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Cresce número de presos no Enem
Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
13/11/2016 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Prestar a prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) é o início da jornada para entrada na universidade para muitos jovens. Para 211 pessoas do Grande ABC que estão presas ou apreendidas, o exame, que acontece nos dias 13 e 14 de dezembro, significa também uma chance de mudança de vida. O número é 27,11% maior em relação a 2015, quando houve 166 inscritos.

O teste direcionado para pessoas privadas de liberdade será aplicado nas seis unidades da Fundação Casa na região – duas em Santo André, duas em São Bernardo, uma em Diadema e uma em Mauá – e nos quatro CDPs (Centros de Detenção Provisória) do Grande ABC. Será coordenado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). As regras são as mesmas da prova comum, porém, com conteúdo inédito.

Neste ano, 30 adolescentes que cumprem medida socioeducativa por ato infracional vão prestar a prova, índice 85,71% maior que no ano passado. Na unidade dois de São Bernardo, apenas dois jovens optaram por se inscrever no Enem. Com 18 e 19 anos de idade, ambos cometeram roubos na região.

O mais novo, que está prestes a concluir o 2º ano do Ensino Médio, pretende cursar Arquitetura. A escolha é justificada pelo gosto e habilidade de desenhar, que são famosos em toda a unidade. “Eu sempre gostei muito de fazer desenhos, mas ainda preciso melhorar muito. Imagino que os projetos de pontes ou prédios devem ser mais complicados ainda, mas eu pretendo ir melhorando sempre”, disse.

Caso ingresse na universidade, ele será o segundo de sua família a cursar Ensino Superior. Natural de São Bernardo, ele morava com a mãe e a irmã, que faz curso de Enfermagem. “Quando as duas me visitam, sentem orgulho por eu estar tomando o caminho certo. Hoje, tudo o que eu penso é me esforçar muito para melhorar de vida. Quero arrumar um emprego para ajudar a pagar a minha faculdade.”

Para o outro jovem infrator, que é de Diadema, o sonho é se tornar um engenheiro mecânico ou civil. Ele já terminou o Ensino Médio, mas faz aulas preparatórias para o Enem. “Antes eu trabalhava como auxiliar de produção em uma empresa automotiva e ficava observando o pessoal que trabalhava na área. Aprendi muito só de olhar e minha vontade é fazer isso.”

Por meio de parceria com o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), os jovens da unidade têm acesso a cursos profissionalizantes. Ele frequenta as aulas de atitude empreendedora e contou que já pensou em aplicar o conteúdo na abertura do próprio negócio. “Nunca se sabe, né? Eu penso muito em aplicar no mundo aí fora o que aprendi aqui. Não deixa de ser um aprendizado”, argumentou ele, que, caso ingresse em uma universidade, seria o primeiro da família a ter curso superior.

“Acho que seria uma oportunidade de dar a volta por cima. Sei que muita gente critica a gente e vamos ter dificuldades até para conseguir um emprego, mas todo mundo merece uma segunda chance”, declarou o jovem mais novo.

O diretor da Fundação Casa Sergio Lopes elogiou a iniciativa e tem o intuito de mobilizar mais jovens no próximo ano. Atualmente a unidade mantém 58 internos. “É uma garantia de direitos e também uma grande possibilidade de concretizar um sonho para o futuro. Esperamos que cada vez mais tenham esse interesse.”

CDPs são responsáveis por 172 inscrições no exame

Os quatro CDPs (Centros de Detenção Provisória) da região concentram o maior número de inscritos. São 172 presos que aguardam por uma sentença que prestam o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) no próximo mês, número 18,62% maior que no ano passado.

A unidade responsável pelo maior número de inscrições é Diadema, com 70, cinco a mais do que em 2015. Em seguida estão Santo André, que passou de 40 para 50, e Mauá que se manteve com 40 inscritos nos dois períodos. São Bernardo não teve adesões em 2015 e neste ano tem 12 presos que vão prestar a prova.

A SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) ressaltou a importância da reinserção social com a medida. “Para tanto, a Pasta dispõe de diversas formas de incentivo de reintegração social para os presos, em que destacam-se os projetos de educação e trabalho nas unidades.”

Ao contrário da Fundação Casa, onde as unidades operam dentro da capacidade, os CDPs têm problema crônico de superlotação. O maior número de internos está na unidade de São Bernardo, que mantém 1.779 presos, mas só tem capacidade para 844.  




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