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Para escritor, AL faz oposição a Bush
Por Roney Domingos
Do Diário do Grande ABC
25/05/2006 | 08:09
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A política externa dos Estados Unidos, confundida com sua política de segurança nacional, representa ameaça à sobrevivência da humanidade, na avaliação do escritor e jornalista José Reinaldo de Carvalho, palestrante no III Fórum de Relações Internacionais realizado pela Fundação Santo André. Para ele, o poder econômico e bélico da superpotência, entretanto, contrasta com suas contradições, entre elas, a crescente escalada de poder da esquerda na América Latina. Carvalho é co-autor do livro A nova realidade internacional sob o primado dos Estados Unidos (Editora Anita Garibaldi) e membro do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz).

“Pela primeira vez na história, depois de Hitler, da Inglaterra e dos impérios austro húngaro e otomano, e mesmo desde o império romano, temos uma superpotência capaz de destruir o mundo, com orçamento de meio trilhão de dólares destinado a armamentos, 720 bases estratégicas em redor do mundo, 140 mil homens e mais de mil ogivas nucleares”, afirmou.

Carvalho lembrou que em março, os Estados Unidos completaram três anos da invasão ao Iraque, marcados com novos ataques à população de Samara e pela divulgação, pela Casa Branca, da “Estratégia de Segurança Nacional” que, segundo o professor, tem a peculiaridade talvez exclusiva dos EUA, de confundir a política externa do país com segurança nacional. “A primeira frase do documento é uma declaração de guerra. Eles dizem ‘A América está em guerra’, esquecendo de mencionar que a América que está em guerra é a do Norte, aliás, apenas os Estados Unidos.”

Na avaliação do escritor, entretanto, o mais preocupante na declaração de março é o “recheio”, segundo o qual, os Estados Unidos inauguram a chamada guerra preventiva, que pode ser acionada sempre que o país supor que pode ser atacado. Além disso, prevê táticas novas, como a utilização do urânio empobrecido, testado na Iugoslávia e no Iraque.

O momento atual é resultado de práticas que os Estados Unidos tem adotado sistematicamente desde o início da era Bush, considerado o mandato do patriarca da família. “O Bush revogou a ordem de paz que vinha sendo mantida desde o século 17 quando o Ocidente inaugurou a diplomacia internacional.” O choque mais brutal, segundo Carvalho, foi quando o ex-secretário de Estado dos EUA, Colin Powell foi ao Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), em março de 2003, munido antes de um ultimato com ameaça de tornar a organização irrelevante do que de um pedido de autorização para invadir o Iraque.

Os Estados Unidos colocam em prática o sonho antigo de dominar o mundo. “Desde que a União Soviética desapareceu, em 1990 e 1991, os Estados Unidos sentiram como que as mãos livres, uma espécie de vertigem do êxito, da possibilidade de dominar o mundo. Sonho que vem lá de trás, da época dos pais fundadores, que diziam: nós temos aqui um destino manifesto, de carregando a Bíblia (a Bíblia Sagrada que todos nós devemos respeitar, embora eles chamem os outros de fundamentalistas) de levar a civilização cristã para outros povos.”

A vontade dos Estados Unidos esbarra, entretanto, em uma série de dificuldades. “Os EUA, objetivamente, e apesar do poderio extraordinário em armas e apesar do monopólio mundial das relações políticas, não têm a mesma pujança, nem a mesma economia, e nem a mesma capacidade de exercer a liderança.”

Exemplos não faltam: 1) os EUA detinham logo após a Segunda Guerra, mais de 70% da economia mundial e hoje não detêm 25%; 2) hoje exibem déficits gêmeos (interno e na balança comercial), que somam trilhões de dólares e os transformaram em economia parasitária 4) em análise histórica, o dólar está bastante enfraquecido; 5) surgiram outros pólos concorrentes, a Europa unida, a China e o Japão; 6) as contradições militares vividas em guerras como no Iraque representam contrapeso e 7) a América Latina, onde governos de esquerda se sucedem, apesar das distinções entre si, é a maior demonstração das derrotas que esse império norte-americano acumula, da incapacidade de exercer o seu domínio, e possibilidades de perda de sua hegemonia. “No governo do Bush pai, em 1990, eles disseram que a Alca (Acordo de Livre Comércio das Américas) começaria a funcionar em 1º de janeiro de 2005, unindo um só mercado, da Patagônia, Terra do Fogo ao Alasca. Os países e povos da América Latina, cada um à sua maneira, rejeitaram a Alca, forçando acordo bilaterais, chamados TLCs.”



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