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Mauá luta contra analfabetismo
Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
04/04/2017 | 07:00
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 A Prefeitura de Mauá estima que atualmente cerca de 15 mil pessoas não saibam ler ou escrever na cidade. Com o objetivo de reduzir este número, a administração retomou o Proalma (Programa de Alfabetização de Mauá), o qual visa qualificar os adultos que estão nesta situação no município. Dados do Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2010 afirmam que há 66 mil analfabetos no Grande ABC.

Inicialmente, são duas turmas com 20 alunos cada, com três horas de duração, em andamento. Conforme a Prefeitura, o programa prevê que o estudante possa cursar todo o Ensino Fundamental no período de 42 meses. Segundo a administração, a maioria dos alunos é do sexo feminino e idade acima dos 59 anos. “Historicamente, estas mulheres têm dificuldades em retomar os estudos porque precisam cuidar da família, filhos e netos, preparando as refeições e os levando para a escola”, informou a Secretaria de Educação, por meio de nota.

O horário da tarde é direcionado para a mulher que pode deixar filhos ou netos na escola e tem um tempo livre. Também há turma à noite, para quem ainda precisa trabalhar.

Entre os alunos está o aposentado Airton Souza Aguiar, 64 anos, que já tinha desistido de aprender a ler. Para fazer coisas simples, como ir ao mercado, ele precisa da companhia dos netos. “Já sei ver o número do ônibus que pego para voltar para casa. O meu principal problema é juntar todas as letras. Como meus netos já estão com mais de 18 anos, eu não conseguia mais levá-los (para acompanhá-lo).”

Morador do Jardim Zaíra e operário aposentado, ele afirmou que nunca precisou saber ler ou escrever para o emprego. “Aprendi tudo isso sem a ajuda de ninguém. Por isso não penso em pegar diploma ou certificado. Quero apenas aprender a ler e a escrever.”

Estudantes da 1ª à 4ª série do ciclo 1 do Ensino Fundamental receberão certificado. Já para os do ciclo 2, do 6º ao 9º ano, a modalidade funcionará apenas com aulas de reforço, já que os alunos serão encaminhados a outros cursos, como a EJA (Educação de Jovens e Adultos).

A comerciante do Jardim Itapark Maria Saraiva de Magalhães, 43, sonha em pegar o diploma após completar os estudos. Ela afirma ter largado a escola nos primeiros anos do Ensino Fundamental. “Vim da Paraíba e sou separada. Então, tive de trabalhar muito de auxiliar de cozinha para criar os meus cinco filhos. Hoje o caçula está com 15 anos e vai muito bem na escola”, contou.

Recentemente, Maria Saraiva abriu o próprio negócio, um pequeno bar. Para conseguir trabalhar, a leitura e a escrita são primordiais. “O principal problema é que eu travo muito na hora de ler a palavra. Não consigo juntar direito. Além disso, sempre quis tirar a carteira de motorista. Quem sabe agora consigo.”

 

 

EJA tem 13.338 estudantes na região

 

Atualmente, 13.338 alunos estão na EJA (Educação de Jovens e Adultos) no Grande ABC. A modalidade é oferecida pela Secretaria Estadual de Educação e compreende desde o ciclo 2 do Ensino Fundamental até a conclusão do Ensino Médio. Mauá tem 3.134 matriculados, atrás somente de São Bernardo, com 3.599 pessoas. Segundo a Prefeitura, o Proalma (Programa de Alfabetização de Mauá), que não teve custos, já que utiliza profissionais da rede e espaço do Centro de Formação de Professores, tem diferenças em relação à EJA.

“As classes aproximam o aluno do processo de aprendizagem por meio de pontos de convivência diária. Em uma aula, a professora pode ensinar termos matemáticos, químicos e leitura por meio de receita culinária” disse em nota.

Para o doutor em Educação e professor da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo) Ocimar Alavarse, a iniciativa de Mauá é positiva, porém, há ressalvas. “As prefeituras precisam oferecer a EJA. É positivo manter um programa, desde que ele ofereça metodologia diferente. A própria questão da aproximação do aluno é uma discussão metodológica da EJA.”

 

Prefeituras também mantêm ações

Com foco no analfabetismo, as demais administrações também mantêm estratégias para acabar com o problema, independentes ou alinhadas à EJA (Educação de Jovens e Adultos).

São Bernardo informou que os adultos são atendidos pelo Programa Alfa (Alfabetização de Adultos), da modalidade EJA, nas escolas de Educação Básica da rede municipal onde haja demanda. “Além do Alfa, há também atendimento em classes multisseriadas I (1º/4º), em que cada aluno é atendido na sequência do nível em que se apresenta na mesma turma ou classe”, disse em nota.

Em Santo André, além do Mova (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos), mantido com educadores voluntários, a cidade pretende aderir ao programa Brasil Alfabetizado, do Ministério da Educação. No entanto, depende da resposta do governo federal.

Ribeirão Pires mantém convênio com o Mova. “Porém, realiza estudos para a implementação do mesmo como um novo segmento com melhores condições de atendimento e ensino”, informou em nota.

 




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