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O quarto poder

Dirigido por Spielberg, ‘The Post’, que estreia dia 25 no cinema, defende a liberdade de imprensa

Por Miriam Gimenes
18/01/2018 | 07:00
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Universal/Divulgação


A Guerra do Vietnã, que durou duas décadas (1955-1975), foi motivada por questões ideológicas: era o Norte (aliado da União Soviética) contra o Sul (Estados Unidos), ou vice-versa. O conflito, que contou com forte participação do exército norte-americano – entre os anos de 1965 e 1973 –, deixou o país asiático em ruínas e, estima-se, dizimou entre 1,5 milhão e 3 milhões de vidas. Só de norte-americanos foram 58 mil homens.

Mas, aos ouvidos de quem viveu à época, não chegava esse tipo de informação. Embora a participação norte-americana fosse controversa e a vitória jamais seria uma realidade, isso não era reconhecido pelo governo. Mas um estudo detalhado dessa participação – sigiloso, diga-se –, que revelava as mentiras sobre a participação do país na guerra, os chamados Pentagon Papers (ou Papéis do Pentágono), ‘caiu’ na mão da imprensa. E o desenrolar da história desde então pode ser visto a partir do dia 25 com o filme The Post – A Guerra Secreta, dirigido por Steven Spielberg.

O filme se passa em 1971, época em que a editora e dona do The Washington Post era Katharine Graham (Meryl Streep), aristocrata que após o suicídio do marido teve de ficar à frente da empresa, lidar com problemas financeiros e tomar decisões importantes.

Meryl faz uma editora um tanto atrapalhada – aparentemente cerceada pelo machismo existente à época e que ecoa ainda hoje –, mas que, no decorrer da história, ganha corpo, postura e mostra o quão as circunstâncias são capazes de transformar as pessoas.

Ela confia plenamente no editor Ben Bradlee (Tom Hanks), que após ver o The New York Times estampar na primeira página a denúncia sobre os Pentagon Papers, faz de tudo para conseguir as 7.000 páginas também. Quando o então presidente Richard Nixon consegue liminar que proíbe o Times de publicar informações que possam interferir em temas de segurança nacional, Post entra no páreo. Vale dizer aqui que quem vê a atuação de Hanks imagina que ele tenha passado uma vida dentro da redação de um jornal. É de arrepiar.

Não à toa, The Post foi eleito o melhor filme de 2017 pelo National Board of Review, um dos principais termômetros para o Oscar, e tanto Hanks quantl Meryl também receberam os títulos de melhores ator e atriz, respectivamente. Os indicados para o Oscar serão divulgados dia 23 e a cerimônia será dia 4 de março.

LIBERDADE
É impossível assistir ao filme sem traçar um paralelo com a situação atual da imprensa, não só nos Estados Unidos – onde é atacada veementemente pelo presidente Donald Trump – como em todo o mundo. Spielberg, por sua vez, diz que o longa não é partidário. “É um filme sobre patriotismo e sobre os meios de comunicação corajosos, o quarto poder, e tudo o que fizeram para conseguir publicar os Papéis do Pentágono, que depois levou a Watergate.” Este último caso, também denunciado pelo Post, levou à renúncia de Nixon.

Para quem vive o dia a dia de uma redação, o filme mostra nitidamente a força que tem uma reportagem bem apurada e a paixão que tem de ter ao fazê-la. Não à toa The Washington Post segue forte no mercado editorial e registrou o segundo ano consecutivo de lucro. E detalhe: desde que Trump assumiu, o slogan da publicação é Democracy Dies in Darkness (A democracia morre na escuridão). Absolutamente entendível.

Mas para quem não desfruta da mesma profissão, vale assistir para identificar a importância da liberdade de imprensa, tão atacada nos dias atuais. Afinal, como diz uma das cenas do longa, “a imprensa deve servir aos governados, não aos governantes”.
 




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