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‘Campanha de Padilha pode precisar de ajuste’, diz Haddad
Por Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
08/09/2014 | 07:26
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Denis Maciel/DGABC


Prefeito da Capital, Fernando Haddad (PT) refuta tese de que índices negativos à sua gestão (36% de péssimo e ruim, segundo o Datafolha) impactem diretamente na campanha do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT) ao governo do Estado. Para Haddad, Padilha tem extenso trajeto para subir nas pesquisas, mas sugere que ajustes no discurso e na campanha seriam importantes para que o petista apareça com protagonismo na corrida eleitoral no Estado.

“É a mesma coisa que entrar com um esquema tático no campo e o adversário lhe surpreende. Você não muda o esquema tático? Muda durante o jogo, por isso o técnico tem três substituições”, afirma Haddad, em entrevista exclusiva ao Diário. O petista também prevê acirramento na disputa presidencial, em que Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) duelam cabeça a cabeça pela preferência do eleitorado. “É desafio.”

O prefeito destrincha ações de seu um ano e oito meses de mandato, marcado por revoluções na cidade e por críticas de diversos setores do município. Haddad vê como natural o período de turbulência, classificando a fase como “dores do parto” de uma cidade que busca “se reapropriar” do território público.

Ex-ministro da Educação no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, ele lembra das quedas de receita em seu primeiro ano, com o congelamento da tarifa de ônibus e a suspensão da atualização do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), o que, segundo ele, causaram prejuízo de quase R$ 3 bilhões aos cofres públicos. O resultado foi alterações do cronograma do plano de governo.

“Não esqueço de nada que falei. Todo dia lembro de tudo. E cobro dos secretários. Prefeito não é para ficar feliz com ritmo de nada. Se falar que estou feliz com o ritmo, as pessoas começam a encostar o corpo”, sintetiza.

Qual destaque de um ano e oito meses de gestão?
Do ponto de vista estrutural, estamos trabalhando em três frentes para mudar a cara de São Paulo por 20 anos, coisa que raramente um prefeito tem oportunidade de fazer. Primeiro deles foi a aprovação do Plano Diretor para os próximos 16 anos. Na minha opinião, Plano Diretor absolutamente transformador. A ideia de adensar a cidade nos eixos de mobilidade, preservar os miolos dos bairros, levar emprego para periferia, trazer morador para o Centro. É a primeira vez que se trata as margens dos rios Tietê e Pinheiros. É para dar caráter definitivo da cidade. O segundo eixo são as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Drenagem tem o maior volume de investimento da história. Na Mobilidade não há só os corredores de ônibus, mas tem o apoio do governo federal e municipal ao transporte sobre trilhos. O Minha Casa, Minha Vida finalmente saiu do papel em São Paulo. O terceiro (eixo) é a lei da dívida, a troca de indexador da dívida perante a União, projeto que está no Senado. Dois deles dependem só da gente: o Plano Diretor está sancionado e o PAC até março do ano que vem está licitado, com R$ 15 bilhões em obras. A dívida depende só do Senado, já passou inclusive nas comissões de Assuntos Econômicos e Constituição e Justiça. Com isso, São Paulo retoma seu projeto de futuro, recobra forças e tem condições de dar respostas eficazes.

O sr. disse que o paulistano quer ver mudança, mas não tem paciência para essas mudanças acontecerem. Segue com esse pensamento?
Há muita mudança acontecendo simultaneamente. Obviamente que há dores do parto que são normais neste momento de transformação. São as dores da mudança, de paradigma. São as dores do parto de uma cidade que quer se reapropriar do espaço público sem ter diante de si o desenho final. Você prefere ter horizonte em que a cidade se rearruma ou ficar no ritmo que estávamos? Estávamos parados no tempo. São Paulo parou no tempo e estamos retomando protagonismo.

A população tem maturação para aceitar essas mudanças, não demanda mais tempo?
A consciência pode vir antes. O (Michael) Bloomberg (prefeito de Nova York) sofreu seis anos. Mas já em Buenos Aires, com o (Mauricio) Macri, em dois anos as coisas começaram a amadurecer. Ele está no segundo mandato, e o primeiro foi de surra.

Uma das suas promessas de campanha é o Arco do Triunfo, que está presente no Plano Diretor e que o sr. disse que iria trazer impactos ao Grande ABC. Em que estágio está o programa?
O Arco do Futuro é arco metropolitano porque conecta São Paulo com as principais regiões da metrópole. Você tem arco propriamente que passa pelos principais rios das cidades e dará noção de metrópole. Tratamos essas regiões com políticas de incentivo específico.

O sr. definiu seu plano de governo como ousado. Ele anda no ritmo que o sr. deseja?
Tivemos alguns contratempos importantes. Esse ano estamos gastando R$ 2 bilhões para subsidiar tarifa de ônibus que há quatro anos está congelada. Perdemos R$ 800 milhões porque foi suspensa a atualização da PGV (Planta Genérica de Valores) do IPTU. Só aí são quase R$ 3 bilhões, é dinheiro. Apesar dos contratempos, nós tivemos apoio do governo federal para não parar as licitações. Mas a cidade acabou sendo prejudicada. Não esqueço de nada que falei. Todo dia lembro de tudo. E cobro dos secretários. Prefeito não é para ficar feliz com ritmo de nada. Se falar que estou feliz com o ritmo, as pessoas começam a encostar o corpo.

O sr. ressalta sempre investimentos no transporte coletivo e ciclovias, mas o governo federal insiste em incentivos fiscais para venda do automóvel. Não deveria haver política econômica mais vertical?
Não vejo conflito desde que se compreenda a questão. Há má compreensão do assunto.

Por parte da população?
Por parte de todos. Uma coisa é a propriedade do automóvel, a outra é o uso racional do automóvel. O que temos de aprender é usar racionalmente o automóvel. Quando o motorista de automóvel se revolta em ver faixa exclusiva de ônibus está equivocado. Em nenhum lugar do mundo se aceita o ônibus no congestionamento do carro.

Mas há a escolha do cidadão em ficar horas preso no trânsito, mas em seu carro...
Você dá alternativa. Nada contra a pessoa usar seu carro, mas ela não pode usar seu carro em detrimento do transporte público. É duro mudar, é difícil mudar. Paga-se preço político caro por essa tomada de decisão. Uma pessoa com visão em curto prazo não faz isso. Prefere empurrar com a barriga e deixar o carro (livremente). É mais fácil ser ex-prefeito de São Paulo do que prefeito.

O sr. acha que esse período de insatisfação chega a 2016?
Vai depender muito do quão a população esteja aberta ao novo, a um padrão novo de sociabilidade. Estamos num padrão inviável. Se não mudarmos nosso padrão de convívio na cidade não teremos futuro.

O problema é de quem? Da população, do agente público que não trabalhou a Educação lá atrás, de quem é?
É processo histórico. O descaso com a cidade começa com governantes. O exemplo tem de vir de todo lado, do governante, de dentro de casa. A questão da corrupção, por exemplo. Bloqueamos R$ 130 milhões de quatro fiscais. Tem de começar a demonstração de que vai tratar dinheiro público com seriedade. Toda administração pública está sujeita a alguém sair da linha, é muita gente para controlar. Mas criamos Controladoria, por lei tem carta branca para investigar do faxineiro ao prefeito, sem pedir licença para ninguém. Se o controlador quiser abrir minha gaveta, ele está autorizado. Se quiser entrar no meu computador está autorizado.

Analistas políticos dizem que a má avaliação do seu governo tem impacto direto na campanha de Alexandre Padilha. O sr. concorda?
São mesmos analistas que diziam que eu não iria sequer para o segundo turno em 2012. Não sei por que gozam de tanto prestígio.

Por que o Padilha não sobe nas pesquisas?
Pela mesma razão que eu, nesta época, estava com 10% de intenções de voto.

O sr. tinha 16% de intenções de voto neste momento, segundo o Ibope.
Levou uns 15 dias (para a subida).

Aconteceu em uma semana, prefeito.
Ele vai crescer. Vai crescer.

É por desconhecimento da figura do ex-ministro da Saúde?
Muitos me perguntavam sobre ajustes na campanha. Campanha é processo, não sai com planejamento. É a mesma coisa que entrar com um esquema tático no campo e o adversário lhe surpreende. Você não muda o esquema tático? Muda durante o jogo, por isso o técnico tem três substituições. (Padilha é) Bom candidato, com folha de serviços prestados ao País, jovem, tem tudo para crescer.

Qual leitura o sr. tem do cenário nacional?
O acidente que vitimou o Eduardo (Campos, do PSB) mudou bruscamente o cenário. É desafio novo que não estava no horizonte. De novo, não é? Prepara campanha para uma coisa e vem o imponderável. Foi perda de amigo no caso. O Eduardo foi ministro quando eu fui vice-ministro, era governador quando eu era ministro, interagia com muita frequência.

O sr. vê a ex-senadora Marina Silva com possibilidade real de vitória?
Vai ser disputa acirrada entre ela e a presidente (Dilma Rousseff, do PT). Até porque ela carrega consigo o fato de ter pertencido ao campo do presidente Lula. É pessoa que tem referência em vários âmbitos.

O sr. acha que a Marina é a candidata mais difícil que o PT enfrentou nos últimos anos?
Acho que é desafio por todo contexto. Desde a trajetória dela, passa pelo próprio acidente. Por todas essas razões. Acho que temos quase 50 dias pela frente (entre primeiro e segundo turnos). É muito tempo.

O discurso da presidente tem de ser ajustado também?
Vai afinando, é como instrumento, para pessoa ouvir o que você fala sem ruído. Vai percebendo como a pessoa encara o discurso. É processo de afinação.




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