Internacional Titulo
Suicídio coletivo mostra o poder das seitas na Africa
Do Diário do Grande ABC
19/03/2000 | 15:53
Compartilhar notícia


A seita "Restabelecimento dos Dez Mandamentos de Deus", cujos membros se suicidaram em massa na sexta-feira passada, em uma igreja de Kanungu (sudoeste), é representativa do predomínio de um cristianismo que também se mostra rebelde ao regime de Uganda e cujo grupo mais ativo é o chamado "Resistência Armada do Senhor".

"Nao sabemos ainda quantas pessoas exatamente morreram ou quem sao estas pessoas, já que os inúmeros corpos carbonizados dentro da igreja formam uma massa compacta", explicou neste sábado o chefe dos inspetores, John Kisembo, em Rukingiri, principal cidade da regiao onde transcorreu o drama, 320 km a oeste de Kampala, zona próxima à fronteira com a República Democrática do Congo e do Parque Nacional de Bwindi.

Também se ignorava, segundo Kisembo, se o chefe da seita, Joseph Kibwetere, está entre as vítimas ou se escapou antes que seus adeptos ateassem fogo no pequeno templo de seu culto.

Em Uganda, Quênia, Tanzânia, Ruanda e Burundi, uma parte do cristianismo indígena, com grande predominância nas zonas rurais, transformou-se em movimento milenarista às vésperas do ano 2000.

No transcurso dos últimos meses, a polícia ugandense desmantelou duas seitas, acusando-as de serem uma ameaça para si mesmas e para a comunidade.

A proliferaçao de seitas, segundo o governo, faz pairar uma ameaça sobre a coletividade. O movimento de rebeliao mais ativo em Uganda, a "Resistência Armada do Senhor", também surgiu de uma seita nascida no norte do país.

Em Uganda, o fenômeno converteu-se numa espécie de "messianismo armado" com a cruzada lançada pela líder Alice Lakwena, conhecida como "a mensageira". Seu "Movimento do Espírito Santo" misturava cristandade e crenças tradicionais e já ameaçara militarmente, em 1986, o poder do presidente Museveni, mas seus homens acabaram dominados pelo exército um ano depois.

O movimento, no entanto, encontrou um herdeiro, Jospeh Kony, parente de Alice Lakwena, que dirige desde 1989 a temida "Resistência Armada do Senhor".

Em setembro passado, a polícia atacou um acampamento da "Igreja da Ultima Mensagem de Advertência Mundial", que albergava uma seita cujos membros eram acusados de seqüestrar crianças e praticar abusos sexuais em menores.

Esta seita, instalada em uma granja no centro do país, praticava o culto do Julgamento Final, dirigido a um suposto "profeta", Wilson Bushara, em Bukoto, condado de Nakaseke.

Segundo Eric Naigambi, os membros da seita eram exclusivamente tutsis e bahimas do Sul de Uganda, Burundi, norte da Tanzânia e leste da RDC.

No início do ano passado, Bushara anuncira publicamente que o fim do mundo seria no dia 30 de junho de 1999.

Em novembro passado, a polícia dispersou uma reuniao ilegal de uma seita adepta à jovem profetisa Nabassa Gwajwa, no oeste de Uganda. Gwajwa, 19 anos, afirmava ter morrido em 1996 e ter sido enviada por Deus de novo à Terra para exortar o povo a se arrepender de seus pecados ante a chegada do novo milênio.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;