Economia Titulo Dia do Trabalhador
Sindicato reúne 70 mil
pessoas em S.Bernardo

Discurso trabalhista perdeu espaço para pagode; público
queria ver show de Zeca Pagodinho e vaiou o ato político

Andréa Ciaffone/Soraia Abreu Padrozo/Tauana Marin
02/05/2013 | 07:00
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A festa de 1º de maio realizada ontem no Paço Municipal de São Bernardo deixou uma coisa bem clara: a luta continua para o movimento sindical, mas o que o público presente, cerca de 70 mil pessoas, quer mesmo é curtir os shows de artistas conhecidos.

Promovida pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) do ABC, a festa tinha como ponto alto a programação musical. Quase 40 artistas, incluindo nomes famosos, como Michel Teló, Sérgio Reis, Gusttavo Lima, César Menotti e Fabiano, subiram ao palco para cantar três ou quatro músicas, geralmente seus maiores sucessos. O gran finale ficou por conta de Zeca Pagodinho, que trouxe seu novo show em versão completa.

"A época dos debates políticos, de reflexão, acabou. Hoje, o 1º de maio é grande comemoração por todos os ganhos que a classe trabalhadora conquistou nas últimas décadas", afirma o metalúrgico aposentado Derli Dias do Amaral, 64 anos, que passou pela Volkswagen, Scania e Mercedes-Benz. Ele conta que correu da polícia e levou borrachadas nos anos 1970 e 1980. Dona Dalva, mulher de Amaral desde 1976, confessa que vivia preocupada. "No auge do movimento sindical, ele saía e a gente não sabia se ia ter de procurar na polícia, no hospital ou no necrotério." As conquistas para a categoria vieram e o casal criou os dois filhos, que trabalham em grandes indústrias como engenheiros.

NOVA PAUTA - Hoje mais preocupados em curtir as músicas, os jovens presentes na festa ficaram impacientes com os pronunciamentos dos sindicalistas e políticos e não economizaram vaias. "A gente sabe que quando tem música as pessoas ficam ansiosas pelo show, mas elas têm de saber a razão pela qual estamos comemorando aqui", diz o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho.

O diretor administrativo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Teonílio Monteiro da Costa, o Barba, lembrou que no passado a data tinha grande significado político na região. "Em 1981, nós (trabalhadores) abraçamos o Paço e garantimos a realização do 1º de maio", destacou para lembrar aos ansiosos pelo show que vaiavam os oradores. "O fato é que os jovens não viveram a repressão, são da era da diversão. Mas, outras questões estão surgindo", aponta Marinho. "O que não é possível é tentar reviver excrescências do passado, como o gatilho salarial que a Força Sindical está propondo. Isso não se aplica aos dias de hoje", completa.

VOZ PARA TODOS - Sob o tema ‘Quero falar também', lideranças sindicais e políticos defendiam a não monopolização das informações. "Temos que dar espaço a novos veículos da mídia", abrevia o secretário de relações do trabalho do Ministério do Trabalho, Manoel Messias Melo. O presidente da CUT, Vagner Freitas, acredita que o Brasil vive hoje um momento onde poucos canais de comunicação manipulam informações. "É preciso expandir para os dois lados."

Barba lamentou o fato de as centrais não poderem anunciar avanços na pauta de reivindicação que foi encaminha ao governo federal no início do ano. "Vamos aguardar a próxima reunião e debater sobre o fim do fator previdenciário, a redução da jornada e outros itens bastante importantes para os trabalhadores brasileiros." A primeira reunião entre representantes do governo, da CUT e das demais centrais sindicais será no dia 14.

Para o secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, Sivaldo da Silva Pereira, o Espirro, o que está faltando é diálogo entre as centrais sindicais e o governo. "Falta jeito para tratar com os trabalhadores, falta a contrapartida: ouvir quem trabalha para as empresas."

INVESTIMENTO - O investimento na festa deste ano é 35% maior do que em 2012. Segundo o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges. foram aportados R$ 850 mil. O aumento se justifica pelas mudanças na infraestrutura do evento, à qual foram destinados R$ 150 mil. O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, que matou mais de 230 pessoas em janeiro, estimulou, a pedido da polícia, alterações na organização.

Desta vez, o Paço Municipal foi cercado com placas de metal e a entrada do público foi distribuída por locais diferentes identificados pela cor da pulseirinha - outra novidade -, distribuídas do lado de fora. "Será feito rateio entre 15 sindicatos, incluindo metalúrgicos, químicos, bancários, gráficos e Saúde, para redivisão dos valores investidos."

 

 

 

 




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