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Preso, Atila se afasta do governo e Alaíde assume

Para fugir de cassação, prefeito de Mauá cede cargo à vice por 15 dias; Câmara rejeita impeachment

Por Júnior Carvalho
Do Diário do Grande ABC
16/05/2018 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


O prefeito de Mauá, Atila Jacomussi (PSB), preso há exatamente uma semana na carceragem da PF (Polícia Federal), na Capital, pediu ontem seu afastamento temporário da chefia do Paço e cedeu o cargo à vice-prefeita Alaíde Damo (MDB), que tomou posse a portas fechadas.

A medida foi estratégia do núcleo duro do governo para evitar cassação e ganhar tempo para salvar o governo do socialista.

O comunicado da licença foi lido durante a sessão na Câmara, minutos depois de a maioria dos vereadores rejeitar a abertura do impeachment de Atila, protocolado anteontem pela executiva do PT em Mauá. Dos 23 vereadores, 20 votaram a favor de Atila. O petista Marcelo Oliveira foi o único a dizer ‘sim’ à tramitação do impeachment na Casa (leia mais abaixo). Ricardinho da Enfermagem (PTB) não participou da votação alegando problemas de saúde. O presidente da Casa e pai do prefeito, Admir Jacomussi (PRP), não teve direito ao voto.

A ausência de Atila na chefia do governo será de até 15 dias, segundo o documento lido no plenário. Os governistas apostam que o socialista conquiste a liberdade antes deste período e retorne à cadeira o quanto antes. Até o fechamento desta edição, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) ainda não havia julgado o pedido de habeas corpus impetrado pela defesa do político na segunda-feira. O núcleo duro sustentou aos vereadores que Atila seria solto no máximo ontem.

Embora o afastamento de Atila já tivesse sido tratado logo pela manhã com os parlamentares, os porta-vozes da gestão do socialista evitaram declarar explicitamente, em entrevista aos jornalistas, sobre a posse de Alaíde. “Os trâmites (sobre a substituição) são com a Prefeitura de Mauá. A solicitação é de (afastamento de) até 15 dias, mas não significa que vá durar. Temos confiança que ainda nesta semana ele retorne. Estamos confiantes que entre hoje (ontem) e amanhã (hoje) o HC seja julgado e toda ilegalidade e arbitrariedade contra nosso prefeito serão corrigidas”, despistou Israel Aleixo (PSB), superintendente da Sama (Saneamento Básico do Município de Mauá) e braço direito do prefeito.

A assessoria do governo também evitou antecipar se Alaíde assumiria ou se o cargo de prefeito ficaria vago, em nítida demonstração de que ainda restavam esperanças dos pró-Atila de que o habeas corpus fosse julgado e não fosse preciso dar posse à vice. Já estava no fim da tarde quando o ex-prefeito Leonel Damo (sem partido), marido de Alaíde, conversou com jornalistas em seu escritório e afirmou que a mulher não sabia de nada sobre a substituição. “Até agora ninguém falou nada”, disse Leonel, ao emendar que Alaíde passou o dia de ontem em casa e que, no atual mandato, só pisou duas vezes na Prefeitura. A confirmação oficial de que Alaíde havia assumido o governo só veio às 18h30, acompanhada de foto da emedebista ao lado de Admir Jacomussi.

Os porta-vozes do governo se negaram a falar sobre o futuro do secretário João Gaspar (PCdoB, Governo e de Transportes) no Paço. Ele também está preso preventivamente na carceragem da PF e oficialmente ainda segue no governo. Atila e Gaspar são acusados de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no âmbito da Operação Prato Feito, que investiga desvios de recursos em contratos de merenda e material escolares. Ao deflagrar a operação, no dia 9, a PF encontrou R$ 87 mil em dinheiro vivo na casa de Atila e R$ 588 mil em espécie na residência de Gaspar, além de 2.985 euros – o prefeito alega ser inocente.

Sessão vira ato pró-governo; PT diz que pedirá anulação

A sessão na Câmara em que foi rejeitada a abertura de impeachment do prefeito Atila Jacomussi (PSB) e lido seu pedido de afastamento virou ato pró-governo. Vários funcionários comissionados do Paço deixaram seus postos e encheram o plenário para camuflar a pressão de manifestantes favoráveis ao impeachment de Atila.

A votação pela aceitação ou não do processo de cassação do mandato do prefeito foi nominal. A cada voto pró-Atila, a claque comemorava. Os apoiadores do prefeito aderiram ao famoso discurso ‘não vai ter golpe’, adotado por apoiadores da presidente cassada Dilma Rousseff (PT) na época do impeachment. Assessores do prefeito também colocaram a frase em fotos pessoais nas redes sociais e fizeram a defesa ferrenha do socialista no Facebook.

Um dos que assinou o pedido de impeachment, o ex-vice-prefeito e ex-vereador Paulo Eugenio Pereira Júnior (PT) lamentou o resultado, mas antecipou que o partido pedirá na Justiça a anulação da sessão. “Por mais que o Admir (Jacomussi, PRP, presidente e pai de Atila) não tenha votado, ele não poderia ter presidido os trabalhos porque é pai do acusado”, sustentou. “(O resultado) Já era esperado. Fiz o meu papel”, comentou o oposicionista Marcelo Oliveira, único parlamentar a votar contra Atila. Admir Jacomussi chegou a se emocionar.

Ao fim da sessão, manifestantes ligados ao Psol entraram em conflito com apoiadores do prefeito na saída do prédio do Legislativo e, ao tentarem bloquear a avenida em frente à Casa, foram barrados pela GCM (Guarda Civil Municipal), que usou gás de efeito moral para dispersar os manifestantes. O ex-prefeiturável Mateus Prado (PT) alegou ter sido agredido. 




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