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Há um ano, povo tomava as ruas

Manifestações populares reuniram milhares de brasileiros, que exigiram redução na tarifa de ônibus e mais transparência no meio político

Por Rogério Santos
Do Diário do Grande ABC
01/06/2014 | 07:27
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Ricardo Trida/DGABC


Em junho de 2013, milhares de brasileiros tomaram as ruas em série de protestos que, a princípio, reivindicava a redução de R$ 0,20 na tarifa de ônibus, mas que, na sequência, evidenciou descontentamento com a classe política. Organizadas pelas redes sociais, as manifestações surpreenderam tanto pela quantidade de adesões quanto pela violência desencadeada pelos black blocks – jovens que usam máscaras e roupas pretas, realizando atos de vandalismo.

Com a onda de reivindicações, confrontos entre a Polícia Militar e os manifestantes se tornaram frequentes no período, desvirtuando, em parte, o protesto inicial que marcou o retorno da população às ruas. Série de saques também mostrou faceta que não se imaginava no começo do movimento.

Integrantes de legendas políticas e centrais sindicais utilizaram o expediente e passaram a participar dos atos, demonstrando que as manifestações também foram usadas para propagar ideais político-partidários. A presença dos militantes das siglas desencadeou conflitos entre aqueles que repudiavam o envolvimento de colorações partidárias.

Um ano depois, o País volta a ser palco de mobilizações populares, cujo alvo principal são os gastos com a realização da Copa do Mundo no Brasil, que já consumiu R$ 25,8 bilhões.

As despesas com o evento internacional, consideradas exageradas em momento de economia delicada, puxam a fila de novos protestos, que incluem categorias em busca de valorização, como professores e policiais. As ameaças de greve viraram constantes até mesmo em serviços essenciais para a realização do torneio, a exemplo do Metrô. Os condutores cogitam cruzar os braços às vésperas da estreia do Brasil na Copa.

O historiador Ricardo Dotta avalia que as manifestações populares são reflexo de uma sociedade que, em parte, aumentou o potencial de consumo, porém que ainda existe parcela que vive em situação de miséria e violência. “Parte da sociedade está atenta a essa realidade que resulta em momentos como esse, de maior sensibilização quanto a mobilização popular”, disse.

Para o especialista, novos protestos podem acontecer após a Copa do Mundo. “Ainda não é possível afirmar com precisão os reflexos futuros das manifestações. Haverá uma disputa eleitoral em curso e novas ações podem acontecer”, analisou.

REPÚDIO AOS POLÍTICOS
O término da Copa do Mundo, em 13 de julho, vai praticamente coincidir com o início da campanha eleitoral, autorizada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Os candidatos a cargos eletivos permanecem atentos a ação dos manifestantes para afinar o discurso voltado a quem repudia a atuação dos políticos.

Detentores de cargos públicos também passaram a ser alvos da revolta popular, descontente com casos recorrentes de corrupção que vêm à tona. Por conta disso, o movimento contra a classe política pode ultrapassar o calendário eleitoral e seguir adiante, até o começo do ano que vem.

Os sintomas, entretanto, não são novos. O reflexo dessa questão resultou, em 2010, em número recorde de abstenções na eleição. O eleitorado do Grande ABC registrou o maior caso entre os últimos quatro pleitos. Foram 274.971 votos que deixaram de ser depositados nas urnas, equivalente a 14,23% das cerca de 1,93 milhão de pessoas cadastradas nos cartórios da região.
 




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