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Terça-Feira, 16 de Abril de 2024

Pátria de chuteiras
Por Rodolfo de Souza
17/07/2019 | 21:52
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 É... Futebol no Brasil é coisa séria! Indivíduo se desespera quando seu time faz feio no campeonato, e dá piruetas de felicidade ao ver balançar a rede adversária no momento supremo do gol, mesmo que a vitória não se lhe afigure assim tão certa.

Tanto faz se é local, regional, nacional ou internacional, a peleja é sempre assunto predileto nas rodas e constantemente acaba em bate boca. E a discussão ferve no instante em que o mais afoito procura impor seus argumentos, nem que seja no grito. Povo fanático este que fala alto e tenta esquecer as agruras do dia a dia, torcendo e discutindo futebol.

E as crônicas esportivas exaltam, sem descanso, a habilidade de craques e as estratégias traçadas pelos técnicos.

A torcida, por sua vez, é presença essencial neste circo de corre-corre, integrando o jogo da mesma forma que as equipes e a arbitragem. Diga-se de passagem, é essa paixão que toca o esporte mais profissional de todos. Porque se descabela o sujeito em nome do time do coração, e porque compra camisa e a ostenta, e a veste no pequeno que, se Deus quiser, crescerá filho da mesma flâmula, é que rios de dinheiro são empregados e devolvidos em dobro ao feliz investidor. Fenômeno este que, multiplicado milhares de vezes, torna o negócio dos mais lucrativos para o sujeito que torce, ainda com mais fervor, pelo sucesso do futebol.

E haja negócio com patrocinadores, jogadores, clubes e televisão. Esta, cumprindo o seu papel de vender transmissões e difundir a loucura, é que torna possível essa empresa que envolve grana, cujo montante o coitado lá na arquibancada, sequer pode calcular. Entretanto, cabe a sua excelência, a plateia, fazer de qualquer campeonato, festa sem igual. Ainda que a sua realidade não seja condizente com aquele conto de fadas. Mas o torcedor se embebe disso. É, pois, a sua fuga deste mundo de desigualdade aviltante.

E quando se trata de copa do mundo, então? Aí as lágrimas protagonizam o espetáculo. De alegria ou de tristeza, ela verte rosto abaixo, configurando a importância do evento mais prestigiado do esporte bretão. Chora torcedor, chora jogador, treinador, o diabo...

E é do peito repleto de súbito patriotismo que provém o aguaceiro quando o selecionado do coração dá dicas de que poderá até vencer ou se, ao contrário, manca pelo campo, tomando olé do malvado adversário. É justamente aí que torce, que ri, que grita, e vaia e chora, tudo em nome de um emblema ou de um brasão que represente o seu país de origem que conquistou, a duras penas, aquela vaguinha dentre as seleções que disputam uma copa do mundo.

Final de jogo, vitória, às vezes, arrancada a fórceps por meio de penalidades, faz a tensão subir tanto que abre o berreiro o vencedor no momento do apito final. Chora também o perdedor com mais motivo ainda, dado o número exorbitante de batimentos cardíacos utilizados para suportar todo o tempo em que a bola correu solta pelo gramado, para tudo acaba-r em derrota, coitado.

Finalmente, recheado de muita alegria e de angústia, acaba o torneio. Se a bandeira é vitoriosa, a vida por certo que continua. Se derrotada, prossegue do mesmo jeito.

Para que tanto sofrimento, então, meu Deus? Não basta o que o dia a dia oferece, gratuitamente? Mas futebol é isso: é paixão, e paixão sem sofrimento não é de verdade.




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