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Ouvido refinado ajuda Mariana Ximenes a compor a doce Bel
Por Mariana Trigo
Da TV Press
07/05/2006 | 08:47
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Mariana Ximenes lembra com orgulho de quando chegou sozinha ao Rio, aos 17 anos, para fazer a freirinha Celi em Andando Nas Nuvens, da Globo – a estréia havia sido um ano antes em Fascinação, do SBT. Nesses oito anos de uma carreira ascendente, a atriz atuou mais em novelas de época do que em contemporâneas. E mesmo a Bel, protagonista da contemporânea Cobras & Lagartos, mais parece uma personagem de época, já que a moça ostenta a mesma aura serena e inocente que acompanhou as donzelas que fez e insiste em não abandonar o rosto da atriz. Além da expressão de biscuit, a paulistana, que vive a musicista e perfumista Bel na trama de João Emanuel Carneiro, parece ter saído de uma caixinha de música. Com a coluna sempre ereta, gestos suaves e uma voz pausada, Mariana garante que sua personagem é o contraponto de todas as alusões ferinas da trama que explicita o exacerbado consumismo atual. “Ela tem uma riqueza interior, a concentração da música com todos os aromas. Isso me fascina a cada dia, principalmente esse clima de paixão à moda antiga dela com o Duda”, enumera, arrumando o generoso decote do vestido rubro.

O que mais fascinou a atriz, no entanto, foi a forma que Duda, personagem do mocinho vivido por Daniel de Oliveira, se apaixona por Bel. “Foi através de um retrato pintado, da mesma forma que o avô do meu marido se apaixonou pela avó dele”, conta a atriz de 25 anos, se referindo ao marido Pedro Buarque de Holanda. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

PERGUNTA: A Bel é uma personagem romântica e introspectiva numa novela que aborda o consumo com uma edição ágil, numa linguagem moderna. Ela é uma espécie de personagem de época numa trama contemporânea?

MARIANA XIMENES: É isso mesmo. Ela é a pausa, o contraponto em toda a agitação e é bom que ela tenha essa pontuação. Em meio a uma novela veloz é uma pausa ter uma figura delicada. Sinto que quando há o momento da música é o respiro da novela, quando entra o som dos instrumentos clássicos, a flauta e o violoncelo, a hora em que a Bel se une ao Duda. Eles são atraídos pelos acordes. Acho isso tão bonito! Logo música clássica, que quase nunca é tocada em novelas.

PERGUNTA: Ter o hábito de assistir a concertos teve interferência nessa composição?

MARIANA XIMENES: Me ajudou muito. Estou cada vez mais encantada com esse universo. Já fui a vários concertos no Rio, em São Paulo e em Berlim, na Alemanha. Adoro assistir a orquestras, sou muito fã e acho deslumbrante. Já vi o John Neschling regendo e é fascinante. Mas jamais imaginei interpretar uma musicista. Por isso também assisti a alguns filmes sobre o assunto, vi documentários da Jaqueline Dupré, que foi minha musa inspiradora, a maior violoncelista dos últimos tempos. Estou encantada em saber que essas pessoas estudam por nove anos apenas para ter o domínio do violoncelo. Quero apenas honrar os músicos, mostrar com dignidade seu trabalho.

PERGUNTA: Já tocou algum acorde no violoncelo em cena?

MARIANA XIMENES: Imagina! É muito difícil! Estou apenas aprendendo o posicionamento das mãos, a parecer ter maleabilidade para aparentar uma intimidade com o instrumento. Não tenho nenhuma pretensão de aprender a tocar de uma hora para outra. Até porque dói muito. Utilizamos articulações que não usamos em outras situações. Tive de fazer acupuntura para poder soltar essas articulações e sofri um pouco com isso.

PERGUNTA: Então, o lado menos penoso dessa composição foi mexer com essências e estudar aromaterapia?

MARIANA XIMENES: Sem dúvida! (risos). O bacana é que a Bel tem um interior muito vasto e particular. Estou tendo aulas de aromaterapia com a Karina Araújo. Ela vai me explicando a origem de cada essência. Tanto que, para o cenário da Bel, ela preparou diversos cheirinhos para aplicar na cenografia. Isso influencia muito e estimula todos os sentidos. É fascinante! Durante as gravações, ela fez questão que eu sentisse cheiros específicos de acordo com os sentimentos que a Bel tinha em cada cena. Isso tem me ajudado nessa composição, até porque eu gosto muito de cheiros. Tanto que fiz sozinha um aroma para a Bel. Toda vez, antes de entrar em cena, passo o cheirinho dela. É um aroma suave e delicado, mas ao mesmo tempo forte, já que ele é uma heroína.

PERGUNTA: Por mais fortes que sejam suas personagens, principalmente as heroínas, elas sempre contam com alguma doçura, desde a Ana Francisca de Chocolate Com Pimenta, a Lilian Gonçalves de JK e até mesmo a rebelde Raíssa de América. A que você atribui isso?

MARIANA XIMENES: Vim para o Rio aos 17 anos, sozinha. A gente acaba adquirindo um certo traquejo com a vida, com os problemas. Isso não impede que eu guarde alguma doçura que pode se refletir na minha atuação. Quando eu decido que vou fazer um trabalho, me entrego, mergulho de cabeça, tento não deixar brechas para falhas. Coloco todo o tesão e todo o amor do mundo para que ele se realize da melhor forma. Também sempre me sinto responsável pela expectativa dos autores. Mas ao mesmo tempo que eles depositam essa confiança em mim, batalho e vou atrás para fazer jus e poder retribuir essa aposta no meu trabalho.

PERGUNTA: Desde que você estreou no SBT, em 1998, praticamente emendou um trabalho no outro. Você não se preocupa com um desgaste por superexposição?

MARIANA XIMENES: Não vou me preocupar se o público vai se cansar de mim. Sempre me oferecem papéis interessantes na TV e no cinema e não quero recusá-los. Na verdade, só topo fazer o que eu sei que posso dar conta. Mas preciso de um respaldo. Analiso os convites com cuidado. Também sempre arrumo um tempinho para viajar, regarregar minhas baterias entre um trabalho e outro, mesmo que sejam poucos dias. Me refugio numa fazenda na divisa entre Minas Gerais e o Rio. Preciso estar no mato para me equilibrar, me energizar. Recarrego as baterias mergulhando numa cachoeira, fico jogada no mato sem telefone e sem televisão, dormindo e acordando com o barulho da mata e dos passarinhos. Preciso deste tempo sem cobranças, medos e agitação.

PERGUNTA: Falando em medo, como você reagiu quando soube que iria protagonizar a substituta de Bang Bang, uma novela com problemas de audiência?

MARIANA XIMENES: Eu sempre me preocupo com a audiência, principalmente se estou fazendo um trabalho de qualidade, com uma equipe que tem competência e dedicação. Bang Bang tinha tudo para ser legal. Quando soube da novela, antes da estréia, fiquei admirada com o projeto, achei a idéia muito bacana. Não sei o que aconteceu para desandar tanto assim e derrubar a audiência do horário. Mas a gente estreou com 35 pontos e tomara que possamos reverter bem esses números. Confio no texto do João Emanuel Carneiro e na direção do Wolf Maya, com quem me identifico muito.

PERGUNTA: Por que você se identifica com o Wolf?

MARIANA XIMENES: Tenho uma relação especial com ele e confio muito no trabalho que ele faz, na forma dele conduzir uma novela. O Wolf tem um tesão que bate muito com o meu. Temos o mesmo envolvimento com o trabalho desde que fiz a Bionda em Uga Uga. Já trabalhei com muitos diretores bons. Só não trabalhei ainda com o Ricardo Waddington e com o Luiz Fernando Carvalho. Tenho muita vontade de atuar numa produção dirigida por ele. Mas também me identifico muito com outros diretores, como o Jayme Monjardim, que tenho bastante contato e é muito especial para mim desde A Casa das Sete Mulheres, uma inesquecível minissérie de época.




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