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Capital dá início ao processo de remoção de 2.000 barracos do morro dos Macacos

Medida deve afetar diretamente 500 famílias de Diadema, que ocupam área de alto risco

Daniel Macário
27/01/2018 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


A prefeitura de São Paulo anunciou, nesta semana, o início do processo administrativo para remoção de famílias que ocupam o morro dos Macacos, no extremo Sul da cidade. Localizada em área de divisa da Capital com Diadema, a invasão é hoje uma das principais rotas de fugas para famílias de sem-teto do Grande ABC. 

À princípio, a expectativa é a de que cerca de 630 famílias que vivem na ocupação sejam removidas de seus barracos nos próximos dias. O processo, no entanto, segundo lideranças locais, deve se estender para todas 2.000 moradias instaladas na área de risco, sendo aproximadamente 500 delas de moradores vindos de Diadema.

Sem apoio do poder público e motivadas pelo alto custo do aluguel na região, pessoas nascidas em Diadema ocupam boa parcela do morro dos Macacos. Apesar de o local ter sofrido em 2012 deslizamento de terra que deixou dois mortos e 11 soterrados, ex-moradores do município do Grande ABC alegam que a área foi a única alternativa encontrada após a gestão chefiada pelo Lauro Michels (PV) não vingar projetos habitacionais na cidade.

“Durante anos morei de aluguel em Diadema. Tentei, várias vezes, cadastro na Prefeitura para projetos habitacionais, mas nunca me chamaram. Só ouvi promessas”, desabafa a dona de casa Alessandra Aparecida, 32 anos.

Mãe de três crianças – com idade entre 2 e 13 anos – Alessandra mora na ocupação há um ano, em um pequeno barraco de um único cômodo dividido entre quarto e cozinha. “Pagava R$ 650 de aluguel no Jardim Promissão (em Diadema). Acabou que meu marido perdeu emprego e tive de escolher entre colocar comida na mesa ou pagar aluguel”, lembra.

A situação foi a mesma encontrada pela também dona de casa Jeniffer dos Santos, 24. “Ia alugar uma casa em Diadema quando fiquei sabendo da ocupação. Como não tinha dinheiro optei por vir para cá.”

De acordo com o laudo emitido pela Defesa Civil de São Paulo, o morro dos Macacos possui hoje risco iminente de desabamento, sendo considerada área com níveis R3 (alto) e R4 (muito alto) para desastres naturais.

Com base nessas informações, a prefeitura regional Cidade Ademar iniciou, na segunda-feira, o processo de notificação dos moradores da região. Todas as ocupações do R4 foram demarcadas, sendo que 80 receberam auto de interdição na mesma hora. Outras 550 moradias foram demarcadas para que os munícipes compareçam, a partir de segunda-feira, na Prefeitura para retirar a notificação.

Embora reconheçam que o procedimento já era esperado, lideranças locais reclamam da falta de diálogo com a prefeitura de São Paulo. “Não houve proposta de projeto habitacional que pudesse contemplar as famílias, muito menos reunião para discutir alternativas”, relata Oziel Silva, presidente da Almuf (Associação de Luta e Moradia Unindo Força).

Questionada sobre o assunto, a prefeitura de São Paulo não deu informações sobre quais projetos habitacionais poderiam ser destinados para moradores do morro dos Macacos. Em nota, a administração limitou-se a dizer que tem feito o acompanhamento socioassistencial das famílias durante este processo. A administração de Diadema não se pronunciou até o fechamento desta edição.

Moradores cobram ação conjunta de Diadema e S.Paulo durante negociação

Na tentativa de reverter possível reintegração de posse da área, moradores do Morro dos Macacos cobram com urgência abertura de negociação entre as prefeituras de São Paulo e Diadema para possível criação de projeto habitacional conjunto entre as duas cidades. 

Segundo o grupo, a ideia seria reaproveitar a própria área hoje invadida para construção de moradias. Ainda existe um segundo projeto, ainda em elaboração, que prevê construção de moradias em áreas hoje desocupadas na Zona Sul da Capital e, inclusive, em Diadema.

“Temos propostas que poderiam ser contempladas através da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) ou até mesmo do Minha Casa, Minha Vida. O problema é que ninguém discute esses projetos”, reclama Oziel Silva, presidente da Almuf (Associação de Luta e Moradia Unindo Força).

Questionada sobre o assunto, a prefeitura de São Paulo não se posicionou sobre possível parceria entre as duas cidades. Diadema, por sua vez, sequer retornou aos contatos do Diário.




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