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Grande ABC reduz criminalidade, mas segue entre piores do Estado
Por Daniel Lima
Do Diário do Grande ABC
07/02/2005 | 16:58
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A criminalidade é uma enfermidade que já levou o paciente chamado Grande ABC ao estado terminal, mas nos últimos cinco anos houve melhora significativa. Entretanto, o resultado conjunto coloca os sete municípios numa espécie de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). O Grande ABC é um dos piores endereços do Estado de São Paulo quando as estatísticas da Secretaria de Segurança Pública são sistematizadas pelo IEME (Instituto de Estudos Metropolitanos), braço estatístico do Grupo Diário.

Entre os 75 principais municípios do Estado, que representam 80% do PIB (Produto Interno Bruto) paulista, o Grande ABC só está em situação menos dramática que Paulínia, Sumaré, São Paulo e Campinas, onde homicídos, roubos e furtos de veículos e roubos e furtos diversos apresentam combinações ainda piores.

A curva do Índice de Criminalidade no Grande ABC passou por vigorosa melhora quando se comparam apenas internamente, no âmbito restrito aos próprios municípios locais, os números de 2000 e do ano passado nos dois principais indicadores que balizam o ranking do IEME. Em 2000 foram assassinadas 1.149 pessoas no Grande ABC e se furtaram ou se roubaram 30.672 veículos. Cinco anos depois, os assassinatos baixaram para 633 registros e os furtos e roubos de veículos caíram para 21.830 casos.

O resultado aritmético dessa transformação criminal é preliminarmente entusiasmante. Os homicídios foram rebaixados em 45% no período, enquanto os casos de roubos e furtos de veículos caíram 28,8%. Esses dois indicadores têm peso de 90% no ranking de criminalidade do Instituto de Estudos Metropolitanos. O peso ponderado maior são os 60% dos registros de assassinados, contra 30% de furtos e roubos de veículos. Já os casos de furtos e roubos diversos têm influência de apenas 10% no ranking porque são menos graves e sofrem o desgaste da subnotificação. Perto de 50% das vítimas não registrariam queixas nas delegacias de polícia.

A perspectiva de que o Grande ABC se tornaria menos frouxo em qualidade de vida, um dos aspectos mais importantes na disputa por competitividade econômica, acabou frustrada mais uma vez. A drástica redução do quadro criminal não conseguiu acompanhar a média de avanços obtidos pelos principais municípios do Estado. Por isso, o conjunto de sete municípios da região segue nas últimas colocações.

  

72º lugar no ranking – Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não constam da relação dos 75 principais municípios do Estado, mas o IEME resolveu incluí-los num ranking à parte para chegar a números específicos do conjunto do Grande ABC e fugir da compartimentação exclusivamente individual. Com os sete municípios tratados como espécie de metrópole de 2,5 milhões de habitantes no interior da Grande São Paulo de 19 milhões, o Grande ABC ocupa o 72º lugar na classificação. Nesse caso, o ranking do IEME passaria a contar com 78 municípios: os 75 originais da pesquisa, mais Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e o suposto Grande ABC.

O ranking do Instituto de Estudos Metropolitanos obedece rigorosamente ao padrão internacional que estipula a contagem de registros policiais parametrizados para grupos de 100 mil habitantes, ou equivalentes a 100 mil habitantes no caso de municípios que não atingem essa marca. Essa é uma fórmula consagrada para eliminar interpretações equivocadas que têm como origem disparidades demográficas. Uma São Paulo de quase 11 milhões de habitantes contabiliza números absolutos maiores em homicídios, roubos e furtos diversos e roubos e furtos de veículos do que qualquer outro município brasileiro. Entretanto, com a divisão por 100 mil habitantes, a disputa se torna equivalente e os referenciais passam a ter sustentação avaliativa.

No grupo oficial de 75 municípios pesquisados pelo Instituto de Estudos Metropolitanos (do qual, portanto, não constam nem Ribeirão Pires nem Rio Grande da Serra), é de São Caetano o melhor desempenho do Grande ABC no ranking que envolve roubos e furtos de veículos, roubos e furtos diversos e homicídios. A cidade da região consagrada nacionalmente como campeã do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) está em 13º lugar no IC (Índice de Criminalidade) do IEME.

  

Jaú em primeiro – O Índice de Criminalidade é liderado por Jaú e em seguida vêm Louveira, Catanduva, Matão, Marília, Guarujá, Vinhedo, Praia Grande, Presidente Prudente, Bragança Paulista, São Carlos e Cajamar. As primeiras 11 colocações são ocupadas por municípios do Interior e do Litoral. Depois do 13º lugar de São Caetano, seguem-se mais oito municípios interioranos ou litorâneos. Os municípios mais industrializados tendem a ocupar postos mais modestos porque a deterioração da qualidade de vida costuma correr atrás da riqueza produzida e tem como aliada a deficiente estrutura de planejamento urbano público.

Depois de São Caetano, quem do Grande ABC melhor se posiciona no Índice de Criminalidade do IEME é Mauá, que ocupa o 63º lugar. Um pouco à frente de Diadema, 67ª colocada. São Bernardo em 71º e Santo André em 72º freqüentam a rabeirinha classificatória, à frente apenas de Sumaré, São Paulo e Campinas.

Se constassem do ranking oficial do IEME, Rio Grande da Serra seria a 12ª colocada enquanto Ribeirão Pires ocuparia o 47º lugar. Os dois municípios estão alijados do ranking oficial do Instituto de Estudos Metropolitanos porque não contam com números absolutos de geração de riqueza, espécie de PIB municipal.

Uma comparação entre o melhor endereço de qualidade de vida criminal do Grande ABC, a sempre destacada São Caetano, e Jaú, primeira colocada na classificação final do IEME, explicita o que separa o que há de mais expressivo entre o que seria o sonho eventualmente possível do Grande ABC e o que já é realidade no Interior paulista.

No caso de furtos e roubos de veículos, Jaú registrou o 12º melhor resultado entre as 75 cidades pesquisadas pelo Instituto de Estudos Metropolitanos. Foram 130,15 casos para cada 100 mil habitantes, enquanto em São Caetano os números saltaram para 1.276,52.

  

Dez vezes mais – Os números querem dizer que a probabilidade de ocorrência de caso de roubo e furto de veículos em São Caetano é 10 vezes maior que em Jaú. Esse quesito é o principal calcanhar-de-aquiles de São Caetano, penúltima colocada entre os 75 municípios e à frente apenas de Santo André, com 1.515,46 registros para cada grupo de 100 mil habitantes. Se a comparação fosse com Catanduva, campeã em eficiência contra roubos e furtos de carros com apenas 58,33 registros para cada grupo de 100 mil habitantes, a diferença seria estupidamente maior: 45 vezes maior em São Caetano.

No caso de roubos e furtos diversos, Jaú repete a 12ª colocação no ranking do IEME, enquanto São Caetano melhora em relação a roubo e furto de veículos, com a 63ª posição. Em Jaú, são 1.228,62 casos registrados para cada 100 mil habitantes, enquanto em São Caetano o índice salta para 2.434,30. Há duas vezes mais possibilidades de ocorrerem furtos e roubos diversos em São Caetano do que em Jaú. Em relação a Embu, líder nesse quesito com 811,91 casos por 100 mil, a probabilidade de ocorrência em São Caetano seria três vezes maior.

Completando o confronto do Índice de Criminalidade entre São Caetano e a campeã geral Jaú, no ranking de homicídios dolosos a cidade do Grande ABC revela toda a força com um brilhante quinto lugar entre os 75 municípios. No ano passado foram registrados apenas 5,79 assassinatos para cada grupo de 100 mil habitantes, enquanto em Jaú o índice foi de 3,31. Ou seja: há 57% mais possibilidade de o morador de São Caetano ser morto em relação ao habitante de Jaú.

  

Dois meses apenas – Se o índice de homicídios da campeã Jaú for confrontado com o de Diadema, pior endereço do Grande ABC no quesito e 64ª colocada no Estado, a dimensão do esfarelamento do valor da vida no município do Grande ABC ficará mais nítida. Embora tenha apresentado extraordinários avanços nos últimos cinco anos, entre outras razões porque passou a fechar os bares a partir das 23h com a chamada Lei Seca, em Diadema se mataram no ano passado 34,58 pessoas para cada grupo de 100 mil habitantes. Dez vezes mais que em Jaú. Nos últimos cinco anos foram assassinadas apenas 19 pessoas em Jaú. Bastam dois meses para Diadema assistir ao assassínio médio de 20 moradores.

Diadema reduziu em 48% o índice de homicídios nos últimos cinco anos. Foram assassinadas 271 pessoas em 2000, enquanto tombaram 130 no ano passado. Se forem apresentados números de 1999, a recuperação de Diadema será ainda maior: naquele ano, o índice de assassinatos por 100 mil habitantes atingiu 102 casos.

Uma das lições que se retiram das estatísticas metabolizadas pelo Instituto de Estudos Metropolitanos é que o Grande ABC não pode se dar por satisfeito com a contínua freqüência com que os indicadores de criminalidade vêm despencando. O enfermo ainda apresenta quadro clínico preocupante. Principalmente quando se constata que indicadores de criminalidade são fator determinante à atratividade de investimentos.



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