no perímetro onde ocorreu a tragédia. As famílias foram contempladas com auxílio-moradia no valor de R$ 400.

A promessa do governo chefiado pelo prefeito Atila Jacomussi (PSB) era que a área precária recebesse série de melhorias, incluindo muro de contenção para evitar novos deslizamentos, o que não ocorreu.

“Não fizeram nada e o terreno voltou a ser invadido, o que deixa todos aflitos. O período de chuva está chegando e o risco de novos deslizamentos é enorme”, desabafa a doméstica Paula dos Santos, 38 anos.

Ontem, em visita à comunidade, a equipe do Diário observou ausência de qualquer ação do poder público para minimizar os riscos de tragédia. Cano de PVC, improvisado pela própria comunidade para demarcar o áreas consideradas mais frágeis, tem a função de auxiliar moradores no dia a dia.

O sinal de abandono do Jardim Kennedy é evidenciado também pela alta vegetação e acúmulo de entulho onde casas foram demolidas. Mesmo assim, é possível encontrar demarcação de espaço onde provavelmente será erguida quinta nova moradia.

Conforme apurado pela equipe de reportagem, as famílias que ocuparam a área de risco com barracos de madeira recentemente são do próprio Jardim Kennedy. Muitas deixaram suas casas por conta da dificuldade em arcar com o preço do aluguel. Nenhum dos novos invasores quis conceder entrevista.

Segundo a doméstica Verônia Oliveira, 55, moradores mais antigos do bairro chegaram a alertar os vizinhos recém-chegados sobre o risco de a área desabar. “Pedimos para eles não invadirem, mas ninguém deu atenção. Todos justificaram que não tinham para onde ir”, destaca. Mãe de uma das moradoras removidas do espaço, ela teme outras possíveis tragédias. “Sempre que chove fico sem dormir.”

Conforme a comunidade, desde o episódio, a Prefeitura de Mauá não realizou vistoria nas demais casas instaladas no bairro. O serviço foi uma das promessas feitas após a tragédia. A expectativa era a de que a Defesa Civil verificasse danos nas estruturas de barracos e casas de alvenaria.

Procurada, a administração não retornou aos questionamentos do Diário até o fechamento desta edição.

 

Famílias foram notificadas sobre fim de auxílio

 

Famílias remanescentes do Jardim Kennedy, contempladas com auxílio-aluguel no valor de R$ 400, foram surpreendidas no fim da semana passada com o recebimento de comunicado sobre o fim de benefício. Segundo moradores, a medida foi tomada pela gestão da vice-prefeita Alaíde Damo (MDB), enquanto ela esteve à frente do Paço municipal – entre maio e setembro.

Distribuído por agentes da Secretaria de Habitação, o documento avisava que o município, por falta de verba, teria de encerrar em dezembro a concessão do valor para 11 famílias que tiveram suas moradias demolidas em área de risco da comunidade, após deslizamento de terra vitimizar André Naja Almeida dos Santos, de apenas 10 anos.

Desempregado, Remerson da Silva, 32, foi um dos moradores contemplados surpreendidos com a medida. “Ficamos inconformados, pois eles destruíram nossas casas com a promessa de sermos contemplados em algum projeto habitacional. Até lá seria concedido o benefício”, explica.

Segundo ele, os moradores se reuniram com o prefeito Atila Jacomussi (PSB) na quarta-feira e, na oportunidade, o chefe do Executivo prometeu reverter a situação. Todas as famílias contempladas com o benefício foram recadastradas na ocasião.

Para os próximos meses, está prevista apresentação de projeto habitacional que irá beneficiar as famílias removidas do Jardim Kennedy.

Questionada sobre detalhes da ação, a Prefeitura de Mauá não retornou aos contatos da equipe de reportagem até o fechamento desta edição.




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