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Corrupção alimenta protestos em Gaza
Por Da AFP
22/07/2004 | 12:48
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Encurralados entre Israel e o mar, muitos palestinos de Gaza se declaram solidários com a onda de protestos contra dirigentes corruptos da ANP (Autoridade Nacional Palestina), mas defendem seu presidente, Yasser Arafat. Alguns não excluem que essa indignação, motivada por dirigentes dos serviços de segurança palestinos, seja explorada por Mohamed Dahlan, homem forte de Gaza e ex-ministro delegado da Segurança que faz oposição ao presidente palestino.

"O protesto contra a corrupção em Gaza está mais do que justificado. É necessário que os parasitas saiam. Mas quem nos diz que Dahlan não vai aproveitar a situação para assegurar seu controle sobre o território sob o olhar condescendente dos Estados Unidos, que preferem ele a Arafat?", pergunta Abul Abed, um desempregado no mercado central Zauia.

As Brigadas dos Mártires de Al Aqsa, grupo armado vinculado ao Fatah do líder palestino Yasser Arafat, estão determinadas a lutar contra a corrupção na ANP com o mesmo vigor que combatem Israel, segundo um comunicado emitido nesta quinta-feira. "Nosso primeiro objetivo é combater a corrupção e os corruptos da mesma maneira que combatemos o inimigo israelense", afirmam na mensagem.

O vendedor Imad Zayed, indignado com a corrupção, não deixa de criticar os "bandidos que se enchem de dinheiro enquanto nós mal chegamos ao fim de mês". "O que podemos fazer? Não temos interlocutores com quem falar."

"Yasser Arafat não pode fazer nada, está preso em seu quartel-general. De presidente só tem o nome", lamenta o comerciante.

Zayed ganha cerca de 500 shekels (US$ 110) vendendo roupa no mercado. Há quatro meses ganhava cerca de 4.000 shekels (US$ 900) como jornaleiro em Israel, mas perdeu o trabalho devido às restrições impostas depois do assassinato do xeque Ahmed Jasin, fundador do movimento radical Hamas, em 22 de março, durante uma incursão israelense.

"Vivemos numa indigência total e não há nenhuma melhora à vista", afirma Um Ahmed, que está desempregada, assim como sete de seus 17 filhos, que trabalhavam em Israel – situação semelhante à de outros 35 mil palestinos antes do início da segunda Intifada, há quatro anos. "É necessário que isso mude e que terminemos com esta vida de miséria. Nem Musa Arafat, nem Ghazi Jabali são as pessoas indicadas para castigar os corruptos", afirmou Um Ahmed, que mora no acampamento de refugiados de Chatti.

Musa Arafat, primo do líder palestino, foi nomeado para comandar o serviço de segurança geral antes de ser indicado para chefiar a Faixa de Gaza, o que gerou os protestos. Jabali é um ex-chefe da polícia que foi afastado do cargo.

Um Ahmed não acusa Arafat, mas o considera "velho e superado pelos acontecimentos".

"Não culpamos a Autoridade Palestina em seu conjunto, mas os corruptos que se enriquecem às nossas custas. Cerca de 90% dos dirigentes estão corrompidos e devem ser castigados e destituídos de seus cargos", afirma Abu Rami, outro vendedor. Ele explica que para obter um cargo de funcionário público é necessário pagar alguém. "São necessários 800 shekels (US$ 180) para um cargo num ministério que paga 1.200 shekels (US$ 265). É um roubo!", indigna-se.

Um jovem de Chatti que passou sete anos em prisões israelenses afirma que "quem for culpado de desvios de fundos e enriquecimento ilegal deve ser punido", mas acrescenta que "para isso são necessários serviços de segurança integrados". "Para mim, Arafat seguirá sendo um pai espiritual, mas não deve ter o controle sobre tudo", conclui.




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