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Vítima revela diferenças entre alemaos e croatas no nazismo
Do Diário do Grande ABC
05/05/1999 | 14:18
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A diferença entre campos de concentraçao alemaes e croatas estava no método de extermínio, revelou nesta quarta-feira um antigo prisioneiro, num testemunho contra o último comandante sobrevivente da era nazista.

``Os massacres alemaes eram industrializados, a Ustasha (o equivalente croata das tropas alemas SS) matava com as maos', disse Josip Erlih, 71 anos, ao contar os horrores que viveu no mais notório campo de concentraçao da Croácia, Jasenovac. Eles usavam ``machados, facas, martelos, ferraduras e instrumentos de jardinagem', disse Erlih.

Erlih, que vive na Iugoslávia, foi convocado para prestar testemunho no tribunal croata que julga Dinko Sakic, diretor de Jasenovac por nove meses em 1944. Sakic, 77, é julgado por crimes de guerra contra a humanidade e, se condenado, pode receber uma sentença máxima de 20 anos de prisao.

Erlih tinha 14 anos quando foi levado com outros judeus da cidade de Nasice pelas tropas da Ustasha em 1942, em obediência às leis raciais estabelecidas pelo ditador Ante Pavelic. A Croácia se tornara uma país nazista satélite da Alemanha. Os judeus foram levados em vagoes para Jasenovac e outros campos no país ou para a Alemanha.

Ele ficou primeiro em Stara Gradiska, um bloco separado de Jasenovac para mulheres e crianças. Ele se lembra de ``choro, lamentaçoes e suspiros' e de ``paradas de mulheres cantando um adeus em seu caminho para a morte certa'.

Em 1943, Erlih foi transferido para Jasenovac, para trabalhar como pedreiro perto de um incinerador. O forte cheiro que pairava no ar o levou a acreditar que as tropas da Ustasha cremavam algumas de suas vítimas. As condiçoes de vida eram ``terríveis', disse Erlih, ao relembrar as cenas de ``fogo e fumaça subindo aos céus'. Segundo ele, ``a qualidade da água era péssima. Tirada do rio Sava, sem tratamento, com o mau cheiro de lama e cadáveres', disse ele. Lembrou-se também de momentos em que foi posto em correntes e dos rumores de ``canibalismo' que circulavam entre os prisioneiros.

Erlih acusou Sakic de matar pessoalmente diversos internos diante dos prisioneiros do campo, um método para intimidar e amedrontar. ``Milhares de pessoas foram executadas', disse ele. ``Mas quando matam diante de seus olhos, é uma visao terrível'.

Certa ocasiao, disse ele, Sakic ordenou que duas vítimas, Leon Perera e Avram Montilj, se ajoelhassem. Ele entao tirou sua pistola e atirou a sangue frio, primeiro na nuca e depois numa das têmporas. Em outra, matou o doutor Milo Boskovic, levado num grupo diante de Sakic, condenado pelo regime à morte por enforcamento. Erlih disse que Boskovic pediu para nao morrer sem honra - pelo enforcamento, porque ``um montenegrino olha a morte nos olhos'. Sakic acedeu e o matou com um tiro na cabeça.

Historiadores acreditam que cerca de dois mil internos morreram durante o reinado de terror de Sakic. Dezenas de milhares de sérvios, judeus, ciganos e croatas antifascistas foram mortos em Jasenovac no período de 1941 a 1945.




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